Se não mudares, os outros fazem de ti o que querem.
A velha máxima «Se estás mal, muda-te» faz mesmo todo o sentido.
Se não nos sentimos bem com determinado relacionamento, se não estamos felizes no nosso trabalho, se não conseguimos encarar certa pessoa ou se, simplesmente, não nos sentimos bem naquele jantar, naquele ginásio ou naquela viagem, só nos resta uma alternativa: mudar.
Acontece que, e apesar de parecer simples, essa decisão é extremamente delicada. E porquê? Porque uma vez mais colocamos o mundo inteiro à nossa frente. Em vez de nos respeitarmos e levarmos a cabo o nosso desejo de liberdade, saindo de onde estamos para onde queremos estar, não, deixamo-nos ficar mesmo que o amor já não exista, mesmo que o patrão ou os colegas nos tratem mal, mesmo que continuemos a ser julgados ou cobrados pela mãe, pelo pai, pelo tio ou pelo cão e por aí adiante. Não mudamos e o caldo entorna-se. Ou seja, é o pior dos dois mundos.
Não comemos a sopa, não nos nutrimos, e ainda nos queimamos por andarmos constantemente nas mãos de uns e outros.
As pessoas relacionam-se mais por medo de se perderem umas às outras ou por necessidade de dominarem alguém do que por se amarem genuinamente, e como a mudança exige sempre uma grande dose de amor-próprio, claro está, é-lhes muito difícil encetarem esse caminho perante tudo e a desfavor de todos. Aceito essa dificuldade, também já passei por esse sentimento inúmeras vezes, mas o que posso garantir é que a grande complicação e aquilo que de mais penoso pode existir na nossa vida é a certeza de que somos manipulados e não conseguirmos deixar de sê-lo, exatamente pelo medo de perder quem nos manipula.
Estou, naturalmente, a falar de uma profunda ausência de nós em nós mesmos e, por conseguinte, da extrema necessidade de depender de alguém.
Agora, isto tem de acabar. Esta pouca vergonha tem de ter um fim.
A mudança é inerente à vida e cada um de nós tem a legitimidade de fazer dela o que bem entender, de mudar tudo o que lhe apetecer e quando lhe der vontade. E quem não aceitar que faça o favor de crescer e quem não perdoar que se vá curar.
Já chega de viver como ratos de laboratório às voltas numa roda pequena e estreita. Temos de ser homens e mulheres livres. Temos de ser o que nos apetecer.
Gustavo Santos, in ‘Ama-te’