Estou lendo um livro super interessante de um autor australiano chamado Roman Krznaric, que aborda diversos assuntos do nosso cotidiano, como amor, família, trabalho, dinheiro, crenças, criatividade, natureza, morte, dentre outros, com uma perspectiva histórica de como a humanidade lidou com esses temas em outras épocas, gerações e geografias, com o intuito de compartilhar possíveis lições do passado para aprimorarmos nossa arte de viver. Aliás, este é justamente o nome do livro: “Sobre a arte de viver”. O capítulo que mais me chamou a atenção até agora foi o que aborda o “Tempo”, talvez pela coincidência de lê-lo justamente no último mês do ano, época em que inevitavelmente acabamos refletindo mais sobre ele.
O livro relata que as primeiras civilizações a se interessarem pelo assunto foram a babilônica e a egípcia antiga, com a preocupação de entenderem a passagem das estações, a fim de saberem quando plantar, irrigar, colher. Com esse intuito, criaram calendários que refletiam os ciclos e movimentos da Lua, do Sol e de algumas outras estrelas. Judeus e muçulmanos ainda hoje se baseiam em calendários semelhantes (lunissolares), e por isso datas como Yom Kipur e Ramadã podem variar bastante no calendário solar. Mas naquela época, ainda não se preocupavam em medir o tempo de forma tão precisa e exata, e foi somente na Idade Média (século XIII) que o relógio mecânico foi inventado e começou a se disseminar, pouco a pouco, pelas cidades europeias. O relógio astronômico que existe até hoje na parede da prefeitura na cidade velha de Praga foi construído nessa época, mais precisamente em 1410. Conta o autor que mais alguns séculos se passaram para que os relógios viessem a incorporar ponteiros de minutos, e mais outros cem anos o de segundos.
É impressionante pensar, ao ler o livro, como a relação da humanidade com o tempo veio se transformando, principalmente com a Revolução Industrial quando começou a surgir uma mentalidade ligada ao “controle” do tempo, que não existia até então, e que acabou moldando – para o bem e para o mal – a forma como hoje nos relacionamos com ele. Mas o que mais me surpreende, observando nossa geração, é como internalizamos de tal forma os calendários, as contagens e o “fatiamento” do tempo – tão bem descritos no poema de Roberto Pompeu de Toledo – que não nos damos conta de que, na verdade, são apenas convenções, criações sociais. Vamos nos apegando mais e mais a toda uma organização e a um sistema artificial, e assim, vamos nos desconectando do tempo como fenômeno natural. Esquecemos que o que de fato existe é o Sol, a Lua, a Terra, o ciclo vagaroso da Terra e da Lua ao redor do Sol, a rotação inexorável da Terra em torno de seu próprio eixo, formando um tecido intangível de pequenos instantes. Espero que a pulsação coletiva desta época do ano, repleta de últimos encontros, confraternizações e celebrações para marcar o final de 2018 sirva para nos encher de energia para iniciarmos um novo ciclo, mas que não nos afaste da perspectiva de que felizmente continuamos seguindo, de mãos dadas, no nosso caminho contínuo e constante pelo universo.
Por Autoterapia – Shelly Zaclis Bronstein