DESERTO DE NÉVOA

Acima: cena do filme Fim de Caso
Acima: cena do filme Fim de Caso

Numa noite dessas, sonhei que tinha morrido e, dentro da minha morte – enquanto eu estava perdido e caminhando num deserto de névoa sombria e espessa – uma voz grave me perguntou: “O que é o mais importante, Thiago?”. Era como se esse sonho sinistro tentasse me ensinar a viver antes de morrer. Ou seja, responder a pergunta: o que é o mais importante? E, a partir dela, construir a minha vida. Cada um dará uma resposta diferente, é claro, pois todos se fundamentarão em seus próprios princípios e projetos. Para mim o mais importante é o amor, a liberdade e a justiça. O que passou, passou. Sempre podemos recomeçar e viver nossa vida em paz com privacidade e plenitude. Podemos escrever nossa história e ser feliz. É um direito nosso. Agora eu te pergunto: o que é o mais importante? Do que você sente mais falta agora? O que faz seu coração disparar como um cavalo numa corrida? Em suma: quem você ama? O que você quer? O que te faz feliz? Isso é o mais importante, sem dúvida. E cabe a cada um responder.

Muitas vezes, na vida, as pessoas mais próximas têm dificuldades em aprovar nossas escolhas. Porém a única aprovação que precisamos é a nossa. Sempre siga sua consciência e seu coração. Defenda seus direitos e cuide de seus interesses. Como disse Shinyashiki “Viver com autonomia é produzir a seiva da própria vida.”. Temos o direito de viver nossa vida em paz com quem nosso coração elegeu. Se for preciso desafie os padrões sociais, amigos e família para viver seu amor e ser feliz como merece. Tome o controle da sua vida e viva com simplicidade e serenidade. (Quando amamos não temos escolha, exceto amar.) É a dança do destino nos convidando! O bom-senso é o segredo da paz. Cada um deve cuidar da própria vida. Temos que ter muito cuidado para em nosso desejo de ajudar e proteger não terminarmos por prejudicar permanentemente aqueles que amamos. Não temos o direito de intervir indevidamente na vida dos outros.

"A vida é curta para não amar." Thiago Castilho
“A vida é curta para não amar.” Thiago Castilho

Segundo o médico Flávio Gikovate, numa livre interpretação minha do seu pensamento, existem três critérios contundentes para se avaliar o valor de uma pessoa: CARÁTER, CORAÇÃO E CÉREBRO. O caráter diz respeito aos nossos princípios éticos e valores morais, ou seja, se somos justos, honestos e bondosos. O coração diz respeito as nossas diretrizes afetivas e emocionais, por assim dizer, isto é, se somos carinhosos, companheiros e confiáveis. Já o cérebro diz respeito a nossa capacidade intelectual, traduzindo, se somos inteligentes, cultos e sensíveis. Esse conjunto complexo formaria uma pessoa promissora. É claro, ninguém é perfeito. Todos têm problemas, mas problemas podem ser superados com tempo e engenho. E cabe a cada um superar seus próprios problemas. O velho e bom “Isso não é da sua conta.” resolve muitas questões de falta de respeito. Mas não basta falar. É preciso viver nossa vida sem medo, sem constrangimento e sem culpa. Quanto tempo de vida, amor e felicidade perdemos nos preocupando com o que os outros estão pensando? A vida é curta para não amar.

Agora supõe tu alguém que possua todas essas características do caráter, do coração e do cérebro, ou seja, alguém que seja justo, honesto, bondoso, carinhoso, companheiro, confiável, inteligente, culto e sensível, essa pessoa não lhe parece digna de amor? Por isso, não me parece difícil entender porque algumas pessoas apreciam a companhia de outras, uma vez que elas possuem esses predicados que lhes tornam preciosas. Certas escolhas, portanto não são exóticas, mas excelentes. Contudo, tudo é uma questão de ponto de vista. E é justo que cada um julgue segundo seus próprios critérios. Os meus são esses e tenho orgulho deles porque contrastam com os critérios superficiais e mesquinhos do mundo. Um mundo capitalista, sexista e extremamente egoísta. Não dá.

“O dinheiro compra quase tudo, menos as coisas mais importantes da vida, como o verdadeiro amor, saúde e felicidade.” Edith Nicz
“O dinheiro compra quase tudo, menos as coisas mais importantes da vida, como o verdadeiro amor, saúde e felicidade.” Edith Nicz

Eu sei, as pessoas próximas querem o melhor para nós, mas somente nós podemos decidir o que é melhor para nós porque nossas personalidades, valores e interesses são diferentes dos outros, por mais que os amemos. Não podemos admitir nenhuma espécie de autoritarismo. Somos os únicos responsáveis por nós perante a lei e perante a vida. Assim, me parece claro que não apenas não temos o direito de julgar as escolhas alheias como não temos faculdade para isso. Uma vez que a faculdade será desenvolvida por cada um de acordo com suas próprias preferências. Ou seja, minhas inclinações, aquilo que respeito, admiro e amo fundamentarão minha decisão e somente eu posso escolher o que é melhor para mim porque somente eu sei o que eu quero, respeito, admiro e amo no fundo do meu coração e nas profundezas da minha alma. Não é verdade, meu amor?

Em suma, o respeito ao direito de escolha pessoal do outro é fundamental para que possamos viver com igualdade, liberdade e fraternidade. Tenho certeza que no fundo desejamos a felicidade daqueles que amamos mais do que tudo, mais do que a nossa. Então, me parece simples decidir o que desejar para quem amamos. Basta lhe perguntar: O que você quer? Quem você ama? O que te faz feliz? E dizer: “Eu te desejo boa sorte”. Afinal, quem disse que não podemos simplesmente amar? Insisto: quando amamos não temos escolha, exceto amar. O amor é irresistível, supremo e imortal. Só existe uma razão para ficarmos com uma pessoa: amor. Todo o resto é abominação. Só o amor vale à pena. Só o amor nos salva dessa viciante vida virtual vazia e venenosa e nos conduz a Sabedoria do Amor e a Vida Real, uma obra de arte esculpida a quatro mãos.

O que é o mais importante? Um amor gentil. Um amor de diamante. A vida sem amor é um deserto de névoas. O verdadeiro amor tem o poder de ressuscitar das trevas da morte. Amém. Por isso, seja forte para viver seu amor com liberdade, orgulho e alegria crescente. Amor é cuidado, bondade, generosidade e compreensão. Respeite a escolha de quem ama. O amor é como a vida e a morte: algo intrinsecamente individual, sagrado e íntimo. Lembre-se: seu padrão pessoal de julgamento não é universal. Aceite a escolha daqueles que ama e vá cuidar da sua vida. Você não tem o direito de se opor. Seja como for, nunca é tarde para fazermos a coisa certa e nos redimirmos pelos excessos, agressões e injustiças do passado. O essencial é que sejamos humildes para reconhecer nossos erros, corrigi-los e reparar nossas relações humanas cheias de amor.

“O ódio é coisa de crianças. Se aprendermos a conviver um com o outro então podemos superar isso.” Os 33

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“Me ame quando eu menos merecer, pois é quando eu mais preciso.” Provérbio Chinês

Abaixo: trecho duma entrevista com a psicóloga Marisa de Abreu Alves sobre a síndrome de Romeu e Julieta:

“Comunicar à família, os amigos ou até mesmo os colegas de trabalho?

Psicóloga: Eu acredito que qualquer outra pessoa precisa pouca explicação ou talvez nenhuma. Um comunicado simples pode ser o necessário, sem justificar demais porque romperam ou porque voltaram. 

Há casos de julgamento pelos mais próximos?

Psicóloga: Quando o casal se sentir julgado pode ser assertivo e talvez deixar claro, se este for o pensamento, que não aceita os julgamentos e que a amizade não será afetada nem pelo rompimento nem pela volta de seu relacionamento.”


Thiago Castilho

Advogado e escritor, um homem de leis e letras. Acredito que a arte pode “ensinar a viver”. Ensinar a viver significa ensinar a lutar pelos seus direitos e a amar melhor a si e a toda humanidade. Adquirir o conhecimento e transformá-lo em sabedoria de vida no palimpsesto do pensamento. Eis meu ideal intelectual que busca realizar a experiência do autoconhecimento, não sei até se do absoluto e talvez do Sublime aplacando assim minha angústia existencial, sem soteriologia, porque ao contrário de Heidegger não acho que somos seres-para-a-morte, mas seres-para-a-vida e seres-para-o-amor.

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