Menos de 1% dos vegetais comestíveis são de fato consumidos

Será que todos os vegetais que não comemos são menos gostosos que broto de feijão? A pergunta é feita pelo professor de botânica John Warren, da Universidade Aberystwyth, no País de Gales, logo no início do livro The Nature of Crops: How We Came to Eat the Plants We Do (“A natureza da colheita: por que comemos as plantas que comemos”, em tradução livre), ainda sem edição no Brasil. Warren sempre ficou intrigado com a pouca variedade de vegetais que encontrava nas prateleiras do supermercado — das 300 mil espécies comestíveis de que se tem notícia, comemos apenas cerca de 200 (200 mesmo, não 200 mil) — e resolveu investigar por que foi que decidimos que salada boa é feita com alface e tomate, e não com dente-de-leão ou beldroega.

Não existe uma única resposta certa. Para se tornarem cultiváveis a fim de fazer parte da dieta dos homens, as plantas devem ter uma série de qualificações no currículo. Primeiro, precisam ser nutritivas. Depois, devem ser fáceis de armazenar. Ter grãos, sementes ou frutas que sobrevivem muito tempo longe do pé sempre ajuda. Um último diferencial é a personalidade (e o cheiro) forte: plantas perfumadas, as que combatem bactérias ou até as que são psicotrópicas sempre chamam atenção. Como se tudo isso não bastasse, as plantinhas que respeitam todos esses critérios ainda precisam dar detalhes constrangedores de sua vida sexual — é que a maioria das espécies é polinizada por insetos, o que significa que elas só florescem nas regiões povoadas por esses insetos. Já a maioria dos vegetais que consumimos é polinizada pelo vento, o que torna o processo muito mais fácil. E, por incrível que pareça, as plantas tóxicas não estão excluídas automaticamente: muitos vegetais que consumimos hoje são descendentes de plantas potencialmente letais.

Essas características todas, Warren faz questão de enfatizar, são “desejáveis, mas não obrigatórias”. Muitos dos nossos vegetais preferidos foram domesticados por milhares de anos a partir de ancestrais selvagens que eram virtualmente intragáveis. O tetravô da cenoura, por exemplo, era uma raiz contorcida, fina e fibrosa que em nada lembra a fofa cenourinha baby da Turma da Mônica. E agora, com o aquecimento global, é possível que sejamos obrigados a cultivar plantas que possam sobreviver com menos nutrientes do que aquelas atualmente associadas à agricultura intensiva moderna. Por tudo isso, argumenta Warren, hoje o que realmente nos separa de uma dieta mais diversificada é a nossa própria imaginação: “No futuro, iremos apreciar toda uma miríade de novas frutas e vegetais que são melhores para a saúde e menos prejudiciais para a natureza”.

Matéria encontrada na Revista Galileu


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