Tenho fugido de mim, me escondendo da dor, da depressão, da luta que deveria travar, da ausência de força e significado que tem sido a vida. Encontrei refúgio nas letras, palavras e versos, que me ajudavam a condensar coisas grandes e dolorosas demais para entender, para compreender olhando para baixo; tem sido assim há um tempo, o sorriso mascarando o cansaço, enquanto tudo ia saindo dos trilhos alimentando o ciclo de frustração.
Me disfarcei por tanto tempo atrás das palavras, que acabei acreditando em algumas delas, mas isso me levou a pensar sobre essa prática e sua correlação com uma onda de estresse, ansiedade e depressão que tem estado em pauta nos últimos tempos. As redes facilitaram o contato, mas seus efeitos colaterais estão sendo sentidos na sociedade. O contato por mensagens de texto, tem nos permitido mascarar sentimentos e acumular males, somatizando mazelas da mente, tendo como resultado, pessoas cada vez mais distantes umas das outras.
Por não vermos os interlocutores, mentimos uns para os outros, acostumando-nos a interagir com máscaras criadas para se adequar ao que se espera de nós, e não com pessoas de verdade. Queremos acreditar nessas imagens criadas, pois temos muito peso na vida para nos preocuparmos com a possibilidade de que o outro possa estar mentindo também sobre sua condição, e nisso, sem questionar, validamos o comportamento que está corroendo a interação “humana”; dando lugar a imagens esculpidas em fotos e letras, para simular felicidade, ou tentar resumir a vida àquilo, para não pensar que há muito mais.
Será que isso é saudável?
As letras, as fotos; todas essas imagens podem e devem ser usadas, mas para falar a verdade. Resgatar a arte; onde o artista usava de mentiras para falar a verdade, ecoar o que a hipocrisia esconde e tocar o ser pálido por trás da máscara. Há um potencial revolucionário nas redes, que começou gigante e cheio de promessas; agora tudo está sendo redirecionado, sendo subvertido por interesses comerciais. Estão transformando em produto tudo o que deveria ser apenas a humanidade sendo o que é. As letras devem comunicar a verdade, transmitir e exprimir, o que é difícil de falar, ou o que se perdeu numa oportunidade de dizer, mas que seja real, e não um subterfúgio. Assim poderemos entender melhor o que se passa, conosco, com os outros e com o mundo; dirimir questões, diluir ódios quem sabe…
“Conhecereis a verdade e esta vos libertará”, não é isso? Podemos entender melhor, e talvez aprender; a estender os limites do amor, da amizade, da honestidade, da cooperação; e quem sabe, redescobrir a humanidade no processo.