Relações: impermanência e aprendizado

Construa todas as suas estradas no hoje, pois o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o destino tem o costume de cair em meio ao vão…

Então você, após vários relacionamentos acabados decidiu trilhar o caminho sozinho. Ou digamos que ainda persista, vai em busca, mas sempre volta com as mãos cheias de frustração, esperanças corroídas e outra decepção na conta. Há também, mais raro, quem notou a sutil mensagem que a vida nos dá. Chame de vida, de universo, de Deus, o nome realmente não vai importar se a sua percepção estiver aberta e aguçada.

Constantemente estamos livres para perceber as lições intrínsecas a tudo que vemos, fazemos ou sentimos. Cabe a você notar.

Sempre atraímos para perto de nós, quem compartilha da nossa mesma frequência mental. Se você odeia seu trabalho, pois ainda não encontrou seu rumo profissional — que é parte do seu eu — certamente trará para si alguém assim. Se o seu problema é com carência afetiva, atenção, sensação de vazio…não tente preencher com a presença de outra pessoa. Inconscientemente se aproximará de alguém com um vazio tão grande ou maior que o seu. Foram apenas alguns exemplos.

E isto se repetirá diversas vezes. Mas até quando? Até que você seja capaz de se libertar deste ciclo, se tornando consciente dele primeiro. Sabendo que ele existe, você pode buscar entender as razões de por quê surgiu, e o mais importante, o porquê de ter permanecido e retirado o brilho de muitas relações que você achava serem eternas.

Eterno mesmo é o seu aprendizado perante a estas relações.

Aí vem aquele papo bastante clichê de que você tem que ser inteiro antes de se relacionar. A bem da verdade é que você está livre para se relacionar o quanto e quando quiser. No entanto, só terá algo essencialmente maduro e verdadeiro quando for capaz de entender o seu próprio mundo. E esta etapa eu digo, é impossível de pular. O caminho até aí te torna sábio.

Aliás, tudo na sua vida vai começar a andar adiante quando a sua própria realidade for autocompreendida. Já escrevi anteriormente sobre autoconhecimento, pode ajudá-lo a entender o que digo aqui.

O primeiro de tudo é uma questão de conceito. Uma relação não deveria ser encarada como um substantivo. “Relacionamento” dá a ideia de se estar em uma situação de vida já descrita e previsível. Algo já alcançado e portanto, sem necessidade de maiores esforços.

O “relacionar-se” traz para nós algo impermanente, mas constante.

Dia após dia o sol nasce novamente, a vida recomeça, tudo se renova. O mesmo ocorre ao relacionar-se. No budismo existe a famigerada lei da impermanência, a qual nos diz que tudo é mutável, tudo vem tão rapidamente como vai embora. Não há espaço para o apego, pois a companhia pode — e deve — estar livre para ir embora a hora que a gentileza e o sentimento não estiverem mais sendo servidos.

Relações maduras não precisam de rótulos para assegurar seus pares de que na semana, no mês, no ano seguintes ainda haverá união. O futuro não existe. É duro dizer, mas é logicamente impossível ancorar no futuro uma relação que está acontecendo agora.

O seu futuro, e consequentemente da sua relação, é simplesmente constituído das suas atitudes, gentilezas, carinho e amizade existentes hoje. Nada mágico irá acontecer no meio do caminho para que a âncora que jogou seja real. Portanto o laço e o sentimento devem ser fortalecidos diariamente, baseados em uma nova conquista todos os dias, a qual acrescentará sempre mais um dia na sua relação.

Pois como descreveu Veronica Shoffstall, baseada no poema de William Shakespeare:

Plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.


Vinícius Vicenzi Bett

Estudante de engenharia | hiperfoco: psicologia e comportamento humano | mente lógica que ama física e cálculo, mas conectada a arte, livros e boa música.

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