A felicidade é um negócio sério.
Inspiradas pelo movimento psicológico positivo, as corporações possuem cargos de “diretores de diversão” e instituições conceituadas como Stanford e Yale oferecem aulas sobre felicidade.
Mas essa paixão por bons momentos está apenas criando confusão sobre o que significa ter sucesso e quais habilidades precisamos para ter sucesso.
A psicóloga Anna Rowley – que aconselha executivos da Microsoft e de outras empresas – evita a palavra “felicidade”.
Ela acredita que a resiliência é a habilidade mais importante para cultivar, dada a rápida taxa de mudança econômica e tecnológica.
Se sentir bem é bom, mas é uma coisa passageira. Aprender a lidar com a dificuldade, pelo contrário, melhora suas chances de se sentir bem novamente.
Isso é muito mais útil do que se agarrar a uma ilusão.
Nem sempre podemos ser felizes. O prazer é um estado relativo, contrastado pelo desconforto e pela dor. Entre momentos passageiros e agradáveis, há muitos desafios que fazem da felicidade um alívio.
Então, para ser feliz, primeiro você precisa aprender a ser forte; para se levantar depois de uma queda, desapegar da tristeza quando não tiver sucesso em algo e encontrar a vontade de persistir em vez de ficar deprimido quando as coisas dão errado, o que acontece com frequência.
Os psicólogos dizem que a resiliência é uma habilidade desenvolvida, não um talento de pessoas únicas, abençoadas com um caráter especial. É cada vez mais ensinado a adultos e crianças.
Por exemplo, em Silver Spring, Maryland, crianças ansiosas da quinta série fazem um curso de treinamento intensivo de 12 semanas chamado Resilience Builder Program. A aula foi desenvolvida pela psicóloga Mary Alvord, que conta à NPR:
“Eu acho muito importante que as crianças saibam que têm o poder de fazer mudanças. Embora não possamos controlar tudo sobre nossas vidas, podemos controlar muitas facetas”.
Ela afirma que “o mundo todo fica melhor” quando os alunos aprendem a resiliência.
Sua aula ensina comunicação, gerenciamento de estresse e solução de problemas emocionais por meio de atividades como ioga, charadas e histórias em quadros brancos.
Da mesma forma, a United Federation of Teachers oferece oficinas sobre a construção de resiliência estudantil.
“Nossos filhos entram na escola com tanta coisa acontecendo nos bastidores, e o que eles realmente precisam é de uma saída”, explica Betty Nieves, professora do ensino médio na IS 240, no Brooklyn, para o blog do UFT.
“Precisamos encontrar maneiras de acomodar isso; caso contrário, não vamos conseguir ensinar”.
Nieves recomenda criar “momentos conscientes” na sala de aula que “honrem” os estados emocionais dos alunos, os ensinando a trabalhar com sentimentos difíceise a mudá-los.
Isso pode significar permitir que as crianças reflitam tranquilamente e compartilhem sentimentos.
Quando esses momentos conscientes acabam, é mais fácil se separar de estados emocionais desafiadores e se concentrar em seu trabalho.
Para adultos, o desenvolvimento da resiliência pode fazer toda a diferença entre manter um emprego ou se queimar.
Um pequeno estudo de maio de 2018, feito por pesquisadores do Centro para Mentes Saudáveis da Universidade de Wisconsin-Madison, publicado na Frontiers for Psychology, descobriu que apenas duas semanas de “meditação da compaixão” tornaram os sujeitos mais resilientes diante do sofrimento humano, significando que eles foram capazes de olhar para a luta sem julgamento e responder com compaixão, em vez de se perturbarem.
Os 24 participantes foram designados aleatoriamente para fazer uma “meditação de compaixão” diária de 30 minutos ou um exercício de reinterpretar emoções negativas pessoais.
Os meditadores de compaixão aprenderam a visualizar a si mesmos e aos outros que sofrem e a considerar as pessoas com as quais tinham conflitos, mas não a julgar seus estados emocionais conturbados – apenas aceitar, encarar suas emoções e desejar o bem dessas pessoas.
Depois de duas semanas, os dois grupos analisaram imagens e fotos neutras de pessoas que sofriam – como uma criança morrendo ou uma vítima de queimaduras – enquanto passavam por exames cerebrais.
Pesquisadores rastrearam seus movimentos oculares e perguntaram o que os sujeitos do estudo estavam pensando.
As pessoas que praticaram a meditação da compaixão foram capazes de olhar para o sofrimento nas imagens negativas, ao mesmo tempo em que mostram menos atividade na amígdala, na ínsula e no córtex orbitofrontal, áreas do cérebro que estão ativas durante o estresse emocional.
Os meditadores não eram apenas mais calmos, eles também tinham mais compaixão pelas pessoas fotografadas do que o outro grupo, que tendia a reformular situações com noções como: “Essa pessoa não está sofrendo – ele é apenas um ator”.
Os pesquisadores concluem que a meditação parece desenvolver resiliência nos praticantes – uma característica que é fundamental para as pessoas que trabalham, por exemplo, com medicina e policiamento.
Eles dizem que os resultados indicam que a compaixão é um músculo que pode ser desenvolvido e flexionado, o que torna as pessoas mais resilientes e, finalmente, mais capazes diante dos desafios.
Mesmo que seu trabalho não envolva ajudar pessoas, você encontrará obstáculos, decepções e frustrações todos os dias, social e profissionalmente.
Isso pode ser uma distração, mas se reerguer é uma vitória – mesmo que só você veja essas pequenas vitórias diárias. Sua recompensa não reconhecida é que você continua seguindo em frente.
“A resiliência é um ato pessoal de desafio”, escreve o autor Jesse Sostrin, que lidera o programa de coaching de liderança executiva na firma de auditoria PwC.
Ao se tornar consciente das emoções, do diálogo interno e do papel que estão desempenhando em suas ações, você pode superar estados negativos, se rebelando contra a parte de você que se sabota.
Resiliência “afeta tudo”, de acordo com Sostrin, incluindo habilidades de resolução de problemas, bem-estar físico, mental e emocional e inovação.
“A resiliência é como uma supercompetência, influenciando muitas outras habilidades relacionadas que você precisa implantar para trabalhar, gerenciar e liderar bem.”
Se reerguer é mais importante que a felicidade, porque a vida é dura. Todo mundo cai ou é derrubado. Mas nem todo mundo fica para baixo.
Considere o caso de Hari Budha Magar. Ele é o primeiro amputado bilateral acima do joelho a atingir um pico acima de 19.000 pés e planeja escalar o Monte Everest em 2019.
Magar, um ex-soldado do exército nepalês, perdeu as pernas em uma explosão no Afeganistão. Naturalmente, ele ficou arrasado.
“Depois da explosão, eu não sabia o que fazer, como viver ou o que viria a seguir […] Metade do meu corpo tinha desaparecido e, àquela altura, não me importava se a outra metade também desaparecesse”, ele diz.
Desde então, Magar diz, ele descobriu que “a capacidade está em minha mente, não em minhas pernas”, e ele até afirma que não “perdeu muito”.
Limitações são criadas e destruídas na mente, argumenta Magar. “Claro, eu preciso de portas e banheiros maiores e dependo de uma cadeira de rodas e corrimãos, mas a vida é sobre adaptação”, explica ele.
“Quando algo não funciona da maneira que esperamos, encontramos maneiras diferentes de fazer as coisas.”
Fonte: Awebic