Três titãs do conhecimento

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“Se eu não for por mim quem o será? Mas se eu for só por mim o que serei eu? E se não agora, quando?” Cortella

No triálogo erudito acima, cujos temas nucleares são a política, a ética e a filosofia podemos identificar três perspectivas distintas da arte de governar: a cristã (Cortella), a humanista (Karnal) e finalmente a secular (Pondé). Recomendamos para quem ama o conhecimento e a sabedoria, a política e a filosofia e, é claro, esses três mestres do universo, por assim dizer, o bonachão Cortella, o irônico Karnal e o niilista Pondé. Esse colóquio foi espetacular e o fluxo de idéias vertiginoso. O objetivo foi realizar uma discussão ampla sobre o livro “Verdades e mentiras, ética e democracia no Brasil” com o debate reflexivo de diversas questões contemporâneas, universais e atemporais da política brasileira e da sociedade humana como um todo. Em suma, pensar a política.  Afinal, o pensamento político amplia nossos horizontes cognitivos, afetivos e sociais.

O Pondé, que é quase sempre sadicamente sincero, numa metáfora político-filosófica brilhante levantada pelo Karnal desenvolveu a questão de estarmos presos numa “Gaiola de ouro”. Ou seja, a democracia talvez seja o melhor dos sistemas na ausência de outro melhor, mas suas imperfeições e absurdos se fazem sentir dramaticamente. Karnal interroga se a democracia não seria a mais astuta das ditaduras uma vez que ninguém poderia atacá-la sem ser considerado fascista, uma gaiola perfeita. Afinal, existe uma síndrome chamada “Síndrome da gaiola de ouro”. Traduzindo da psicologia para o popular: trata-se de vivenciarmos uma situação da qual reclamamos, mas não conseguimos nos desvencilhar, na qual entramos por livre e espontânea vontade, pois na ocasião oportuna pareceu ser uma boa idéia… mas eis que com o tempo o que pareceria ser a salvação da lavoura se torna uma prisão da qual a pessoa não consegue sair, com o pequeno detalhe de que ela mesma é o seu próprio carcereiro. Ou seja, ela não se liberta porque não quer seja por medo, insegurança, acomodação ou auto-sabotagem. Não é uma metáfora cirúrgica da relação que existe entre a política e o povo brasileiro? E você, conhece alguém preso numa gaiola de ouro? Ou pior, numa gaiola de papelão?

roraima

DAS ELEIÇÕES

Sobre as eleições do último divino domingo (dia 02 de outubro) aconteceu de tudo: Em São Paulo uma pessoa foi presa por quebrar uma urna eletrônica. Imagina o estado de nervos do sujeito? O que é isso, companheiro? É dor de cotovelo? A vida continua.

Em Roraima eleitores esperaram pela compra de votos na madrugada, mas a ação da policia frustrou as ambições pecuniárias de locupletamento de alguns eleitores. Uma eleitora declarou: “Essa eleição está sendo muito diferente. Até agora não apareceu ninguém e tudo foi calmo demais. Não comi nem um bombom com dinheiro de candidato nessa campanha. Muito triste isso”. Que melancolia madura!

Em Ipatinga (interior de Minas Gerais) quem não sabe nem falar direito não foi eleito. (Oportunismo é insustentável.) Como dizia um dos maiores humoristas americanos Groucho Marx: “Cavalheiros, ele pode parecer um idiota e falar como um idiota, mas não se deixem enganar: ele é um idiota.” É duro! Citando Groucho Marx de novo: “Podia ser pior, eu só não sei como.” Alguns candidatos dão belos varredores de rua.

De todas as notícias esdrúxulas e hilárias que fomos informados nessas eleições uma se imortaliza em nossa memória política e romântica: teve um candidato ai que só recebeu um voto, o dele próprio, até ai tudo bem porque devemos sempre nos lembrar do que nos ensinou o supremo Shakespeare “Ama-te a ti mesmo em primeiro lugar.” O problema é que ele era casado. Resultado: pediu o divórcio. Sem dó. Afinal, “amor é companheirismo” e isso é o que o crítico literário Dr. Samuel Johnson chamaria de “A traição do coração humano.” Como dizia Harold Bloom “Quem é desprovido de humor fica indignado”. Mas nós não. A mulher provavelmente concluiu que se ele não era um bom marido (se fosse ela teria votado nele. Ninguém seria tão ordinária assim ou seria?) não seria um bom vereador e então não votou. Talvez esse infeliz pudesse perdoar uma traição sexual, mas não eleitoral. Algumas pessoas levam muito a sério a política. Ela está enraizada em seus inconscientes e constituem suas mais íntimas e caras utopias.

“Nem papoula, nem mandrágora,

Nem todas as porções dormideiras do mundo

Jamais vos induzirão àquele tranqüilo sono

Que tivestes ontem” Otelo, Shakespeare (Para Bloom o inventor de nosso eu interior profundo em perpétua mutação e incessante crescimento.)

O primeiro pensamento que nos vem a mente está quase sempre contaminado pelo lugar comum. Por isso é preciso depurá-lo e depurá-lo até que toda areia escoe e só reste o ouro na tela. A política não é o problema. A política é a solução. Os políticos são o problema. Eis a questão. Que seiva suja é essa que envenena o espírito do cidadão? Chega de depravação! Mais amor e ética, por favor. “Somos todos irmãos!” Drummond

É preciso ser Hamlet nessas horas: entreouvir-se para mudar. Segundo Harold Bloom Shakespeare é o centro do Cânone Ocidental porque seus personagens estão sempre se entreouvindo e mudando. “A consciência introspectiva, livre para contemplar-se a si mesma, continua sendo a mais elitista de todas as imagens ocidentais.” Elitista aqui não se refere a privilégios de uma classe, mas ao simples fato de que “pensar é para poucos”. Você só pode mudar se pensar. Por isso é tão difícil para a maioria das pessoas, o que é uma pena. Essa ideia serve para renovar não apenas projetos políticos, mas existenciais além de familiares e sociais. Vida é mudança, movimento e milagre.

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MUDA BRASIL! É MOMENTO DE AUTOCRÍTICA! EM DOIS ANOS TEM MAIS! MAIS VOTAÇÃO, MAIS POLÍTICA E MAIS DEMOCRACIA?

Se a política é na prática o jogo do exercício do poder e jamais o jogo do bem comum como afirma Karnal é preciso fazer uma autocrítica feroz ao invés de nos matarmos em defesa de um partido. Chega dessa carnificina gratuita. Sejamos maduros e elegantes. Ora, uma ideologia não pode substituir o eu. Sempre que tentamos substituir algo insubstituível o resultado será infalivelmente a frustração. Não se pode substituir projeto de vida pessoal por projeto político público embora se possa conciliar os dois, não se esquecendo evidentemente de qual é o mais importante. Só quem não tem vida pessoal, carreira e família para cuidar coloca o coletivo em primeiro lugar, afinal elas não têm nada melhor para fazer e o que deveria ser um braço da sua vida, uma parte, se torna o todo e o principal e são justamente essas pessoas que menos contribuem para o bem comum, pois em geral são as que têm menos a oferecer do ponto de vista intelectual e moral. Sem ética e cultura como poderiam contribuir para a elevação da cidadania?

O problema, é claro, não é a pessoa fazer parte de um partido político, é não se emancipar. Segundo Cortella “A ação política se dá em parceria com outras pessoas, mas não necessariamente em concordância com outras pessoas.” Assim, não é necessário eliminar o convívio nem mesmo o conflito inevitável entre nossas diferenças, mas estabelecer limites claros e invioláveis de interação baseados no respeito, na ética, na discrição, no cada um cuida da sua vida porque é inadmissível para um ser humano adulto viver e agir como um adolescente em bando, ou seja, desprovido de identidade individual e vulnerável a opinião pessoal dos outros. Lembrem-se: podemos expor nossas ideias, mas não impor nossa vontade. A liberdade de escolha pessoal é o nosso direito mais precioso. Afinal, “A política é a ciência da liberdade.” Proudhon. E a liberdade é essencial para felicidade, segundo Aristóteles, a finalidade da vida humana.


Thiago Castilho

Advogado e escritor, um homem de leis e letras. Acredito que a arte pode “ensinar a viver”. Ensinar a viver significa ensinar a lutar pelos seus direitos e a amar melhor a si e a toda humanidade. Adquirir o conhecimento e transformá-lo em sabedoria de vida no palimpsesto do pensamento. Eis meu ideal intelectual que busca realizar a experiência do autoconhecimento, não sei até se do absoluto e talvez do Sublime aplacando assim minha angústia existencial, sem soteriologia, porque ao contrário de Heidegger não acho que somos seres-para-a-morte, mas seres-para-a-vida e seres-para-o-amor.

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