Que tipo de determinismo nos conduzia a destinos tão paradoxais? Talvez não fosse mais a era dos navios encouraçados, mas as linhas invisíveis que nos conectavam ao ser infinito, tinham memórias maiores do que o silêncio abismal entre a terra e o céu estrelado.
Nas profundezas do mar escrevia projetos de restauro para todos os detalhados pedaços do navio que afundara. A história, presente naquelas paredes, cantava uma música revelando os segredos de sua destruição. Elas entendiam que o processo da vida era, como já dizia um filósofo espiritual; destruição e criação.
Despedaçou-se às margens, mesmo antes de afundar, quando, em um tom conhecido pelos covardes, que se olhavam no espelho sedentos de vida, terminou por afundar-se deliberadamente.
Porém, a música do mar conhece o dia, conhece o sol e, portanto, os processos mudavam, conforme o caminho nos estendia a mão para uma nova expedição. Evidentemente, a vida está cheia das expedições que não fazemos, mas tão raras as verdadeiras, que podemos concluir que não é para perdê-las que vivemos, não é para assisti-las se distanciando pouco a pouco da nossa realidade, querendo que ficassem.
Os enigmas, as metáforas, tornam-se, por fim, tentativas desesperadas de filtrar as impurezas do mar, que em um mundo tão controverso, não podem marcar ausência. Tornam-se convites ao sol, tornam-se válvulas de escape dos sentimentos que não cessam, do cansaço e da vontade de insistência ao lado da desistência, tornam-se escoadouro para as frustradas expectativas do mais, tornam-se em suma, uma maneira de ficar, de lembrar, e de dizer que a bússola e o relógio quebraram, e cá ainda estou sem saber até quando, navegando por mares frequentemente insuportáveis, longe demais do cais, perto demais do caos. Servem para dizer que é agora ou nunca mais, servem para mostrar que a permanência das coisas como estão, colidem com as imensas rochas no horizonte, e que aqui as opções estão escassas, uma vez que o vento está forte demais e a visão perdeu-se na névoa.