A essa altura do campeonato, a gente já tem carta branca pra encerrar aquele papo de que “a internet veio para ficar”. Esse fato já é consumado, e vai muito além da nossa vontade. Mas, mais legal do que ter vontade própria no mundo de hoje, é saber que um simples post no seu próprio Facebook tem o poder de viajar pelo mundo inteiro, influenciando pessoas que você nunca viu, nem nunca verá pessoalmente.
E se até hoje ninguém tinha noção do alcance que uma publicação inocente, em um Facebook “anônimo”, poderia ter, essa história acaba de mudar de rumo.
Um grupo de pesquisadores de Portugal descobriu que as redes sociais, como Twitter e Facebook, nos permitem influenciar pessoas de todo e qualquer lugar do mundo, e não apenas aquelas que nós conhecemos e estamos diretamente conectadas, mas também pessoas absolutamente desconhecidas.
Mas como isso é possível?
Flávio Pinheiro, Jorge Pacheco e seus colegas estavam estudando a recente “regra dos 3 graus de influência”, que sugere que podemos influenciar o comportamento não só de nossos amigos, mas também de seus amigos e os amigos dos seus amigos (por isso “3 graus de influência”), e ficaram surpresos com o que encontraram. Eles descobriram que há um comportamento universal das redes sociais, que é independente do tipo de informação, da forma como ela se espalha e até mesmo do tipo de rede social que conecta os indivíduos.
O estudo – que será publicado na Physical Review Letters e vem do grupo ATP da Universidade do Minho, Instituto Superior Técnico e Universidade de Aveiro, localizados em Portugal – tem implicações não só para a compreensão dos comportamentos, mas também para sua potencial manipulação, e pode revolucionar campos tão diversos como a educação, a saúde, a guerra e, é claro, marketing.
A teoria dos “3 graus de influência” foi identificada pela primeira vez no banco de dados do Framingham Heart Study (um estudo que acompanhou milhares de pessoas por décadas e várias gerações para identificar fatores que contribuem para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares) e, agora, tem sido associada a características tão diversas como tabagismo, níveis de consumo do álcool, obesidade, cooperação e mesmo solidão ou felicidade.
No estudo de Framingham, por exemplo, verificou-se que um amigo obeso aumenta suas chances de ser obeso em notáveis 40% enquanto as chances de um amigo de um amigo, ou amigo de amigo de um amigo, aumentam, respectivamente, 20 e 10%.
Com isso em mente, Pinheiro e seus colegas desenvolveram uma abordagem computacional para estudar a influência dos pares nas sociedades em rede, com o objetivo de investigar a propagação de cooperação, as opiniões e as doenças. Estes exemplos foram escolhidos porque, juntos, em grande parte, representam a forma como as informações/comportamento se espalham em populações em rede. E o que eles descobriram foi justamente que, independentemente do processo estudado, a influência dos pares em qualquer rede social sempre atinge 2-3 graus.
Também surpreendente foi o fato de que não só a regra era válida mesmo quando a estrutura da rede mudava, mas que as únicas excepções pareciam ocorrer quando as pessoas tinham menos contatos e quando seus contatos eram amigos entre si (o que faz sentido).
Embora seja previsível que influenciamos o comportamento dos nossos amigos, esses novos resultados sugerem que nós podemos realmente ter um impacto em muito mais pessoas do que imaginamos, e pessoas espalhadas por todo o mundo – incluindo completos estranhos – desde que de alguma forma estejamos socialmente conectados.
Como explicam os pesquisadores, “em meio a grandes comunidades, todo mundo pode influenciar e ser influenciado por quase todo mundo. Isso é, para muitos, um resultado surpreendente e inesperado, tendo em conta o fato de que, em todos os casos estudados, a transmissão da informação envolve apenas duas pessoas por vez. Não só as nossas escolhas são fortemente influenciadas por um grande número de pessoas que realmente não sabemos quem são, como a nossa influência sobre elas vai muito além do que seria de esperar ingenuamente”.
Os resultados nos levantam também a questionamentos muito interessantes, até mesmo filosóficos, como por exemplo: se somos influenciados por fatores que não conhecemos e jamais poderíamos conhecer, e influenciamos pessoas, o tempo todo e sem se quer saber disso, onde está o nosso livre-arbítrio? O que você acha? [science20]
Via Hypescience