Sentimos ciúmes por acharmos que aqueles que gostamos, gostam mais de outros do que de nós.
Incomodamo-nos com não sermos o alvo das preferências daqueles que gostamos e queremos manter a posição de destaque na vida daquela pessoa. Acontece que todos nós temos nossas preferências alteradas, nem sempre estamos alinhados com as preferências daqueles que gostamos.
Ver o outro preferindo a companhia de outra pessoa e não a nossa, nos causa dor e sofrimento, nos faz fazer uma análise de onde erramos, de porque fomos substituídos. Imaginamos que fizemos algo que não agradou, que o outro nunca gostou da gente, que falhamos de alguma maneira.
A questão é: por que nos incomodamos com as escolhas dos outros? Ou melhor, por que a escolha do outro faz com que nos sintamos menosprezados?
O ciúme é querermos sempre ser a primeira e melhor opção na vida de outra pessoa. Essa necessidade seria menor ou ausente se entendêssemos que muitas vezes o gostar do outro não se altera por ele ter optado em estar com outras pessoas ao invés de nós. Em outras vezes, percebemos que deixamos de ter afinidades com aquela pessoa que tínhamos porque nós mudamos.
Não podemos (nem precisamos) ter sempre as mesmas preferências. As experiências, o trabalho interior, os gostos e aversões se alteram com frequência e compreendermos isso é a chave da liberdade.
Em determinada fase da vida, podemos ter um grupo com o qual nos identificamos muito e partilhamos das mesmas preferências; em outra fase, esse mesmo grupo pode mudar suas afinidades, ou porque as pessoas do grupo mudaram, ou porque nós mudamos, interiormente; e, ocorrer um afastamento natural, por perda de afinidades mesmo.
Quantas pessoas que tivemos afinidades e gostamos muito deixaram de fazer parte da nossa vida?
O natural da vida é que ela se transforme. Vivenciamos situações novas o tempo todo que nos fazem alterar nossas ideias, gostos e preferências. Assim também é com o outro. Exigir que o outro sempre se identifique com nós e nos priorize, não faz o menor sentido quando sabemos disso.
Deveríamos também nos desobrigar de mantermos sempre as mesmas preferências, e assim, sempre partilharmos do mesmo círculo de amizades. Ou de gostarmos sempre do mesmo tipo de pessoa. A vida é uma experiência transformadora para todos. Aceitemos que o outro mude de círculo sem nos magoarmos por não fazermos mais parte dele. Nem o outro, nem nós, fizemos nada de errado, apenas mudamos de gostos, de trabalho, de horários, de hábitos; mudamos de cidade, de status de relacionamento, de idade, de disposição.
Tem também a questão do querer. Em todos os casos, o querer tem que ser suficiente. Se outro não quer sua companhia, aceite que ele prefira outra, sem espernear ou se magoar por isso. Se você não tem mais a mesma afinidade com as pessoas que costumava ter, veja isso como algo natural e se dê a liberdade de estar com outras pessoas.
Aqueles que tiverem um sentimento verdadeiro um pelo outro, não vão deixar de gostar um do outro porque as preferências se alteraram. Vão ver e torcer de longe pela felicidade da pessoa que já fez parte mais intimamente de suas vidas. Vão se alegrar com as suas escolhas, de vê-las vivendo felizes.
Como a vida se altera o tempo todo, algumas dessas pessoas poderão naturalmente voltar ao seu círculo. Serão bem vindas e amadas do mesmo jeito, como já eram quando estavam distantes. Deixemos as pessoas que amamos fazerem suas escolhas e sejamos livres para fazermos as nossas.
O que não dá é exigirmos do outro que sejamos sempre os escolhidos, nem de mantermos nós mesmos sempre as mesmas escolhas. Deixemos de nos enciumar ao ver as pessoas que gostamos com outras pessoas que elas gostam; deixemos de colocar o outro em “provas de amor” e de submetê-lo a uma sabatina para entendermos o porquê de o outro ter escolhido como escolheu.
Deixemos de questionar às pessoas os motivos das quais as levam a fazer as escolhas que fazem, e, aceitemos que o querer tem que ser o suficiente.
Se você não quer estar com alguém, não esteja. Não se force a estar com quem não quer para agradar ou manter alguém por perto. Não exija isso também do outro. Se você tiver que convencer alguém a estar com você, estará agindo contra o querer do outro. Não exija que o outro queira te incluir em tudo ou tenha que provar o tempo todo que gosta de você.
Respeitemos o querer das pessoas que gostamos. Gostar de verdade é deixar o outro escolher estar com quem e onde quiser, ainda que não seja com você.
Quando agimos assim, nos permitimos também a sermos livres nas nossas escolhas. Exigir que o outro nos prove o tempo todo que gosta de nós, nos escolhendo sempre, é o mesmo de tornarmos fixo o impermanente. Ainda que o outro te escolha como companhia por muito tempo, não existe a garantia de que será para sempre. Provavelmente não será.
E convenhamos: nada mais feliz do que sermos escolhidos sem precisarmos exigir isso do outro.
Deneli Rodriguez.
05.03.2017.