Sêneca nos ensina o valor de uma verdadeira amizade. Para tanto, o homem deve previamente construir uma base sólida de caráter. Só assim poderá “reivindicar a propriedade do teu ser”, ou seja, apenas assim poderá expressar o melhor que guarda em si.
A escolha de uma amizade, de acordo com o critério de Sêneca, deve ser rigorosa, isto porque a escolha de um amigo implica amá-lo do fundo do coração e ter a liberdade de travar com ele(a) uma conversa tranquila – como se estivesse a conversar consigo mesmo. Sêneca defende que a verdadeira amizade é aquela que levamos quando morremos e pela qual podemos morrer. Neste sentido, destaca o viés eterno que pode assumir um laço de amizade e o quão disposto um amigo pode estar em relação ao outro para lhe oferecer o que há de melhor em si – inclusive a própria vida. A amizade significa pura entrega, envolve mergulhar na própria essência para se certificar que você está sendo na vida do outro um fator de soma.
O início de uma amizade não se sustenta, portanto, na carência, mas o amigo verdadeiro se sente pleno de si, e com vigor para compartilhar a sua experiência com o outro. A amizade envolve dar o melhor de si, sem estabelecer a perspectiva de retorno. Naturalmente, quando ambos estão firmados em bases sólidas de caráter, ocorrerá um intercâmbio natural de ideias e ambos sairão do encontro igualmente preenchidos. O mesmo não ocorre quando uma das partes não tem nada a oferecer em termos de retidão de conduta e espera que a outra parte supra a carência desejada.
Sêneca conclui que o objetivo de uma amizade é ter o ser por quem dar a vida, um ser que será defendido com todas as forças contra a morte. O testemunho de Sêneca nos serve de inspiração para a defesa das nossas amizades e para a escolha dos amigos que desejamos ter por perto.