A generosidade infantil sob a ótica de Jean Piaget

A generosidade é descrita como uma virtude própria do ser humano que se propõe a sacrificar os seus interesses em benefício de outrem. O ato generoso apresenta três características:

A primeira delas diz respeito ao altruísmo que consiste em priorizar a prática do bem em relação ao próximo. Destaca-se o sacrifício como segundo atributo e, por último, a ação generosa visa atender a uma necessidade específica e, portanto, singular.

Nota-se que a generosidade é uma virtude que está inserida no desenvolvimento moral do ser humano. A moral heterônoma de acordo com o psicólogo suíço, Jean Piaget, manifesta-se no respeito perante as figuras de autoridade. Este comportamento é visto na postura de obediência adotada pelas crianças em relação aos pais, sendo esta motivada, ao mesmo tempo, pelo medo e o amor.

O desenvolvimento da criança não se restringe a demonstração de respeito, contudo adquire, gradativamente, uma maior autonomia para a sua expressão. Nota-se que crianças com idade correspondente a seis anos já possuem a capacidade de levar em consideração o ponto de vista do outro, como também a habilidade de desenvolver a simpatia nas suas relações e de estabelecer, por consequência, a generosidade nos atos do cotidiano. A teoria piagetiana defende que as crianças se desenvolvem moralmente graças à capacidade e o empenho em corresponder as expectativas das pessoas ao seu redor, contribuindo, deste modo, para que manifestem a generosidade.

As crianças na faixa etária de 6 anos, em sua grande maioria, apresentam a capacidade de atribuir sentimentos positivos a quem pratica generosidade, ao passo que revelam dificuldades para identificar quando se trata de uma ação injusta. Piaget, como fruto das suas observações, declarou:

“É quando a criança habitua-se a agir do ponto de vista dos próximos, e preocupa-se mais em corresponder aos anseios dos outros do que a eles obedecer, que ela chega a julgar em função das intenções.”

Pode-se depreender da análise que as noções relacionadas à justiça que se baseiam no entendimento de regras e exigências sociais exercem sobre as crianças, nesse mesmo período, pouco efeito, não configurando estruturas e redes sólidas de significados. Em contraste,  percebe-se que as atitudes que se referem à generosidade são assimiladas e integradas precocemente à consciência moral infantil.

O estudo do pensamento infantil permite concluir que a criança compreende a moral como aquilo que se faz por dever e não, unicamente, conforme o dever. Em vista disso, a criança não vem ao mundo como um ser passivo, prontamente disponível para o ato, por si só, de obediência. Faz-se necessário encarar o infante como um ser ativo, composto de vivências e experiências modeladoras, a cada instante, do seu caráter. O reconhecimento da criança como um ser moral serve como guia para os pais e professores somarem esforços com o objetivo de promover uma experiência educativa qualificada para a mesma, visando, sempre, estimular a autonomia, expandir as potencialidades e incentivar a adoção de valores éticos, indispensáveis para uma formação humana de excelência.


Saulo de Oliva

Médico, especializado em Psiquiatria. Psicólogo.

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