Estamos iniciando um novo ano no calendário judaico, o ano de 5779. Apesar da virada do ano judaico não ter implicações práticas, ela é sem dúvida um momento simbólico especial e importante, quando paramos para observar com mais lucidez a passagem do tempo, e nos permitimos refletir atentamente sobre a vida, sobre nossas relações, e renovar nossos desejos e comprometimentos para o ano seguinte. Sempre apreciei o fato de poder contar com uma dupla oportunidade de “reinício”, uma na virada do calendário judaico e outra na do calendário gregoriano. Assim como valorizo bastante o Rosh Hashaná, gosto muito do Réveillon, principalmente como marco de renovação. Com ou sem lista de resoluções, gosto da ideia de sonhos reeditados e daquele clima de festa e celebração. Algumas coisas realmente mudam com a nova agenda: durante boa parte da vida, passamos para uma nova série na escola, ganhamos novos colegas, novos professores, novos desafios, novos ares. Mas mesmo quando há poucas transformações do lado de fora, a sensação de recomeço desta época do ano parece ficar gravada no corpo. Pesquisei a etimologia da palavra Réveillon, e ela vem do francês, do verbo reveiller, que significa despertar. Achei brilhante este significado. Para mim, o início de um novo ciclo – seja ele qual for – traz essa noção de consciência, de estar um pouco mais desperta e atenta para uma nova etapa.
Mas como se não bastassem meus dois “Réveillons” – o judaico , Rosh Hashaná, literalmente “cabeça do ano”, por volta de Setembro ou Outubro e a comemoração em que se celebra o momento de término do “ano velho” e o início do “novo ano” gregoriano, há quatro anos passei a contar mais um início de um novo ciclo, ainda que este focado exclusivamente no aspecto profissional, sempre em julho, quando iniciamos um novo ano fiscal na empresa onde trabalho (alinhado ao calendário escolar americano). É o momento em que celebramos os resultados alcançados, e quando tudo parece mudar na organização, recebemos novas metas, novos desafios. A sensação de renovação é palpável nas comemorações, nos happy hours e pelos corredores. Quando ouvi pela primeira vez a saudação “Feliz Ano Novo” no início de uma reunião, retornando das férias em meados de julho, achei que envelheceria mais rápido com tantas voltas ao redor do Sol em tão pouco tempo. Mas hoje percebo que esses rituais de passagem – sejam eles de ordem religiosa, espiritual ou meramente prática – contribuem para me manter mais desperta, voltando à linda raiz da palavra Réveillon. Sinto que quanto mais vezes desligo o automático da vida para refletir sobre minhas ações, examinar onde acertei, onde ainda preciso evoluir, mais vou criando o hábito de fazê-lo.
Que a sabedoria de estar atenta à passagem do tempo, mais consciente de minhas relações e mais desperta para o momento presente possa se tornar mais e mais um ritual contínuo, independentemente de um calendário pré-estabelecido para validá-lo. E que eu possa praticar durante os 365 dias do ano, independente de quando este ano começa e de quando ele termina.
Por Shelly Zaclis Bronstein – Autoterapia