Uma em cada três delas sofrem algum tipo de violência no Brasil. Além disso, na maior parte das vezes, caladas e humilhadas, adotam o silêncio como a regra do jogo. Os agressores saem na frente, sem contra-ataque, na certeza de que a agressão que praticam lhes é de direito adquirido.
Alguns homens ainda acham que a mulher é um órgão sexual incapaz de outra função que não satisfazê-lo. É por isso que esses vídeos ainda são vistos. A diferença é que hoje não deixamos passar, pois a marca dessa dor passou a ser compartilhada e, inclusive, permitiu que a nossa genética nos deixasse mais preparadas para lutar contra tudo isso.
“Foi só uma brincadeira”, disse um dos caras que participou da gravação. Não foi, querido. Estamos fartas dessas brincadeiras sem graça, pois queremos o mesmo respeito que vocês – homens – desejam no mundo. Em regra, caminhamos na direção do horizonte, porém, algumas vezes, ainda damos muitos passos para trás. A evolução é lenta e muitas mulheres haverão de sofrer para que se aponte um “final” feliz.
Li no Facebook uma pessoa dizendo que esses vídeos não são tão graves perto do que ocorre em outros países, como a Arábia Saudita – que concedeu às mulheres o direito a dirigir ontem (isso mesmo, foi ontem). Não comentei por considerar inútil convencer alguém que pensa dessa forma.
Esse ano, o rei Salman bin Abdulaziz Al Saud, instalou o primeiro cinema no país e as mulheres foram liberadas para frequentarem estádios de futebol. Desculpa, mas não dá nem para comparar com o Brasil. Por isso, infelizmente, nos certificamos de que a estrada é ainda mais longa, pois o preconceito silencioso é o tiro mais certeiro na morte da evolução.
Quando escuto uma piada denegrindo qualquer tipo, raça ou classe, não acho graça, não me arranca o riso esse deboche fantasiado de stand up. O que acontece com as mulheres é o mesmo que acontece com os negros, os homossexuais, os doentes ou qualquer outro grupo considerado “frágil” aos olhos de quem parece tão mais forte.
Pois bem, pobres desses homens pequenos que gritam tão alto em um vídeo bizarro, achando que as gargalhadas são sinônimos de fortidão, machão, garanhão. Não são, entendam isso. Vocês, os homens que praticam essa filosofia antiga e repressora, não são atraentes.
Uma pessoa interessante é livre de preconceitos ou, ao menos, luta contra eles para ser um pouco melhor do que foi ontem. Um homem atraente é respeitador, amável, educado. Vocês são garotos com seus 20, 30, 50 ou 60 anos que ainda pensam que mulher gosta é de grosseria.
Mulher gosta de quem olha pra frente, de quem anda junto, lado a lado, empurrando e sendo empurrado para frente. Mulher gosta de flor, de café na cama, de futebol, de consertar o chuveiro. Mulher gosta de pagar a conta, de sair descabelada, de ficar três horas dentro de um salão para se achar ainda mais bonita.
Mulher gosta de ser cuidada, admirada, entusiasmada. Mulher gosta de levantar peso, de fazer almoço pra família ou de comer fora todos dia, pois ideia cozinhar. Mulher gosta de ser o que é, independente do que seja.
Para os homens que ainda não entenderam, vou tentar ser mais clara: meus amigos, “lugar de mulher é onde ela quiser”, e é pronto. E é ponto. Nós, mulheres, evoluímos e nos superamos todos os dias. E a única coisa que desejamos nesse mundo é que vocês, machistas de plantão, consigam fazer o mesmo.