A sociedade líquido-moderna sob a ótica de Zygmunt Bauman

Zygmunt Bauman, sociólogo e filósofo polonês, defendia que vivemos em uma sociedade líquido-moderna, caracterizada por mudanças rápidas, incertezas constantes e vínculos frágeis. A modernidade líquida apresenta como traço marcante o incentivo ao consumismo desenfreado. Fundamenta-se a partir de moldes capitalistas e, de acordo com a lógica econômica vigente, os objetos consumidos perdem a sua utilidade em um período curto de tempo e são apressadamente substituídos por outros mais novos.

Deste modo, o ser humano nutre a expectativa íntima de satisfazer permanentemente os seus desejos com a nova aquisição material, contudo se decepciona ao perceber que o seu objetivo nunca é alcançado, tendo em vista a renovação constante pela qual se processa a sua vontade interior. O modo de agir que, inicialmente, visa o suprimento de uma necessidade instantânea acaba por se transformar em uma compulsão ou um vício de caráter.

O dinamismo econômico presenciado na sociedade atual está provocando, inclusive, impactos negativos nas interrelações humanas. Bauman referia que a fluidez está presente nos relacionamentos de hoje devido a falta de consistência dos vínculos formados e as bases de amorosidade pouco sólidas. Nota-se que a união afetiva, para alguns, assemelha-se a um dado objeto que pode ser trocado facilmente e a qualquer instante.

O comportamento contínuo de substituir um objeto por outro evidencia, na realidade, o excesso de medo que o indivíduo carrega consigo de modo inconsciente. A insegurança enfrentada na resolução de problemas no século atual, as decepções e frustrações experienciadas no decorrer da trajetória e as dúvidas referentes ao próprio valor são fatores que motivam algumas pessoas a desejarem ter um maior controle sobre a sua vida. Com o objetivo de preencherem esta lacuna, muitos recorrem ao consumismo graças à falsa sensação de poder e de aparente segurança experimentada. Contudo, decorrido algum tempo, percebe-se que não traz a verdadeira fonte de felicidade e paz de espírito.

Conclui-se, portanto, que a serenidade e o convívio harmônico consigo mesmo não será encontrado fora do ser humano, no entanto, o estado pacífico que busca será descoberto dentro de si. O sentimento de paz, amor e bem-estar nunca estiveram distantes do homem, contudo sempre andaram junto com ele, lado a lado, guardado no seu coração. É necessário não se perder de vista quem nós somos, afinal, como nos exorta o filósofo Friedrich Nietzsche:

“Nunca é alto o preço a pagar pelo privilégio de pertencer a si mesmo.”


Saulo de Oliva

Médico, especializado em Psiquiatria. Psicólogo.

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