Somos o que fazemos quando a última porta fecha atrás de nós

A felicidade é uma condição que todo o ser humano, sem exceção, visa alcançar. É bem verdade que a palavra “felicidade”, com o passar do tempo, distanciou-se do seu sentido original. Contanto, podemos recorrer à etimologia da mesma e verificar que advém do adjetivo latino felix que significa “fecundo, fértil” ou poderá assumir na derivação do protoindoeuropeu o significado “amamentar”.

A origem da palavra não deixa dúvidas que a felicidade é uma experiência generosa que envolve dar o melhor de si para o outro. Não precisa ir longe para para perceber que a bondade e o desejo de auxílio ao próximo tornam o mundo um local melhor e mais digno de se viver.

Infelizmente, muitos distorcem o real sentido de ser feliz e apelam para a satisfação dos seus desejos egoístas na expectativa de se sentirem melhores. Contudo, a verdade é que, satisfazendo apenas a si mesmos, tornam-se pequenos, vazios e incompletos.

O ser humano, ao tomar para si o desejo de querer ser feliz a qualquer custo, não percebe, portanto, que a felicidade vem como subproduto da condição humana. Em outras palavras, o homem não se faz feliz por sua procura incessante pela felicidade, mas o homem se faz feliz sendo homem.

O próprio estado natural do ser humano o leva a ocupar um lugar único no universo. O desafio que carrega, por toda uma vida, é, por fim, reconhecer-se como um ser virtuoso, valoroso e sábio. Para que se realize sendo aquilo que ele é, o homem precisará querer algo mais do que passar por um bosque e ver apenas lenha para a sua fogueira, como nos disse Tolstoi. Ele deverá querer, antes de tudo, conquistar a felicidade pelo outro e não por meio do outro, como nos fala Emmanuel Levinas.

Para alcançar o seu estado essencial de ser humano, precisará tomar o outro não como meio para que consiga algo, porém precisará vê-lo como fim – com o intuito de querer ajudá-lo. Precisará parar de se perguntar para que serve as coisas do Universo e começar a perguntar a si: “Como posso servir ao Universo?”

Somos o que fazemos quando a última porta fecha atrás de nós. Quando isso acontecer, valerá a pena recordar o conselho de Confúcio:

“A melhor maneira de ser feliz é contribuir para a felicidade dos outros.”


Saulo de Oliva

Médico, especializado em Psiquiatria. Psicólogo.

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