DO AMOR, DA LIBERDADE

 Segundo Platão “O amor deriva da admiração.”. É por isso que apesar de sentirmos uma atração passageira por determinadas pessoas não somos capazes de amá-las, porque a maioria delas configura o que se chama de “um rostinho bonito e nada mais.” Para o médico Flávio Gikovate “O amor é um sentimento que temos por uma pessoa muito especial…” Nessa citação da Adélia Prado flagramos a descrição de um “amor maduro”, ou seja, ético, gentil e seguro. Um amor imaturo se baseia na posse e no controle (ou tentativa de ambos). O amor maduro se fundamenta no cuidado e no companheirismo.

O principal princípio do Direito é o “Princípio da dignidade da pessoa humana”. E não existe dignidade humana sem liberdade individual. Quando dou ao outro a “liberdade dele existir ao meu lado do jeito que ele é” provo a profundidade do meu afeto. Afinal, se eu realmente amo uma pessoa, seja um cônjuge ou um filho, a minha principal pretensão deve ser que ela seja feliz. E não existe felicidade sem sinceridade, liberdade e respeito. Mas, mais certo do que isso é o fato de que ninguém precisa do consentimento de ninguém para ser livre. Esse é um direito fundamental garantido por lei. Assim, se a sua liberdade individual está sendo ameaçada ou lesada e, portanto, sua dignidade está sendo reduzida ou destruída não tenha dúvida: não há amor nisso. E diante da má-fé alheia e se suportamos abusos reiterados convém cortar o vínculo pela raiz. Afinal, é impossível fugir da fórmula: liberdade = dignidade = felicidade = amor.

Outra coisa, já que eu comecei a falar de amor e o tema sempre me inflama. Como dizia Drummond “A falta que ama.”. Se bem que o amor é um vício. Eu conheço pelo menos duas escritoras de peso no meu facebook que quando estão solteiras escrevem sobre o amor e quando estão comprometidas escrevem mais ainda. Então, é mal de escritor. A ausência inspira, a presença excita. O amor é inescapável como a morte. (Que frase, é minha! Como dizia Machado de Assis ironicamente “É minha!” frase que todo homem apaixonado adora dizer e toda mulher apaixonada adora ouvir: “É minha!”). Não é?

Enfim, o que eu estava dizendo? Ah, sim, falávamos sobre carambolas… Então, segundo o Flávio Gikovate, um dos maiores especialistas em amor de todos os tempos, uma das grandes tragédias do amor contemporâneo é o facebook, por assim dizer. O amor tornou-se uma vitrine. Que vulgar! Sinceramente, eu fico entediado só de pensar numa “relação reality show”, ou seja, cujos holofotes estão voltados para o público e não para esfera íntima do casal. Na minha humilde opinião, amor é privacidade e não exibicionismo. Eu amo meus familiares e amigos, mas não vivo para agradá-los. Não sou jogador de futebol. Não quero uma mulher troféu para exibir. Eu quero uma companheira carinhosa e confiável. Não acredito em opostos, mas em amor recíproco, afinidades intelectuais e morais e projeto de vida em comum. O resto dá ruim! Só Jesus!

Naturalmente cada um tem um critério de valor. O amor é uma escolha pessoal. Mas uma coisa é certa: o amor para ser bem-sucedido e vitalício precisa cultivar a arte da amizade. Assim, as partes respeitam a individualidade uma da outra e se completam.

“Me encante com uma certa calma, sem pressa. Tente entender a minha alma.” Pablo Neruda


Thiago Castilho

Advogado e escritor, um homem de leis e letras. Acredito que a arte pode “ensinar a viver”. Ensinar a viver significa ensinar a lutar pelos seus direitos e a amar melhor a si e a toda humanidade. Adquirir o conhecimento e transformá-lo em sabedoria de vida no palimpsesto do pensamento. Eis meu ideal intelectual que busca realizar a experiência do autoconhecimento, não sei até se do absoluto e talvez do Sublime aplacando assim minha angústia existencial, sem soteriologia, porque ao contrário de Heidegger não acho que somos seres-para-a-morte, mas seres-para-a-vida e seres-para-o-amor.

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