Uma questão de vida ou morte

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“É precisamente a partir do momento em que o sujeito morre que ele se torna, para os outros, um signo eterno, e os suicidas mais que os outros”, Lacan.

 

Por iniciativa da Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio, em 10 de Setembro, o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio é incentivado em parceria com a Organização Mundial de Saúde (OMS).

 

O chamado “Setembro Amarelo” é uma campanha de conscientização com o objetivo de alertar a sociedade sobre o problema que representa a maior causa de morte prematura evitável e pedir aos governos que desenvolvam estratégias de prevenção.

 

Quem é capaz de tirar a própria vida? Respondendo a pergunta é comum utilizarmos a biologia e o cientificismo para criar um perfil comportamental sobre o sujeito que comete suicídio. Porém, a resposta pode tomar outros rumos… O da psicanálise.

 

A existência de uma pulsão de morte, tanto no campo do sujeito quanto no campo da cultura, é apresentada por Freud na psicanálise. Isto tem efeitos formuladores de hipóteses sobre o suicídio. Portanto, há sinalizadores que permitem pensar o ato de tirar a própria vida como um fator também de saúde pública.

 

O livro “Suicídio e os desafios para a psicologia” traz uma questão intrigante sobre o tema. Há um paradoxo entre as definições sobre as causas do ato suicida. Numa pesquisa referencial da obra, ela afirma categoricamente que “cerca de 90 % dos casos e 40% das tentativas de suicídio estão associados a transtornos mentais, principalmente depressão e abuso de substâncias psicoativas.

 

Os números nunca mentem, mas nesse caso se enganaram. Os fatores determinantes do suicídio são múltiplos e de interação complexa. Afirmar que mais de 90% dos casos de suicídio concretizados estão relacionados aos transtornos mentais, à depressão e ao abuso de substâncias psicoativas é, na realidade, minimizar a amplitude do problema.

 

Não teriam tais fatores (depressão e abuso de drogas) também determinantes múltiplos e de interação complexa?

 

Como em qualquer conflito psíquico, no caso do suicida, há um duelo entre a vontade de matar o corpo e a sobrevivência.

 

Freud diz que as autorecriminações são transferidas de um “objeto” amado para o eu. A retirada dessas autopunições é pilar na reflexão psicanalítica acerca da melancolia e para a construção de considerações sobre o suicídio.

 

Na verdade, persiste uma batalha entre as pulsões (de vida e morte). Este é, segundo o escritor Albert Camus, quando questiona se a vida vale ou não a pena ser vivida, “o único e maior problema filosófico que existe”.


Roney Moraes

Psicanalista; Especialista em Saúde Mental e Dependência Química; Mestre em Filosofia da Religião; Doutor em Psicologia (Dr.h.c); Doutorando em Psicanálise (Phd); Analista Didata da Escola Freudiana de Vitória (Acap); Ex-presidente e membro da Associação Psicanalítica do Estado do Espírito Santo (Apees); Coordenador do Centro Reviver de Estudos e Pesquisas sobre Álcool e outras Drogas (Crepad); Membro da Academia Cachoeirense de Letras (ACL).

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