Viver é um ato contínuo de amar

O modo de viver virtuoso envolve, necessariamente, dar o melhor de si para se sentir realizado quanto ao seu propósito. Cada ser humano, portanto, se comporta como detentor de qualidades únicas, imbuído de uma natureza eterna que lhe conduz para o caminho da realização. Contanto, para alcançar o seu objetivo fundamental, precisa ver a si como uma consciência coletiva, inserida em um contexto social, ativa quanto aos seus deveres sociais e comunitários.

Neste sentido, move-se em favor de realizar o bem para si, conscientizando-se que, em meio a esse processo, o seu ideal de vida perpassa, necessariamente, pelo do seu semelhante. Aquilo que lhe oferece a genuína felicidade, portanto, não deve ser voltado para um fim meramente egoísta. Convence-se que o seu sonhar só se torna suficientemente forte quando carrega ao lado pessoas dispostas a juntas compartilhar um sonho em comum. O bom viver envolve reconhecer que a felicidade não deve ser buscada longe de si, mas deve seguir o caminho em direção ao interior, mergulhando no âmago do ser com o objetivo de encontrar as respostas em si para uma melhor caminhada.

O ser humano anda com o seu próximo, lado a lado, e a conquista obtida por uma das partes, reflete-se na outra. O ganho que um tem, soma-se com o do seu semelhante. Qualquer iniciativa que isole o ser humano, recolhendo-o na sua concha, impede-o de encontrar o seu verdadeiro significado da vida. Perde de vista que o viver é um ato contínuo de amar. O amor puxa o homem para além de si e o faz percorrer um caminho novo que lhe leva ao encontro do outro. Depara-se, à sua frente, com um universo infindo de possibilidades, o qual se vê tentado a desnudar com o ímpeto de descobri-lo por inteiro. Vasculha cada uma das suas partes, sacode-o de baixo para cima, revira-o para os lados, até o momento que se convence que aquilo que procura está para além daquilo que se vê, mas está situado no espaço intocável do ser, o qual poderá apenas ser sentido. E, para participar do ato, convoca o ser digno da sua atenção para que se expresse. Interrompe as suas iniciativas, diminui o tom da sua voz e cede o seu lugar ao outro, à espera que o responda ao seu próprio ritmo.

E nesse espaço do dito e do não dito, capta a sua essência e permite que se torne aquilo que se é: um ser eterno que imortaliza a sua singular canção da felicidade ao descortinar a vida.


Saulo de Oliva

Médico, especializado em Psiquiatria. Psicólogo.

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