A depressão é um distúrbio afetivo, que gera tristeza profunda, uma perda generalizada de interesse, falta de ânimo, prazer e algumas oscilações de humor. Mas engana-se quem pensa que existe apenas um tipo de depressão. Existem vários tons sob a tenda da depressão, como por exemplo, a possibilidade de ser leve ou grave, curta ou crônica, além de alguns eventos, que podem desencadear os sintomas como o nascimento de um bebê.
Saber os tipos de depressão e ser diagnosticado corretamente ajuda tanto os médicos quanto os pacientes. Mesmo que a base de qualquer quadro depressivo traga consigo as características de depressão maior, algumas vezes a doença pode aparecer com a combinação com outro distúrbio psíquico. Em todo caso, isso depende de uma avaliação médica para que o tratamento seja adequado. Mostramos aqui alguns desses quadros.
1 – Distimia
A depressão pode ser devastadora e provocar uma grande transformação no comportamento da pessoa. Mas normalmente, ela nem sempre é alguma coisa que espanta o paciente. Esses são os quadros de distimia que, segundo o psiquiatra Mario Louzã, são quadros crônicos com o qual a pessoa portadora aprende a conviver.
Esse quadro surge precocemente, em torno da adolescência, e é contínuo. E mesmo que a pessoa se acostume com ele, não quer dizer que ela não terá sintomas. “Você percebe que ela está o tempo todo assim, um pouquinho abaixo da alegria normal, tem uma alegria ou outra, mas nunca é muito vibrante. A vida é meio cinza o tempo todo”, conta.
2 – Depressão recorrente
De acordo com Louzã, muitas pessoas com depressão têm entre dois e quatro episódios da doença. Isso caracteriza uma depressão recorrente. E quando o paciente busca ajuda, na própria consulta, ele descobre que teve um episódio despercebido. Alguns dos casos acontecem mesmo depois de um tratamento, sem necessariamente ter uma causa.
O tratamento para esse tipo de quadro segue os mesmos princípios utilizados no tratamento de depressão maior. Eles visam impedir uma reincidência do problema. “Se uma pessoa já teve três episódios depressivos, a chance de ela ter um quarto episódio é praticamente 100%”, explica.
3 – Depressão resistente a tratamento
Essa não é necessariamente uma doença específica, mas sim um quadro depressivo, que se torna persistente por determinados fatores. Segundo o psiquiatra, isso acontece em boa parte dos casos e, geralmente, a causa está em um diagnóstico equivocado ou em uma má administração do tratamento pelo próprio paciente.
“Muito frequentemente os pacientes melhoram e interrompem o tratamento muito precocemente porque acham que não precisam mais de remédio. Às vezes, não usam a dose adequada para ter a remissão total dos sintomas, e isso também pode ser um fator de resistência”, afirma.
E conforme a depressão se torna mais resistente, Louzã diz que os médicos têm que buscar outras técnicas ou uma associação entre mais de uma para conseguir contornar a situação.
4 – Transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM)
As mulheres podem ter desconfortos antes da menstruação, mas, para algumas, os sintomas são mais intensos e caracterizam um transtorno.”É uma TPM mais intensa, muitas vezes acompanhada de oscilações de humor, irritabilidade, agitação, ou de um quadro depressivo intenso o suficiente, para atrapalhar a vida da mulher”, explica.
Quem tem esse transtorno costuma sofrer em todo ciclo menstrual, por pelo menos uma semana. As mulheres podem ficar agressivas e ter sintomas de qualquer outro quadro depressivo. Isso é causado por fatores hormonais, combinados à genética.
E assim como em outros tipos de quadros, as possibilidades de tratamento variam entre várias técnicas.
5 – Transtorno bipolar
Esse transtorno também consiste em quadros depressivos e trazem características como a angústia, sem necessariamente ter uma causa definida e a apatia. E os episódios acontecem de maneira intercalada, com episódios de mania e hipomania, que são estados em que a pessoa apresenta características diferentes.
Segundo Louzã, é comum que a pessoa tenha uma diminuição da necessidade de sono e comece a falar de maneira desconexa. E para os pacientes que têm transtorno bipolar o tratamento é mais complexo. “Se você pegar o paciente em uma fase maníaca, tem medicações para tratar o episódio maníaco – em geral, usa-se antipsicóticos ou estabilizadores de humor, muitas vezes associados. O tratamento da depressão no transtorno bipolar, a depressão bipolar, é um pouco mais complexo”, ressalta.
6 – Depressão pós-parto
De acordo com Louzã, a depressão pós-parto tem como possível causa uma mistura de fatores hormonais com genéticos. O momento em que a mãe dá à luz, os hormônios começam a se reorganizar de uma forma intensa. “Os hormônios, que estavam em alta, caem abruptamente”, explica.
Mesmo que isso tenha a tendência a durar apenas alguns dias, a depressão pós-parto é caracterizada por um quadro depressivo, que se estende.”A depressão pós-parto é mais problemática porque a mãe ainda tem que cuidar da criança e um quadro depressivo acaba tornando um fardo cuidar do recém-nascido”, afirma Louzã.
O tratamento costuma ser feito com medicamentos antidepressivos, mas no caso das mães que amamentam, a situação é mais delicada. “O antidepressivo vai para o leite materno, aí você tem que substituir a amamentação da criança”, explica ele.
7 – Depressão sazonal
Essa é uma condição ligada ao clima, que é mais comum em regiões de latitudes altas, mais próximas dos pólos, como por exemplo a Noruega e a Finlândia. De acordo com o psiquiatra, esse tipo costuma se manifestar durante o inverno.
“As pessoas que sofrem do problema entram em um quadro depressivo por conta da falta de tomar sol, de ter a estimulação luminosa necessária que ajuda a gente a manter o organismo em condições adequadas”, afirma.
“É um quadro depressivo como outro qualquer, de base biológica neuroquímica. Em regiões onde o inverno é muito longo e a duração do dia é curta, você tem uma exposição solar baixíssima, e isso acaba levando ao quadro depressivo”, explica.
“A fototerapia é você expor a pessoa à luminosidade de uma determinada luz com intensidade grande que tenta “imitar” a luminosidade solar. Muitas pessoas já têm esse tipo de lâmpada. E usam preventivamente porque já sabem que, no período de inverno, vão ter um quadro depressivo sazonal”, declara.
8 – Depressão decorrente do uso de substâncias
A depressão pode ser induzida pelo uso de substâncias psicoativas, como álcool e outros tipos de drogas. “Elas podem induzir quadros depressivos pela característica que a substância tem na hora do uso, e às vezes, pela abstinência. Algumas pessoas já têm predisposição, então, o uso dessa substância vai ser desencadeante”, explica.
Essa substâncias podem até mesmo ser remédios. “Fundamentalmente, o tratamento é a interrupção do uso da substância psicoativa. Se o quadro for decorrente da abstinência, a gente às vezes espera alguns dias para ver se a pessoa melhora espontaneamente. E, se não melhorar, você começa o tratamento com antidepressivos”, ressalta.
9 – Depressão psicótica
Psicose é um termo genérico, que define um quadro onde a pessoa não consegue distinguir realidade de fantasia ou da própria imaginação. Mas isso varia entre a pessoa achar que é poderosa e que pode fazer milagres, até que ela delire e se culpe por todos os males do mundo.
E é nesse último caso, que ela é caracterizada como depressão psicótica.”A gente tem um quadro depressivo e, em função dele, se desenvolve um delírio. Em geral, a temática do delírio tem a ver com a depressão, como um delírio de culpa, de ruína, de baixa autoestima e de morte”, explica.
Para o tratamento, é comum a associação de medicamentos. “O tratamento é feito com antidepressivos, e muitas vezes, a gente associa antipsicóticos a ele no intuito de controlar essa parte psicótica da depressão”, esclarece.
10 – Depressão associada a uma doença
De acordo com Louzã, esse tipo de depressão acontece da mesma forma que as outras. Ou seja, por um desbalanço químico, mas nesse caso, é por causa de uma outra condição de saúde. Uma delas é o hipotireoidismo.
“Além das queixas frequentes do hipotireoidismo, sintomas do tipo depressão, apatia e falta de motivação podem surgir. Você fazendo a reposição hormonal, a depressão melhora sem precisar usar antidepressivos”, explica.
Fonte: Fatos