Sabe aquela pessoa que come de tudo e não engorda? Já dá para esquecer aquele papo de “magro de ruindade”. A ciência indica que se manter magro ou estar acima do peso pode estar relacionado às bactérias presentes na nossa flora intestinal. O tema foi debatido no 21º Congresso Brasileiro de Nutrologia, que acontece até sábado (30), em São Paulo (SP).
O pesquisador Paul Wischmeyer explica que o microbioma humano é formado pelas bactérias que compõem nosso organismo, juntamente com nossas células, tecidos e órgãos. Flávia Alvarenga nutróloga e médica do hospital Samaritano no Rio de Janeiro, explica que a microbiota foi descrita pela primeira vez por Ilya Metchnikoff, que ganhou um prêmio Nobel de medicina pelo feito. Ele descreveu o papel da nossa flora intestinal no desenvolvimento de várias doenças e, ao observar uma longevidade maior na Bulgária, notou que aquela população ingeria algumas bactérias presentes em alimentos como o iogurte e que eles poderiam promover o equilíbrio da flora.
A partir desse estudo, uma série de outras pesquisas foram realizadas e mostraram que a nossa flora intestinal se modifica ao longo da vida e, principalmente, de acordo com o tipo de alimentação que temos.
A microbiota de um paciente magro, por exemplo, é diferente de um com obesidade. “Com essa informação, a gente pode pensar em uma alimentação mais rica em fibras para evitar a disbiose, que é justamente o desequilíbrio na flora”, explica Maria del Rosario Zariategui de Alonso, nutróloga da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia) especializada no tratamento da obesidade.
Para tentar entender se é possível mudar a colonização da flora intestinal, Juliana Machado, nutróloga da Abran, cita uma série de estudos de transplante fecal feitos em ratos. “O transplante pegou a microbiota de ratos magros e transplantou para os ratos obesos e eles começaram, de fato, a emagrecer. No entanto, ainda são necessários mais estudos para falar que a mudança na flora intestinal é o bastante para tratar a obesidade”, reconhece.
Algumas empresas já oferecem o sequenciamento do microbioma para identificar se existe propensão a engordar, além de uma série de outras doenças, como o diabetes. “Para emagrecer, não basta ingerir menos calorias do que gasta. Há bactérias no intestino que são capazes de quebrar mais a gordura, o que faz com o que corpo absorva mais. Essa pode ser uma explicação do por que algumas pessoas comem e não engordam. Com essas informações em mãos, o médico pode prescrever uma dieta para aumentar o tipo de bactérias que reduz essa absorção de gordura”, explica Alan Hiltner, sócio da Bioma4me, uma das empresas que oferece esse tipo de serviço.
A vantagem aparente de usar esse serviço, segundo Wischmeyer, é descobrir a diversidade do microbioma. “Um intestino saudável é um intestino diversificado, com muitos tipos de micro-organismos. A partir de um sequenciamento nós conseguimos descobrir exatamente quão diverso é o seu microbioma”, fala.
Fonte: Uol