O outro como objeto

 dipendenza-affettiva

As pessoas sofrem porque o afeto pelo outro chega a tornar-se compulsivo a ponto de se tornar uma relação tóxica com o outro.

 

Há os casos em que a pessoa passa por um tratamento de dependência química, seja ambulatorial, grupo de autoajuda (AA, Pastoral da Sobriedade, Amor Exigente, NA) ou acolhimento voluntário que se mantém sóbria, mas os familiares continuam doentes.

A co-dependência é tão grave quanto a dependência. As pessoas sofrem porque o afeto pelo outro chega a tornar-se compulsivo a ponto de se tornar uma relação tóxica com o outro. É comum os próprios familiares, por falta de conhecimento, serem fatores de risco para recaída do dependente. Por excesso de zelo ou pela questão do cuidar.

O codependente é dependente do dependente. E também compulsivo no cuidado. Se para o toxicômano o que importa é o objeto de prazer, o codependente tem no outro a mesma relação objetal, o outro torna-se um objeto e o prazer está no ato do “cuidar”.

Neste caso é importante o acompanhamento profissional da família, bem como a frequência nos grupos de autoajuda. O lema é se tratar para cuidar de si e do outro.

Se preparar para receber de volta o familiar em regime de internação é condição primordial para o sucesso no tratamento, tanto do dependente quanto do co-dependente. Este acompanhamento deve ser proposto pela própria equipe multidisciplinar que acompanhou a evolução no tratamento do dependente.

A família deve ser entendida como peça chave para o sucesso ou fracasso na recuperação do indivíduo, por isso, encaminhamentos como frequência nos grupos de mútua ajuda, acompanhamento psicossocial e médico são necessários para que as pessoas que convivem com a situação de dependência, direta e indiretamente, possam compreender como lidar com a doença.

Reconhecer que existe a dependência química em casa, apesar de ser mais comum do que parece, não é fácil. É preciso uma auto-avaliação e enfrentar, de frente o problema. Não basta admitir, como a maioria dos grupos de 12 passos indica, é preciso assumir que é doente e buscar ajuda. Não há fórmula pronta e enfrentar o preconceito, seja em casa ou na sociedade, é o primeiro passo para a recuperação, que é longa, árdua, mas eficaz.

Geralmente, os familiares são os primeiros a reconhecer que um deles abusa ou é dependente, e quando busca ajuda descobre, enfim, que está, seja no AA ou Grupo da Sobriedade, por eles mesmos.  Reconhecem, com o tempo, que também precisam de ajuda.


Roney Moraes

Psicanalista; Especialista em Saúde Mental e Dependência Química; Mestre em Filosofia da Religião; Doutor em Psicologia (Dr.h.c); Doutorando em Psicanálise (Phd); Analista Didata da Escola Freudiana de Vitória (Acap); Ex-presidente e membro da Associação Psicanalítica do Estado do Espírito Santo (Apees); Coordenador do Centro Reviver de Estudos e Pesquisas sobre Álcool e outras Drogas (Crepad); Membro da Academia Cachoeirense de Letras (ACL).

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