Aos 76 anos Karen Uhlenbeck é a primeira mulher a ganhar o Prêmio Abel de matemática

É muito alegrador poder escrever que pela primeira vez, um dos principais prêmios da matemática mundial foi dado a uma mulher. Na terça-feira do dia 12 de março, a Academia Norueguesa de Ciências e Letras anunciou que o Prêmio Abel de 2019 é de Karen Uhlenbeck, de 76 anos, professora da Universidade do Texas, em Austin, nos Estados Unidos.

Ela descreveu as formas complexas de películas de sabão em espaços curvos abstratos e de alta dimensão, ajudou a colocar uma base matemática em técnicas físicas de teoria quântica, contribuiu com a criação do campo conhecido como análise geométrica e desenvolveu métodos atualmente usados em análises matemáticas.

Uhlenbeck, que mora em Princeton, descobriu que ganhou o prêmio no domingo (17) de manhã, após receber uma mensagem de texto. Além do reconhecimento, ganhou US$ 700 mil. Em entrevista ao jornal The New York Times, ela revelou que ainda não decidiu como usará o valor.

Não há Prêmio Nobel de Matemática e, durante décadas, os prêmios de maior prestígio em matemática foram as Medalhas Fields, concedidas em pequenos lotes a cada quatro anos aos pesquisadores mais talentosos com 40 anos de idade ou menos. Maryam Mirzakhani, que faleceu em 2017, foi a única mulher a receber uma Medalha Fields.

O Abel, em homenagem ao matemático norueguês Niels Hendrik Abel, é mais parecido com o Nobel. Desde 2003, é concedido anualmente para destacar avanços importantes na matemática. Os 19 laureados anteriores – em três anos, o prêmio foi dividido entre dois matemáticos – eram homens.

Uhlenbeck descobriu a forma das películas de sabão em espaços curvos de dimensões mais altas. Este é um exemplo do que os matemáticos chamam de problemas de otimização que, muitas vezes, são difíceis e podem ter zero soluções. “Quando você tem uma bolha de sabão no espaço n-dimensional, você não sabe antecipadamente quais serão as formas dessas bolhas de sabão”, afirmou.

A pesquisa
Segundo a vencedora, o universo é preguiçoso, procurando por soluções que consumam a menor quantidade de energia. Em uma forma plana, um problema de otimização pode ser o seguinte: a menor distância entre dois pontos é uma linha reta. Mesmo em uma superfície curva, como a Terra, a resposta é fácil: um grande círculo.

Com películas e bolhas de sabão – superfícies bidimensionais em um espaço tridimensional – a questão fica mais complicada.

Para minimizar as forças da tensão superficial, forma-se uma bolha com a menor quantidade de área para envolver um determinado volume (uma esfera). Quando duas ou mais bolhas se tocam ou quando uma película é originada dentro de um laço de metal, as formas se tornam mais complicadas, mas ainda se contorcem para ocupar a menor quantidade de área.

Em dimensões ainda mais altas, “a teoria se torna dramaticamente mais difícil, e as técnicas padrão simplesmente não funcionam”, explicou Dan Knopf, que trabalhou com Uhlenbeck na Universidade do Texas.

Uhlenbeck mostrou que o problema não era insolúvel em todos os lugares, embora em um número finito de pontos os cálculos não convergissem. Assim, pode-se obter uma resposta, manipulando os pontos problemáticos separadamente.

“Ela desenvolveu técnicas revolucionárias”, declarou Knopf. “Ela encontrou soluções para um problema aproximado e depois tentou estabelecer os limites das soluções estimadas para obter soluções reais.”

A matema´tica trabalhou nas Teorias de Calibre – também chamadas de Teorias de Gauge –, usadas por físicos para descrever as interações de partículas subatômicas na teoria quântica. Uma hipótese diz que o comportamento das partículas não deve mudar dependendo de como você as observa. Ou seja, as leis da física não devem alterar se a experiência for movida para a esquerda ou rotacionada.

Mas as respostas, às vezes, pareciam explodir até o infinito. E a pesquisadora foi capaz de reformular o problema de uma maneira que removeu os infinitos.

Vida
Uhlenbeck começou a publicar seus principais trabalhos aos 30 anos de idade. Isso poderia ser considerado cedo o suficiente para que ela pudesse ganhar uma Medalha Fields, mas suas ideias demoraram a ganhar notoriedade na ciência.

Em 1983, aos 41 anos, ela recebeu a bolsa MacArthur Fellowship e US$ 204 mil para usar em pesquisas. Em 1990, tornou-se a segunda mulher a dar uma das palestras plenárias em destaque no Congresso Internacional de Matemáticos – em cada congresso, há de 10 a 20 palestras, mas há décadas todos os oradores são homens. A primeira mulher a dar uma palestra no evento foi Emmy Noether, em 1932.

“Isso foi quase mais desconcertante do que ser a primeira mulher a receber um Abel”, disse Uhlenbeck ao The New York Times. Ela ainda reconheceu ser um modelo para as mulheres na ciência. “Olhando para trás percebo que tive muita sorte. Estava na vanguarda de uma geração de mulheres que poderiam conseguir empregos na academia.”

Mas também observou: “Senti muito o que era ser mulher durante toda a minha carreira. Ou seja, nunca me senti como um dos caras”. Para encontrar uma referência, olhou para a televisão. “Como muitas pessoas da minha geração, meu modelo era Julia Child [apresentadora de programas culinários].”

Lugar de mulher é na Ciência (Foto:  )

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