Eu sabia, mas só agora compreendi que são nas pequenas coisas que estão o nosso tesouro e que somente na paz poderemos encontrar o nosso ouro. Dizem que somente valorizamos as coisas quando as perdemos. De fato, infelizmente e de maneira geral, é somente na dimensão da falta que percebemos e entendemos o quanto aquilo era tão caro para nós. Às vezes penso que ainda não compreendemos a essência da vida.
Empreender, estabelecer objetivos, ter sonhos e desejos, bater metas são a motivação e a mola propulsora para a realização de nossas aspirações e isto é saudável. Contudo, estar sempre insatisfeito com o que foi conquistado, buscando novos triunfos sem uma pausa para usufruir destas conquistas, é como alucinar na miragem do deserto, sentindo fome e sede existencial enquanto se contempla o oásis do que ainda não se tem. É um viver de enganos.
Sabemos que a vida é feita de riscos e de inúmeras adaptações que sedimentadas nos tornam mais fortes e resilientes. E como o equilíbrio se encontra no caminho do meio, gostaria de abordar o outro lado da moeda sem fazer nenhuma apologia a acomodações ou zonas de conforto. A questão é que estamos sempre buscando mais. E mais. Porque? Parece que temos o prazer em decretar uma guerra interna conosco e sem pausas para recreio. É como se sentíssemos falta de algo que tantas vezes não sabemos identificar, dai a importância de uma psicoterapia. Chega um momento em que precisamos dar um tempo a nós mesmos, precisamos de uma pausa para refletirmos acerca dos nossos comportamentos e insatisfações.
Por que nunca estamos satisfeitos com as nossas aquisições, com os nossos progressos? Corroboro, não estou fazendo referência a nenhuma acomodação. Certamente, é importante buscarmos novos horizontes, tecer novas histórias, rebuscar novos argumentos e significações para nossas vivências obsoletas e para nossa evolução.
O sentimento de insatisfação precede as nossas buscas, as nossas conquistas, o alvorecer de novos horizontes. A insatisfação é mobilizadora de mudanças e progresso, mas tantas vezes esquecemos de alimentar as nossas raízes na seiva consistente das relações, no enraizar de situações gratificantes e verdadeiras, ao invés da ânsia devastadora do buscar incessante de novos arranjos em nossas vidas, salvo quando algo está muito desgastado, deteriorado ou que nos cause pesar, dor ou falta de sentido e perspectiva. Indubitavelmente estamos nos configurando cada vez mais frenéticos, imediatistas e descartáveis, nos esquecendo que a felicidade está no aqui e no agora, habita dentro de nós e não precisa de tanto para reconhecer o quanto “temos”, mas que pouco usufruímos.
Bem sei que a insatisfação é a companheira inseparável da humanidade. Sendo assim, gostaria de fazer uma apologia às pequenas coisas e à paz em nossos corações. Por que não dar uma oportunidade à paz de espirito ao ver um por do sol no fim de uma tarde colorida? Por que não tirar um momento somente seu para uma meditação, uma técnica de respiração ou uma caminhada relaxante? Que tal abraçar teus companheiros de luta, de jornada, aqueles que sabem teus defeitos e virtudes e mesmo assim te amam? Que tal valorizar o sorriso de uma criança, um olhar de amor de um animalzinho? Por que não abraçar de peito e alma o que a vida te oferta hoje, agora, neste presente momento?
Vamos dar uma chance à nossa paz interior. Não deixe para usufruir de suas conquistas amanha, não as valorize somente quando perde-las. Desperte para a vida. Algumas vezes, é melhor catar conchas coloridas ao som das águas do mar que tentar pescar aquela estrela inalcançável.