Torna-te quem tu és?

Torna-te quem tu és. Apesar de ainda não compreender todas as nuances desta célebre frase de Nietzsche, ela me cativa profundamente.  Parece algo que carregamos durante toda a nossa vida.  Passamos a infância e a adolescência correndo atrás daquilo que queremos ser.  Criando nosso espaço na família, na sociedade, aprendendo a conviver e amar os outros, estudando, assimilando um monte de coisas novas, sejam estas importantes ou nem tanto.  E também, respondendo mil, quatrocentas e cinquenta e oito vezes à eterna indagação de quem queremos ser.  Depois vem a juventude e passamos a efetivamente explorar e vivenciar as alternativas, as possibilidades, contemplar as bifurcações, buscando entender, aprofundar e afirmar quem de fato somos. E finalmente, já mais maduros, muitas vezes com a ajuda de psicanalistas ou terapeutas, começamos a desconstruir algumas das coisas que nos tornamos em algum momento, mas que não necessariamente somos em nossa essência.

Mas será que existe uma essência?  Vem Sartre,  alguns poucos anos depois de Nietzsche, e diz que não.  Não existe essência, apenas a existência!  Você não “é” necessariamente nada.  Não existe a tal madeira da qual somos feitos e que tanto buscamos trazer à tona através de diversas fontes do auto-conhecimento. Você e eu, humanos, apenas existimos, e é em nossa existência, em nossas ações de hoje, de amanhã e de depois de amanhã que vamos nos inventando, a cada momento, a cada minuto, a cada segundo. Não existe um self constante, diz um artigo pseudo-científico que li essa semana no Facebook! É engraçado como vem a neurociência, e com alguns estudos químicos e das estruturas moleculares do cérebro consegue lacrar aquilo que filósofos passaram séculos e séculos elucubrando.  Por falar na neurociência, outro dia quis me jogar da ponte ao ler que a paixão é simplesmente uma ativação intensa da amígdala e uma inibição do córtex pré-frontal – uma espécie de estado hipermotivacional de demência temporária.

Mas voltando ao tema do self, será que o mantra de Friedrich Nietzsche que tanto me sensibiliza é meramente um auto-engano?  Talvez sim, talvez não. Talvez seja algo ainda mais relevante nesse contexto de liberdade absoluta do eu. Algo que é contínuo, perene, que precisamos seguir buscando durante toda a nossa vida. Precisamos seguir nos tornando quem somos – ou a melhor versão possível de quem somos – a cada diferente etapa e momento de nossas vidas, dado que somos nós quem criamos nosso próprio caminho.

Shelly Zaclis Bronstein

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Shelly Zaclis Bronstein

Shelly Zaclis Bronstein escreve crônicas e poemas, é autora do livro Autoterapia e trabalha como executiva de marketing de uma grande multinacional na área de tecnologia. Mora em São Paulo, é casada e mãe orgulhosa do Felipe e da Camila.

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