“Apreciaríamos e desfrutaríamos melhor o presente se, nos dias de bem-estar e saúde, não deixássemos de refletir sobre como, durante a enfermidade ou a aflição, as lembranças das horas que decorreram sem dor e privação nos pareceram dignas de inveja — como um paraíso perdido, um amigo esquecido ao qual não demos o merecido valor. Porém, vivemos nossos bons dias sem percebê-los; só quando chegamos aos dias ruins desejamos recuperá-los. Deixamos passar mil horas alegres e agradáveis sem conceder-lhes um sorriso, e depois suspiramos por elas quando os tempos são sombrios. Em vez disso, deveríamos aproveitar cada momento presente que seja suportável, mesmo o mais corriqueiro, que deixamos passar com indiferença ou mesmo apressamos impacientemente. Deveríamos sempre ter em mente que tais momentos no mesmo instante estão se precipitando na apoteose do passado, onde a memória os preservará transfigurados e brilhantes com uma luz imortal, e representarão a nossos olhos o objeto de nossos anseios mais profundos quando, especialmente nas horas de infortúnio, a recordação vem a levantar o véu.”
— Arthur Schopenhauer, in Aforismos Para a Sabedoria de Vida, página 63.
[…]Daqui nasce a luta contra o tempo, para tentar roubar-lhe mais chances e ocasiões do que aquelas que o destino gostaria de nos conceder. Daqui brotam as infinitas artimanhas para economizar tempo recorrendo a telefones e aviões, para enriquecer o tempo escutando rádio enquanto andamos de carro. Para programar o tempo, recorrendo a agendas sofisticadas e a cursos de administração do tempo, ou para armazenar o tempo com secretárias eletrônicas e videogravadores.
Neste ponto é que o nosso cérebro corre o risco de entrar em parafuso. Depois de ter desencadeado a corrida contra o tempo, não consegue manter o passo e tenta se “virar em dois”: enquanto faz uma coisa, já está pensando na que vai fazer depois. ‘A vida é’ – dizia Oscar Wild – ‘o que acontece enquanto estamos pensando em outra coisa.’
Eternamente mordidos pelo bicho-carpinteiro da velocidade urbana, consumimos o luxo das raras pausas, sonhando ou perseguindo a tranquilidade perdida no mundo rural. Dentro de nós, o impulso à pressa se alterna com o impulso à calma, do mesmo modo que o nosso espírito nômade cede de vez em quando ao nosso espírito sedentário. Mas o ócio é uma arte e nem todos são artistas.”
Domenico de Masi. In: O Ócio Criativo
Ilustração de Andrew Wyeth.