A ansiedade foi um mecanismo importante para a evolução. Se não houvéssemos nos preocupado com nossos predadores e outros perigos, não teríamos tomado medidas de preservação da espécie. “O processo biológico de luta ou fuga do estresse permanece. A mente cria fantasias: uma ameaça fictícia é capaz de desencadear toda a bioquímica do estresse”, diz o psicólogo e psicanalista Rubens de Aguiar Maciel, coordenador da Clínica de Redução do Estresse da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP), que ensina técnicas de meditação de atenção plena (mindfulness) a pessoas com problemas de saúde relacionados ao estresse.
A prática consiste basicamente em tentar focar a atenção no momento presente e observar pensamentos e sensações que transitam na mente. “A mente ansiosa é uma mistura do mecanismo ‘sempre alerta’ que adquirimos durante a evolução e de pensamento catastrófico. A meditação permite olhar para dentro e reconhecer ‘o lado negro da força’: medo, raiva e demais emoções que devem ser trabalhadas. E isso incomoda”, explica Maciel.
A prática compreende, por exemplo, a conscientização dos movimentos respiratórios:
Inspirar e expirar o ar lentamente induz ao relaxamento e à introspeção, o que tem impacto imediato sobre sintomas físicos da ansiedade. As relações biológicas entre sistema respiratório e crises de ansiedade são pesquisadas por pelo psiquiatra Antônio Egídio Nardi e seus colegas no Laboratório de Pânico e Respiração da UFRJ.
Os ataques de pânico têm sintomas comuns à síndrome de hiperventilação (aumento da frequência e quantidade de ar que chega aos pulmões quando respiramos rápida e profundamente): palpitações, tremores, sensação de desmaio. Assim, a hiperventilação é capaz de desencadear a parte “automática” de um ataque. O excesso de ar ventilando nos pulmões reduz as concentrações de gás carbônico (CO2) no sangue alterando o equilíbrio ácido-base do sistema nervoso central, o que desencadeia os sintomas cardiorrespiratórios.
Assim, explica Nardi, as técnicas respiratórias são capazes de re-estabilizar o pH sanguíneo e bloquear o automatismo da crise. Além disso, “mantêm o pensamento ‘longe’ do foco de ansiedade, ajudando a relaxar”, diz.
Tanto é que uma das estratégias da terapia de exposição interoceptiva (que consiste em aumentar a conscientização das variações físicas que ocorrem no próprio corpo) para transtorno de pânico é provocar a hiperventilação. Com orientação do terapeuta, o paciente aprende a reconhecer que os sintomas físicos do distúrbio podem ser administráveis.