Médicos ensinam teste que identifica um AVC

Pesquisa revela que de cada dez brasileiros, nove não têm nenhum tipo de informação sobre a doença que mais mata no país. Por isso, aprender a identificar o AVC a tempo pode salvar uma vida.

Minutos que podem salvar. Uma pequena artéria do cérebro entupiu ou se rompeu. Enquanto os médicos correm para tentar abrir caminho na circulação sanguínea, milhares de frágeis neurônios estão morrendo, literalmente, sufocados pela falta de oxigênio. É o temido Acidente Vascular Cerebral (AVC). No ano passado, a cena se repetiu 168 mil vezes no Brasil. Trinta mil pessoas não sobreviveram.

Não há tempo a perder. Tensão nos corredores da emergência do Hospital de Clínicas de Ribeirão Preto. A tomografia fica pronta em minutos. Na sala dos exames, a primeira surpresa: a situação é grave. Aos 74 anos de idade, não é o primeiro AVC da mãe do porteiro José Luiz Gonçalves.

“Existem pelo menos três infartos prévios. E ela fez outro infarto no cerebelo. O AVC é um infarto cerebral. É a mesma coisa que acontece com um infarto do coração. No infarto existe uma obstrução, um entupimento da artéria coronária no coração. No AVC, existe um entupimento de uma artéria cerebral. Ou seja, um AVC também pode ser chamado de infarto cerebral. E ela nem sabia”, conta o neurologista Octávio Marques Neto, da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto.

Nem ela e nem o médico dela. José Luiz lembra da mãe reclamando de tonturas e de dor de cabeça e também do que ouviu quando esteve no consultório. “Havia uma suspeita de labirintite. O médico falou isso e passou um remédio. Não sabíamos como acontece um AVC”, conta.

A surpresa de José Luiz foi a mesma do doutor Octávio Marques Neto ao concluir uma pesquisa reveladora: de cada dez brasileiros, nove não têm nenhum tipo de informação sobre a doença que mais mata no país. Por isso, aprender a identificar o AVC a tempo pode salvar uma vida.

“Primeiro, pedimos para a pessoa dar um sorriso e verificamos que um lado da boca não está mexendo. O segundo teste é pedir para o paciente levantar os dois braços. A queda de um braço é sinal de alerta de um AVC. O terceiro teste é pedir para o paciente falar uma frase simples. Sugerimos ‘o Brasil é o país do futebol’. Se a pessoa tiver dificuldade para pronunciar essa frase ou não conseguir entender o comando, é sinal de alerta de um AVC”, explica o neurologista.

E o socorro é uma corrida contra o tempo. Em um AVC, os neurônios só agüentam quatro horas antes de começarem a morrer. Em Porto Alegre, o bancário Ricardo Leffa teve sorte. “Eu estava sentado e levantei. Senti a primeira tontura e caí de novo sentado. Quando eu levantei para ver se eu estava bem, fui até a pia e não consegui botar o copo em cima dela. O copo quebrou”, lembra.

AVC aos 29 anos de idade. A extensa área afetada no cérebro era o prenúncio de seqüelas irreversíveis. Fala comprometida? Movimentos limitados? Como seria a vida de Ricardo dali para frente? Sem querer, a mais pura sorte pôs o bancário no caminho de uma pesquisa inovadora. No hospital para onde ele foi, trabalhava o neurocientista Maurício Friedrich, da PUC do Rio Grande do Sul. O médico lidera uma equipe que investiga: o que aconteceria se fossem injetadas células-tronco em uma região do cérebro atingida pelo AVC? Ricardo conseguiu uma vaga no grupo de 20 voluntários que se submeteram à experiência.

Normalmente, de 50% a 70% das pessoas que têm AVC não sobrevivem. Mas metade das pessoas tratadas com células-tronco pela equipe do doutor Maurício Friedrich apresentaram uma inexplicável melhora de 100%.

Imagens feitas na semana em que Ricardo teve o AVC mostram fala comprometida e capacidade de escrever perdida. Três anos depois, ele brinca com o filho em casa. O que devolveu Ricardo à vida normal depois de ter quase um quarto do cérebro comprometido pela falta de oxigênio? Nem o pesquisador sabe ao certo o que aconteceu.

“Não é possível dizer que esse resultado está diretamente ligado ao tratamento com células-tronco. Nós só podemos dizer que observamos esse resultado, e que esse resultado em geral não se observa”, diz Maurício Friedrich.

A equipe de cientistas tenta agora decifrar que poder oculto nas células-tronco pode ter possibilitado a recuperação de Ricardo. Ele continua a ser observado pelo médico, que avisa: apesar do aparente milagre, a ciência ainda não está nem perto de transformar as células-tronco em remédio contra o AVC.

“Ou seja, existe um longo caminho entre o início dessas pesquisas e o resultado prático da população que tenha um real benefício, que é o que nós esperamos”, diz Maurício Friedrich.

A medicina já sabe: o melhor tratamento para o AVC ainda é a prevenção. Menos estresse, controle da pressão sanguínea, exercícios e uma vida longe do cigarro. Tudo isso ajuda. Mas existem outras doenças do cérebro que vêm sem aviso.

Fonte: G1


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