Somos todos Titi´s, somos todos negros

Há muitas definições para MACACO no dicionário. Pode ser um mamífero primata, pertencentes à subordem dos símios, que se alimentam de frutas e de sementes. Também pode ser no sentido figurado, onde é aquele que imita as ações dos outros. Já li macaco no tom de elogio, o que significa um ser sagaz, astucioso, fino. E, por fim, já ouvimos muitas vezes o “macaco” como objeto de ofensa, ou seja, um ser muito feio, de aspecto e formas desproporcionais.

Porém, além do mamífero primata que a gente aprende na escola e conhece no zoológico, há outra intenção por trás dessa palavra, algo antigo, triste, frio e absolutamente inadmissível: a barbárie. Sim, isso mesmo. A mesma que se escancarou quando os portugueses trouxeram os primeiros negros para servirem de escravos nos engenhos.

De lá pra cá, o que mudou exatamente? Os grandes campos de cana-de-açúcar foram substituídos pelas salas de aula, pelas ruas de todas as cidades, pelos palanques, pelas festas e até pelos campos de futebol. Os chicotes foram substituídos por bananas jogadas; a tortura se mascarou nos olhares de reprovação e as palavras de horror apenas mudaram de lugar no alfabeto.

Continuamos amarrados pelo preconceito, pela burrice de quem ainda acha que cor de pele é mais do que a cor de uma pele que cobre um corpo igual ao de que qualquer outro ser humano. A ignorância é cruel quando se utiliza o benefício da dúvida como álibi para esse crime.

Essa barbárie caminha lado a lado com a democracia e a linha tênue entre ambas é a mesma que separa a epiderme da derme. Macacos não são humanos e estão abaixo da escala da evolução. Os negros, não. Esses são os responsáveis pelo estilo de música mais famoso no mundo, o samba. Foram eles que trouxeram o Maracatu, o afoxé, o barimbau, o leite de coco, a pimenta malagueta, o gengibre, o amendoim, o mel e mais milhares de outras coisas que estão na mesa da menina que chamou o jogador Aranha de macaco, por exemplo.

Atualmente, de cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. E vamos além: os negros possuem chances 23,5% maiores de serem assassinados em relação a brasileiros de outras raças, segundo informações do Atlas. A distância entre as afrobrasilidades e a barbárie do racismo é do tamanho da imbecilidade de quem comete esse crime, ainda que em silêncio ou no anonimato das redes sociais.


Ju Farias

Não nasci poeta, nasci amor e, por ser assim, virei poeta. Gosto quando alguém se apropria do meu texto como se fosse seu. É como se um pedaço que é meu por direito coubesse perfeitamente no outro. Divido e compartilho sem economia. Não estou muito preocupada com meus créditos, eu quero saber mesmo é do que me arrepia. Eu só quero saber o que realmente importa: toquei alguém? É isso que eu vim fazer no mundo.

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