Existem várias maneiras conhecidas de manter a saúde do cérebro como não fumar, manter-se dentro do peso ideal ou não desenvolver diabetes do tipo 2. Mas de fato existe algo para realmente melhorar o cérebro? Pesquisadores britânicos desenvolveram um teste para tentar descobrir. O teste foi feito em parceria com a Universidade de Newcastle, na Inglaterra, e foram recrutados 30 voluntários. Os mesmo foram submetidos a diversos exames que analisaram memória, habilidade de resolver questões e tempo de reação.
Todos receberam um medidor de atividade, um instrumento que mediu o quanto e quando eles se moviam. Depois, os voluntários foram divididos aleatoriamente em três grupos. Cada grupo recebeu uma atividade diferente que deveria ser feita durante oito semanas.
A tarefa para um dos grupos era simplesmente andar rapidamente, a ponto de ficar quase sem ar, durante três horas por semana. A ideia é que a caminhada ou qualquer forma de exercício vigoroso mantém o cérebro alimentado com sangue rico em oxigênio. No entanto, a tarefa não agradou a todos. “Caminhar é a atividade que eu menos gosto”, disse Ann, uma das participantes.
O segundo grupo teve que fazer jogos, como palavras cruzadas ou Sudoku, também por três horas por semana. A justificativa é que o cérebro se beneficia dos desafios.
Finalmente, o terceiro grupo teve que participar de uma aula de arte que também envolvia desenhar um modelo chamado Steve.
Quem se beneficiou mais?
Ao final do experimento, quase todos no primeiro grupo relataram uma grande melhoria em seu condicionamento físico – o quanto ficou fácil subir uma escada, por exemplo.
No segundo, os voluntários acharam os desafios difíceis no início, mas no final já estavam trocando dicas de Sudoku e de outros jogos envolvendo lógica.
Mas o grupo mais entusiasmado foi, sem dúvida, o de arte. Embora alguns tenham achado difícil assistir à aula uma vez por semana, todos eles comentaram sobre o quanto gostaram.
“Eu me tornei uma desenhista compulsiva de tudo”, disse Simone. “Eu até sai para comprar alguns lápis pastel e até mesmo um livro sobre como desenhar.”
Mas qual dos grupos teve mais melhorias em relação ao poder do cérebro?
Cientistas refizeram a bateria de testes cognitivos e os resultados foram bem claros. Todos os grupos tinham terminado a experiência um pouco melhor, mas o de maior destaque era o que tinha assistido à aula de arte. Mas por que ir a uma aula de arte pode fazer a diferença para coisas como a memória?
Novo aprendizado
O psicólogo clínico Daniel Collerton, um dos especialistas que participou do estudo, disse que parte do benefício veio de aprender uma nova habilidade. “Aprender algo novo”, diz, “envolve o cérebro de maneiras que parecem ser a chave. O seu cérebro muda em resposta a isso, não importa quantos anos você tenha”.
Aprender a desenhar não era apenas um novo desafio para o grupo, mas, ao contrário das palavras cruzadas e do Sudoku, também envolvia o desenvolvimento de habilidades psicomotoras. Capturar uma imagem no papel não é apenas intelectualmente exigente: envolve aprender a fazer os músculos na mão guiarem o lápis ou o pincel nas direções corretas. Um benefício adicional é que ir à aula de arte significava que durante três horas semanais eles tiveram que ficar em pé enquanto desenhavam ou pintavam.
Ficar de pé por longos períodos é uma boa maneira de queimar calorias e de manter o coração em boa forma. A aula de arte também foi a mais ativa socialmente, outra coisa importante a ser levada em conta para manter o cérebro afiado. Este grupo se reuniu constantemente fora das aulas e trocou e-mails.
Tudo isso fez com que o grupo da arte tivesse um benefício triplo. E uma das voluntárias, Lynn, disse que aprender a desenhar também havia produzido outros benefícios inesperados. “Parte do meu trabalho envolve escrever e propor ideias, o que é um processo difícil e demorado”, diz. “Eu sou disléxica, o que é um obstáculo adicional, mas, após fazer a aula de arte, descobri que a minha escrita agora flui e minha capacidade de concentração melhorou. Parece que abri minha mente. Não tenho certeza se consigo explicar, só sei que fez a diferença.”
O mais provável, segundo os pesquisadores, é que qualquer atividade de grupo que envolva ser ativo e aprender uma nova habilidade ajude a impulsionar o funcionamento do cérebro.