Como podemos melhorar o mundo?

A nossa consciência não é individual, é coletiva. O meu sofrimento é o mesmo que de todos os outros, de modo que o que chamo de minha consciência é a consciência da humanidade.
Nada temos de individual, mas crescemos acreditando que somos indivíduos, justamente para sustentar as ideias de separação, de que existem seres humanos superiores e inferiores, melhores e piores e toda essa baboseira que inventaram e nós acreditamos. Acreditamos, assim como os que vieram antes de nós também acreditaram e, se não vermos que é assim que é agora, os que virão, vão perpetuar todas essas mentiras.
A ideia de separação, de que existe alguém melhor e alguém pior, que existe um estado melhor a se alcançar, um modo de vida melhor, e assim por diante, essa ideia (que é só uma, mas que parecem várias), é a causa de todo o conflito entre nós.
Quase tudo, no reino humano, foi criado pelo pensamento.
Toda a forma de conhecimento, da filosofia à medicina foi criada pelo pensamento humano. Todas as relações que experimentamos também são criadas pelo pensamento. Como já foi dito inúmeras vezes, nos relacionamos com a imagem que fazemos do outro. Assim, o pensamento é extremamente importante para nós. No entanto, sabemos, o pensamento é limitado, justamente porque é baseado em construções e condicionamentos, gerando sempre divisão, conflito.
Por que perpetuamos essas ilusões? Podemos nos livrar delas?
Seria possível nos descondicionarmos? Nunca nos olhamos, nunca nos perguntamos se podemos nos livrar desses hábitos como fazemos com tantos outros. Ao contrário, usamos o fato de estarmos envelhecendo como justificativa para mantê-los. Dizemos para nós mesmos que já que vamos morrer mesmo, um pouco mais de prazer, não fará mal.
O desejo de experimentarmos algo fora do comum, de alcançar algo que nos fará mais feliz. De viver uma vida extraordinária, de ser reconhecido, especial, importante, admirado, único, de ter experiências espirituais profundas, visões, esses são alguns exemplos dos motivos para perpetuamos as ilusões.
A crise não está no mundo lá fora, a crise está na nossa consciência, nos nossos pensamentos, conceitos, ideais, crenças. Está nos nossos problemas, prazeres, nos nossos planos de futuro, no que pensamos sobre tudo, ou seja, no conteúdo da nossa consciência.
Esse é conteúdo da consciência de qualquer ser humano, em qualquer parte do mundo. Assim, a nossa consciência é comum a toda a humanidade.
A meditação é a única saída.
A meditação é a capacidade de uso total do cérebro, sem divisões. O cérebro age por inteiro, não está mais condicionado a agir parcialmente. A meditação não é um método, um sistema, para alcançar algo. É o descondicionamento, sem opiniões, sem conflito, sem divisão. É a ação completa.
Meditação é diferente de concentração. Na concentração, focalizamos a mente em determinado objeto, é um esforço do pensamento. A meditação é atenção plena. A observação é em si mesma ação.
Essa atenção ao que acontece no conteúdo da nossa consciência é ação, pois assim que percebo o quanto de histórias estou inventando, percebo o quanto dessas histórias preciso sustentar para manter as emoções, sensações, medos, prazeres, cesso a cadeia de conflito, a cadeia de pensamentos que está sempre baseada na memória, nas histórias que contei pra mim mesmo, no passado.
Entender tudo isso traz ordem.
Deneli Rodriguez.


Deneli Rodriguez

Pensadora, escritora e artista. Menção honrosa Itaú Cultural com seu texto "A Menina Iluminada". Concorrente aos prêmios Oceanos e Kindle de literatura. Livros: A Menina Iluminada e A Buda. Filmes: Charlote SP, primeiro longa metragem brasileiro filmado com celular, dirigido por Frank Mora; e Deneli, curta metragem vencedor de prêmios internacionais dirigido por Dácio Pinheiro.

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