O lutador e a filosofia das artes marciais

A filosofia das artes marciais apareceu na minha vida quando eu tinha 5 anos de idade. Posso dizer que tive o pai que todos queriam ter. Era um grande homem, um pai de família exemplar, livre e de bons costumes. Nunca o vi embriagado. Alias, sequer o vi um dia usando um calção ou sem camisa. Era um homem estudado, culto, um grande espiritualista e no dia do seu velório algumas das pessoas mais inteligentes que conheci na vida me disseram “Teu pai era o cara, o homem mais sábio e inteligente que já vi”.

Pois bem, por influência do meu genitor, Sr. Wanderlan Franzen, as lutas entraram em minha vida. Além de tudo o que postei acima, ele era faixa preta de Judô (3º DAN) e de Karatê Shotokan (2º DAN). Comecei no Karatê e posteriormente um pouco de Judô, Taekwondo (onde cheguei ao 3º DAN), mas minha maior alegria marcial foi encontrar o Estilo Asamco de Arte Marcial, através do SGA Roberto Nochang Carneiro. Hoje tenho orgulho de ser instrutor nesse estilo nos módulos Hapkidô, Tang Soo Dô e Kickboxing e de estar ativo em uma das organizações mais bem estruturadas do mundo em termos de didática e conteúdo.

Mas por que estou dizendo isso? Porque hoje eu quero falar sobre a filosofia das artes marciais. As lutas não são apenas ataques de socos, projeções, torções, lutas com armas, etc. É acima de tudo disciplina, amor, honra, fidelidade, força espiritual.

Quando comecei nas lutas, eu era apenas uma criança que não aguentava mais apanhar dos coleguinhas. Apesar de resolver muitos problemas no recreio e na saída, aquele menino brigão, cheio de manias e impulsivo, foi controlado no dia em que pisei em um tatame pela primeira vez.

Nosso corpo é uma criação perfeita do Grande Arquiteto do Universo, Deus. Ali, fluem energias visíveis e invisíveis, em uma combinação que se reflete em todos os campos de nossa existência, seja ela física, mental e espiritual. No instinto, no anímico e no intelecto.

Ao entrar no tatame, aprendi que aquele que teme perder, já está vencido. Aprendi que a arte marcial, como poesia, alivia a alma, irradia como a luz do dia, renova as forças e faz do chão o começo de uma vitória. Que usar a arte marcial fora da academia não é brigar ou reagir a algum assalto. É se tornar capaz de vencer batalhas sem mover um dedo, vencer guerras sem derramar uma gota de suor e o mais importante de tudo, solucionar os mais enigmáticos problemas pessoais antes mesmo que eles pensem em surgir. Porque a humildade, o constante aperfeiçoamento e a aplicabilidade filosófica são de fato a chave para a evolução das nossas habilidades.

Um lutador sabe, antes de tudo, que é preciso lembrar que diamantes são pedaços de carvão que se saíram bem sob pressão. Por isso, treinar sempre. A faixa é o símbolo desta evolução. Ela começa branca e vai até se tornar preta. O artista marcial preenche essa faixa com sua obra, com suas ações, com seus exemplos. Até estar completa.

Respeito. Hierarquia. Disciplina. Mas acima de tudo um lutador é amor. E ele vai enfrentar o que for preciso para que realize aquilo que faz o seu coração vibrar. Não por si. Mas porque é certo. Porque o instrutor marcial mostra isso pelo exemplo e ao ensinar, o verdadeiro professor enxerga o aluno no futuro sendo maior e melhor que ele. Inclusive na capacidade de ser bom e amar. Isso é ser mestre.

Um lutador, de fato, procura lutar pela felicidade do próximo, do gênero humano, mesmo que isso não represente, necessariamente, sua satisfação pessoal. Porque na arte marcial nos fortalecemos e aprendemos a suportar o insuportável e defender com honra os valores humanos e morais.

Existe uma grande diferença entre briga e luta. Um lutador não faz trash talk, não provoca brigas e dificilmente um dia lutará apenas por lutar. Há uma causa e isso sempre é maior do que ele mesmo ou suas aspirações. Porque felicidade é uma satisfação solitária.

Em síntese, agradeço ao Altíssimo por me colocar nesse caminho. Por todos os mestres, senseis, colegas e alunos. Por mim. Pelas artes marciais. Pela vida.

 


Diego Franzen

Jornalista e Escritor, nascido na cidade de Cruz Alta RS e residindo em Bento Gonçalves RS. É autor dos livros "Tempora Hostem", um romance policial e esotérico ambientado na Serra Gaúcha e de "Lendas Urbanas de Cruz Alta", uma coletânea de fatos pitorescos ocorridos em sua cidade natal. Atualmente trabalha no romance "A Pedra Oculta", que é ambientado no Rio Grande do Sul no período da Revolução Federalista.

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