CONTÁGIO – EPIDEMIA MORTAL

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Há mais ou menos um ano atrás (quando me roubaram o dia de hoje) assisti ao filme Contágio – epidemia mortal com o Arnold Schwarzenegger e fiquei espantosamente encantado. Eu pensei a princípio: um filme sobre zumbis (que eu inexplicavelmente amo) + Arnold Schwarzenegger = muita morte mesmo, sangue, sangue e mais sangue. Ledo engano. O filme é antes de tudo um tratado sobre a paternidade. “Prometi para sua mãe que eu iria proteger você.”. Ele diz numa cena do filme. Enredo: após um apocalipse zumbi, por assim dizer, a humanidade está se recuperando em escala global dessa “epidemia mortal”. Contudo, ainda restam alguns poucos infectados e a filha do Schwarzenegger é um deles. Ela é uma adolescente contaminada por um zumbi, mas sua transformação estética e psíquica demora seis meses para se completar. Os familiares são autorizados pelo governo a levarem os infectados para casa para passarem com eles os últimos dias até certo estágio no qual eles devem ser entregues a quarentena e ao extermínio. Ai é que está, você entregaria sua filha? Eu também não e muito menos o Arnold. O que fazemos com os doentes terminais que amamos? Nós cuidamos deles até o fim. O filme também é uma metáfora para um pai que decide cuidar da filha doente até a morte, embora seja ultra-perigoso para ele e para todos está na companhia de um ser humano que se transformará num monstro assassino em breve.

A cena final é emocionante e inesquecível (atenção spoilers inevitáveis): depois de algumas crises violentas a filha do Schwarzenegger está quase se transformando. Ele despachou a mulher e a outra filha para um lugar seguro e decidiu ficar cuidando dela até o fim quando então ele acabaria com o seu sofrimento. Então, ele municia uma arma de calibre grosso, senta-se numa poltrona na sala e espera. Está quase amanhecendo, sua filha desce as escadas transtornada, já toda deformada, ziquezagueando a cabeça como um zumbi, salivando de fome e se aproxima dele… Ele segura a arma com força, mas logo solta. Ela chega o rosto bem próximo ao dele, fissurada. Ele está de olhos fechados fingindo que está dormindo e chora. Naquele momento ele desiste de si mesmo e deixa que sua filha decida seu destino. Ele prefere morrer a matá-la. Ela aproxima os dentes dele e percebe-se que o último traço de humanidade que há nela está numa luta interna psicológica terrível. Ela o cheira, arma os dentes (suspense) e recua lentamente; sobe as escadas, supera o parapeito da janela do segundo andar da casa e se joga, suicidando-se. Ela prefere morrer a machucar e matar o seu pai. Eu achei terrivelmente lindo, pois na hora entendi a essência do amor recíproco de ambos. Um se sacrificou pelo outro. Um estava disposto a dar tudo pelo outro e faziam isso por amor. Um amor absoluto e puro.

Eu não compreendi as críticas ácidas ao filme. Assim como eu imagino que os cinéfilos esperavam balas, zumbis sanguinários e muita violência e ao invés disso encontraram uma delicada história de amor entre pai e filha. Quando tudo está perdido ainda resta o amor. O amor ágape, o amor maior que existe, o amor de Jesus que se sacrificou para salvar a humanidade. Num mundo mercenário e medíocre a lição de bondade e respeito de Contágio é de uma sensibilidade salvadora, inspiradora e imortal. O amor incondicional de um homem honrado e justo pela sua filha doente vale mais que tudo.


Thiago Castilho

Advogado e escritor, um homem de leis e letras. Acredito que a arte pode “ensinar a viver”. Ensinar a viver significa ensinar a lutar pelos seus direitos e a amar melhor a si e a toda humanidade. Adquirir o conhecimento e transformá-lo em sabedoria de vida no palimpsesto do pensamento. Eis meu ideal intelectual que busca realizar a experiência do autoconhecimento, não sei até se do absoluto e talvez do Sublime aplacando assim minha angústia existencial, sem soteriologia, porque ao contrário de Heidegger não acho que somos seres-para-a-morte, mas seres-para-a-vida e seres-para-o-amor.

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