A reclusão causada pela pandemia de covid-19 foi um grande desafio para muita gente que sofreu tendo que ficar totalmente isolada em casa. Mas saiba que, no Japão, há milhares de jovens que vivem como eremitas modernos. Eles são chamados de hikikomori, e são encarados com preocupação pelo governo japonês.
Estima-se que mais de 500 mil pessoas (cerca de 1,6% da população japonesa) vive em uma situação de isolamento voluntário, sem sair de suas casas por anos e evitando todo tipo de contato social. Entretanto, especialistas acreditam que esse número possa ser muito maior.
O que significa hikikomori?
Este tipo de comportamento passou a chamar a atenção a partir dos anos 1990. O termo hikikomori (que deriva de hiki, “retirar”, e de komori, “estar dentro”) foi cunhado pela primeira vez pelo psicólogo Tamaki Saito, em um livro chamado Social Withdrawal – Adolescence Without End, publicado em 1998.
Basicamente, a palavra descreve um fenômeno sócio-cultural: o fato de que, no Japão (mas também em vários outros países, incluindo os ocidentais), cada vez mais pessoas têm buscado o isolamento físico e a falta de contato social, causando muito sofrimento psicológico.
Os hikikomori são pessoas que buscam um distanciamento extremo do mundo externo. Tentam não se relacionar com ninguém de nenhuma forma, e podem ter seríssimos problemas de auto-estima, evitando qualquer tipo de autocuidado. Muitos são também viciados em internet. No Japão, eles são encarados como um problema crescente da esfera da saúde mental.
Por que os hikikomori são tão numerosos no Japão?
Para entender porque estas pessoas são tão numerosas neste país, é preciso compreender alguns detalhes sobre a cultura local. O Japão é regido por normas sociais rígidas, altas expectativas por parte dos pais e por uma chamada “cultura da vergonha”, que faz com que os jovens que não cumprem os quesitos desejados se sintam extremamente inadequados.
Uma mudança gradativa para uma sociedade cada vez mais individualista também tem feito com que a solidariedade e o senso de coletividade diminuam. A cultura do trabalho em excesso, em que se espera que todos trabalhem até à exaustão, faz com que muitos jovens encarem esta situação com uma sensação de vazio. Eles se sentem tão inadequados que preferem ficar longe de tudo.
A fotógrafa vietnamita Maika Elan, que retratou os hikikomori, constata que o Japão opera numa contradição: é moderno, mas muito tradicional; movimentado, mas extremamente solitário. “Restaurantes e bares estão sempre cheios, mas se você prestar bastante atenção, a maioria está lotada de clientes comendo sozinhos”, contou para a National Geographic.
O problema representado pelos hikikomori causa tanta preocupação nos pais que até surgiu um serviço especializado para essas pessoas. Uma instituição chamada New Start fornece um trabalho (pelo custo de 8 mil dólares anuais) de contratação de “irmãos de aluguel”.
Estes irmãos (geralmente mulheres) funcionam como assistentes sociais que entram em contato regularmente com a pessoa reclusa — telefonando, mandando cartas, falando atrás da porta e, se tudo der certo, finalmente conseguindo interagir pessoalmente com um hikikomori.
Fontes
Via Megacurioso