É com imenso orgulho que dou início a esse texto… Primeiramente porque falarei de um brasileiro, mas principalmente porque o cientista em questão é um professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), faculdade esta que muito contribui para a formação dos fundadores desse site.
Mas, sem mais delongas, vamos falar de Cesar Victora, de 65 anos, que está entre os sete cientistas que receberam na terça-feira, 28, a mais importante premiação científica do Canadá, o Prêmio Gairdner.
O epidemiologista é o primeiro brasileiro a receber esse reconhecimento de tão elevada importância para a medicina.
“A gente só sabe que uma descoberta científica foi importante anos depois, porque o que mais importa não é só descobrir alguma coisa, mas, sim, como isso vai mudar a vida das pessoas“, afirma em entrevista à Revista Galileu.
O trabalho que conduziu o pesquisador gaúcho a receber o título foi o conjunto de estudos sobre amamentação e nutrição materno-infantil. Cesar, liderou uma pesquisa, iniciada na década de 1980, considerada um divisor de águas na área de alimentação infantil.
Sua pesquisa foi a primeira a mostrar que a amamentação somente com leite materno, ou seja, sem oferta de águas ou chás para bebês, até os seis meses de idade, ajudava a reduzir a morte dos bebês no primeiro período da vida.
De acordo com seu estudo, o aleitamento exclusivo até seis meses reduzia em 14 vezes o risco de morte por diarreia e em 3,6 vezes o risco de morte infantil por doenças respiratórias.
Essa recomendação fez com que houvesse uma imensa mudança de hábitos mundo afora, e então foi adotada pela Organização Mundial da Saúde e pela Unicef.
Em entrevista com a Revista Galileu, Cesar respondeu algumas perguntas, uma delas foi essa:
O estudo conseguiu mudar hábitos muito profundos. O que foi determinante para o sucesso do estudo?
O principal determinante foi que, depois que saiu o meu estudo, outros estudos chegaram aos mesmos resultados. Na ciência, não basta ter um estudo. A ideia daquele estudo tem que ser confirmada ou rejeitada por outros estudos. No meu caso, publiquei o artigo em 1987 e foi confirmado por vários outros estudos. E aí o que realmente influenciou foi que a Organização Mundial da Saúde e a Unicef passaram a recomendar em todo o mundo o aleitamento exclusivo. Quando essas organizações recomendaram, os governos dos países adotaram, então hoje a grande maioria do mundo adota essa recomendação.
A OMS e a Unicef passaram a recomendar em todo o mundo o aleitamento exclusivo até os seis meses. Hoje a grande maioria dos países adota a recomendação. É por isso que leva décadas para a verdadeira influência de um estudo ser confirmada.
Seus estudos foram realmente colaborativos, seu reconhecimento foi merecido, e ganhadores desse título são considerados como potenciais candidatos à indicação para o Prêmio Nobel.
Referências
– Estadão