Pessoas com depressão ou transtorno bipolar muitas vezes sentem que a sua capacidade de raciocínio fica “distorcida”, ou menos apurada do que antes dos sintomas começarem. Agora, pesquisadores demonstraram em um grande estudo que o efeito é realmente real – e enraizado em diferenças de atividade cerebral que aparecem em exames cerebrais avançados.
Além do mais, os resultados se somam às evidências crescentes de que essas condições se encaixam em um grande espectro de transtornos de humor, em vez de serem completamente independentes. Isso pode transformar a maneira como médicos e pacientes pensam, diagnosticam e tratam esses males.
Em um novo artigo publicado na revista “BRAIN”, pesquisadores da Faculdade de Medicina e Centro para Depressão da Universidade de Michigan (EUA) e seus colegas relataram os resultados de testes feitos com 612 mulheres, mais de dois terços das quais tinham passado por depressão séria ou transtorno bipolar. Os pesquisadores também apresentaram dados de exames cerebrais detalhados de 52 das mulheres.
O número de pacientes envolvidos é grande para este tipo de estudo de saúde mental, o que torna os resultados mais significativos.
Falta de concentração
Vistas como grupo, as mulheres com depressão ou transtorno bipolar se saíram igualmente mal em um teste no qual era necessário manter a concentração. O teste pedia que reagissem rapidamente quando certas letras brilhavam brevemente em uma tela, no meio de uma sequência aleatória de outras letras. Em comparação com o grupo sem problemas de saúde mental, os grupos com qualquer um dos diagnósticos eram visivelmente defasados neste teste padrão de controle cognitivo.
E, enquanto individualmente muitas mulheres com depressão ou bipolaridade se saíram tão bem no teste quanto as participantes saudáveis, quase todas as que fizeram o teste e ficaram entre os 5% piores resultados tinham um dos dois transtornos do humor.
Com as varreduras do cérebro, os pesquisadores descobriram que as mulheres com depressão ou transtorno bipolar tinham diferentes níveis de atividade em uma determinada área do cérebro chamada córtex parietal posterior direito. Nas pacientes com depressão, a atividade nesta área era maior do que em mulheres saudáveis, enquanto que em pessoas com a doença bipolar era inferior. A área onde foram vistas as diferenças ajuda a controlar a “função executiva” – atividades como memória de trabalho, resolução de problemas e raciocínio.
“Nós mostramos uma disfunção cognitiva partilhada em mulheres com transtornos de humor, que eram pronunciados em testes de controle cognitivo e mais sutis em exames”, explica Kelly Ryan, neuropsicóloga e principal autora do estudo. “Estes resultados suportam a ideia de ver transtornos de humor dimensionalmente, como uma linha contínua que vai de maior função a maior disfunção através de doenças que são mais parecidas do que distintas”, acrescenta Ryan, que atende pacientes no Departamento de Psiquiatria da Universidade de Michigan.
Novas perspectivas
Este ponto de vista dos transtornos de humor é um conceito que cada vez atrai mais pesquisadores. O Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos apoia o desenvolvimento de novas formas de classificação dos transtornos, independente dos diagnósticos clínicos encontrados no guia que médicos de todo o mundo usam, chamado de Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.
O objetivo desta iniciativa não é substituir este sistema de diagnóstico clínico, mas sim estender formas de compreender a neurobiologia, o desempenho e a genética das doenças, em vez de agrupar sintomas clínicos baseados na memória recente que o paciente tem e das observações médicas dos sinais de um paciente.
Os pesquisadores esperam que sua descoberta possa ajudar outros pesquisadores, que poderiam usar esses testes como uma forma de dividir os participantes para um estudo mais aprofundado – um “fenótipo intermediário” para transtornos de humor. Por exemplo, os pesquisadores poderiam se concentrar em estudar pessoas com e sem transtornos de humor clássicos dando-lhes primeiro o teste de controle cognitivo e, em seguida, usando a opção de escaneamento do cérebro apenas naqueles com mau desempenho. Isso poderia influenciar estratégias futuras de rastreio clínico, diagnóstico e tratamento. [Science Daily]
Via Hypescience