10 coisas que você provavelmente não sabe sobre si mesmo

Alexandre Magno dizia que – Conhecer a si mesmo é a tarefa mais difícil pois incita diretamente a nossa racionalidade, mas também coloca à prova nossos medos e paixões.

Se conseguirmos nos conhecer a fundo, saberemos compreender os outros e a realidade que os rodeia.

Mas você provavelmente não entende a si mesmo tão bem quanto pensa.

Entenda:

1. Sua perspectiva sobre si mesmo é distorcida.

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Seu “eu” está diante de você como um livro aberto.

Apenas olhe para dentro dele e leia: quem você é, o que gosta e não gosta, suas esperanças e medos; eles estão todos lá, prontos para serem entendidos.

Essa noção é popular, mas provavelmente é completamente falsa!

Pesquisas psicológicas mostram que não temos acesso privilegiado a quem somos. Quando tentamos nos avaliar com precisão, estamos, na realidade, tentando enxergar em um nevoeiro.

A psicóloga da Universidade de Princeton, Emily Pronin, especializada em autopercepção e tomada de decisões humanas, chama a crença equivocada de acesso privilegiado à “ilusão de introspecção”.

A maneira como nos vemos é distorcida, mas não percebemos isso. Como resultado, nossa autoimagem tem surpreendentemente pouco a ver com nossas ações.

Por exemplo, podemos estar absolutamente convencidos de que somos empáticos e generosos, mas ainda ignoramos um morador de rua em um dia frio.

A razão para essa visão distorcida é bastante simples, de acordo com Pronin. Como não queremos ser mesquinhos, arrogantes ou hipócritas, supomos que não somos nada disso.

Como prova, ela aponta para nossas visões divergentes de nós mesmos e dos outros.

Não temos dificuldade em reconhecer o quão preconceituoso ou injusto nosso colega de escritório age em relação a outra pessoa.

Mas não consideramos que podemos nos comportar da mesma maneira: como pretendemos ser moralmente bons, nunca nos ocorre que também possamos ser preconceituosos.

Pronin avaliou sua tese em vários experimentos. Entre outras coisas, ela fez seus participantes do estudo completarem um teste envolvendo rostos correspondentes com declarações pessoais que supostamente avaliariam sua inteligência social.

Posteriormente, alguns deles foram informados de que haviam falhado e foram solicitados a identificar os pontos fracos no procedimento de teste.

Embora as opiniões dos sujeitos fossem quase certamente tendenciosas (não apenas supostamente fracassaram no teste, eles também foram solicitados a criticá-lo), a maioria dos participantes disse que suas avaliações eram completamente objetivas.

Era o mesmo em julgar obras de arte, embora os sujeitos que usaram uma estratégia tendenciosa para avaliar a qualidade das pinturas acreditassem, no entanto, que seu próprio julgamento estava equilibrado.

Pronin argumenta que fomos feitos para mascarar nossos próprios preconceitos.

A palavra “introspecção” é apenas uma boa metáfora?

Será que não estamos olhando para dentro de nós mesmos, como sugere a raiz latina da palavra, mas produzindo uma autoimagem lisonjeira que nega as falhas que todos nós temos?

A pesquisa sobre o autoconhecimento produziu muitas evidências para essa conclusão. Embora pensemos que estamos nos observando claramente, nossa autoimagem é afetada por processos que permanecem inconscientes.

2. Seus motivos são, muitas vezes, um completo mistério para você.

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Quão bem as pessoas se conhecem? Ao responder a essa pergunta, os pesquisadores encontram o seguinte problema: para avaliar a autoimagem de uma pessoa, é preciso saber quem ela realmente é.

Investigadores usam uma variedade de técnicas para lidar com essas questões.

Por exemplo, eles comparam as autoavaliações dos sujeitos com o comportamento dos sujeitos em situações de laboratório ou na vida cotidiana.

Eles podem pedir a outras pessoas, como parentes ou amigos, para avaliar os sujeitos também. E eles sondam inclinações inconscientes usando métodos especiais.

Para medir as inclinações inconscientes, os psicólogos podem aplicar um método conhecido como teste de associação implícita (TAI), desenvolvido na década de 1990 por Anthony Greenwald, da Universidade de Washington, e seus colegas, para revelar atitudes ocultas.

Desde então, inúmeras variantes foram concebidas para examinar a ansiedade, impulsividade e sociabilidade, entre outras características.

A abordagem pressupõe que as reações instantâneas não exigem reflexão; como resultado, partes inconscientes da personalidade vêm à tona.

Notavelmente, os pesquisadores procuram determinar com que exatidão as palavras que são relevantes para uma pessoa estão ligadas a certos conceitos.

Por exemplo, os participantes de um estudo foram solicitados a pressionar uma tecla o mais rápido possível quando uma palavra que descrevesse uma característica como extroversão (digamos, “falante” ou “energética”) aparecesse em uma tela.

Eles também foram solicitados a pressionar a mesma tecla assim que vissem uma palavra na tela relacionada a si mesmos (como seu próprio nome).

Eles deveriam pressionar uma tecla diferente assim que uma característica introvertida (digamos, “quieta” ou “reservada”) aparecesse ou quando a palavra envolvesse outra pessoa.

É claro que as palavras e combinações de teclas foram trocadas ao longo de muitos testes.

Se uma reação fosse mais rápida quando uma palavra associada ao participante seguisse “extrovertida”, por exemplo, supunha-se que a extroversão fosse provavelmente parte integrante da autoimagem daquela pessoa.

Tais autoconceitos “implícitos” geralmente correspondem apenas às avaliações do “eu” que são obtidas através de questionários. A imagem que as pessoas transmitem nas pesquisas tem pouco a ver com suas reações rápidas a palavras emocionalmente carregadas.

E a autoimagem implícita de uma pessoa é muitas vezes bastante preditiva de seu comportamento real, especialmente quando o nervosismo ou a sociabilidade estão envolvidos.

Por outro lado, os questionários fornecem melhores informações sobre características como consciência ou abertura a novas experiências.

A psicóloga Mitja Back, da Universidade de Münster, na Alemanha, explica que os métodos destinados a provocar reações automáticas refletem os componentes espontâneos ou habituais de nossa personalidade.

A consciência e a curiosidade, por outro lado, exigem um certo grau de pensamento e, portanto, podem ser avaliadas mais facilmente por meio da autorreflexão.

3. As aparências externas dizem muito às pessoas sobre você.

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Muitas pesquisas indicam que as pessoas mais próximas e mais queridas nos veem melhor do que nós mesmos.

Como mostrou a psicóloga Simine Vazire, da Universidade da Califórnia, Davis, duas condições em particular podem permitir que outras pessoas reconheçam quem realmente somos mais prontamente:

Primeiro, quando elas são capazes de “ler” uma característica externa e, segundo, quando uma característica tem uma valência clara, positiva ou negativa (inteligência e criatividade são obviamente desejáveis, por exemplo; desonestidade e egocentrismo não).

Nossas avaliações de nós mesmos combinam melhor com as avaliações de outros quando se trata de características mais neutras.

As características geralmente mais legíveis por outros são aquelas que afetam fortemente nosso comportamento.

Por exemplo, pessoas que são naturalmente sociáveis normalmente gostam de conversar e procurar companhia; a insegurança geralmente se manifesta em comportamentos como apertas as mãos ou desviar o olhar.

Em contraste, a infelicidade geralmente é interna, se desenrolando dentro dos limites da mente.

Estamos frequentemente cegos para o efeito que temos sobre os outros, pois simplesmente não vemos nossas próprias expressões faciais, gestos e linguagem corporal.

Eu dificilmente estou consciente de que meus olhos piscando indicam estresse, ou que a queda na minha postura revela o quanto algo pesa sobre mim.

Por ser tão difícil nos observar, devemos confiar nas observações de outros, especialmente daqueles que nos conhecem bem. É difícil saber quem somos, a menos que os outros nos digam como os afetamos.

Inseguro? Quem, eu?! Muitas vezes entendemos mal o efeito que temos sobre os outros.

4. Ganhar alguma distância pode ajudá-lo a se conhecer melhor.

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Manter um diário, fazer uma pausa para a autorreflexão e conversar com outras pessoas tem uma longa tradição, mas é difícil dizer se esses métodos nos permitem conhecer a nós mesmos.

De fato, às vezes, fazer o oposto – como desapegar – é mais útil, pois proporciona certa distância.

Em 2013, Erika Carlson, agora na Universidade de Toronto, revisou a literatura sobre se e como a meditação da plenitude melhora o autoconhecimento de alguém.

Ajuda, observou ela, ao superar dois grandes obstáculos: o pensamento distorcido e a proteção do ego.

A prática da plenitude nos ensina a permitir que nossos pensamentos simplesmente se desviem e que nos identifiquemos com eles o mínimo possível.

Pensamentos, afinal, são “apenas pensamentos” e não a verdade absoluta. Frequentemente sair de si mesmo dessa maneira e simplesmente observar a mente realmente promove clareza.

Obter percepções sobre nossos motivos inconscientes pode aumentar o bem-estar emocional.

Oliver C. Schultheiss, da Universidade Friedrich-Alexander de Erlangen-Nürnberg, na Alemanha, mostrou que nossa sensação de bem-estar tende a crescer à medida que nossos objetivos conscientes e motivos inconscientes se tornam mais alinhados ou congruentes.

Por exemplo, não devemos ser escravos em uma carreira que nos dê dinheiro e poder se esses objetivos forem de pouca importância para nós.

Mas como conseguimos essa harmonia? Imaginando, por exemplo.

Tente imaginar, da maneira mais vívida e detalhada possível, como as coisas seriam se o seu desejo mais fervoroso se tornasse realidade.

Isso realmente faria você mais feliz? Frequentemente sucumbimos à tentação de mirar excessivamente alto, sem levar em conta todos os passos e esforços necessários para atingir metas ambiciosas.

Autodescoberta por diário? Aqueles que se veem distantes de si mesmos – por exemplo, na solidão – podem se ver mais claramente.

5. Muitas vezes pensamos que somos melhores em algo do que somos.

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Você está familiarizado com o efeito Dunning Kruger? Ele sustenta que quanto mais incompetentes as pessoas são, menos elas estão conscientes de sua incompetência.

O efeito tem o nome de David Dunning, da Universidade de Michigan, e Justin Kruger, da Universidade de Nova York.

Dunning e Kruger deram aos seus participantes uma série de tarefas cognitivas e pediram que estimassem o desempenho deles.

Na melhor das hipóteses, 25% dos participantes viram seu desempenho de maneira mais ou menos realista; apenas algumas pessoas se subestimaram.

25% dos sujeitos que tiveram pior pontuação nos testes realmente erraram o alvo, exagerando muito suas habilidades cognitivas.

É possível que ostentar e fracassar sejam dois lados da mesma moeda?

Como os pesquisadores enfatizam, seu trabalho destaca uma característica geral da autopercepção: cada um de nós tende a negligenciar nossas deficiências cognitivas.

De acordo com o psicólogo Adrian Furnham, da University College London, a correlação estatística entre o QI percebido e o real é, em média, apenas 0,16 – um resultado muito ruim, para dizer o mínimo.

Por comparação, a correlação entre altura e sexo é de cerca de 0,7.

Então, por que o abismo entre o desempenho potencial e real é tão grande? Todos nós não temos interesse em nos avaliar realisticamente? Certamente nos pouparia muito esforço desperdiçado e talvez alguns constrangimentos.

A resposta, ao que parece, é que uma inflação moderada da autoestima traz certos benefícios.

De acordo com uma revisão feita pelos psicólogos Shelley Taylor, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, e Jonathon Brown, da Universidade de Washington, a percepção otimista tende a aumentar nossa sensação de bem-estar e nosso desempenho.

Pessoas afligidas pela depressão, por outro lado, tendem a ser brutalmente realistas em suas autoavaliações.

Uma autoimagem embelezada parece nos ajudar a superar os altos e baixos da vida cotidiana.

6. As pessoas que se colocam para baixo passam por contratempos com mais frequência.

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Embora a maioria de nossos contemporâneos tenha visões excessivamente positivas de sua honestidade ou inteligência, algumas pessoas sofrem com a distorção oposta: elas diminuem a si mesmas e a seus esforços.

Experimentar o desprezo e a depreciação na infância, muitas vezes associados à violência e ao abuso, podem desencadear esse tipo de negatividade – o que, por sua vez, pode limitar o que as pessoas podem realizar, levando à desconfiança, desespero e até pensamentos suicidas.

Pode parecer lógico pensar que pessoas com uma autoimagem negativa seriam apenas aquelas que gostariam de compensar demais.

No entanto, como os psicólogos que trabalham com William Swann, da Universidade do Texas, em Austin, descobriram, muitos indivíduos atormentados pela insegurança buscam a confirmação de sua autopercepção distorcida.

Swann descreveu esse fenômeno em um estudo sobre o contentamento no casamento.

Ele perguntou aos casais sobre suas próprias forças e fraquezas, as maneiras pelas quais se sentiam apoiados e valorizados por seu parceiro e o quanto eles estavam contentes no casamento.

Como esperado, aqueles que tiveram uma atitude mais positiva em relação a si mesmos encontraram maior satisfação em seu relacionamento quanto mais elogios e reconhecimento recebiam de sua outra metade.

Mas aqueles que habitualmente implicavam consigo mesmos se sentiam mais seguros em seu casamento quando o parceiro refletia sua imagem negativa de volta para eles.

Eles não pediram respeito ou apreciação. Pelo contrário, eles queriam ouvir exatamente a sua própria visão de si mesmos: “Você é incompetente.”

Swann baseou sua teoria da autoverificação nesses resultados. A teoria sustenta que queremos que os outros nos vejam da maneira como nos vemos.

Em alguns casos, as pessoas realmente provocam outras pessoas a responder negativamente a elas, de modo a provar o quanto elas são inúteis.

Esse comportamento não é necessariamente masoquismo. É sintomático do desejo de coerência: se os outros nos respondem de uma maneira que confirma nossa autoimagem, então o mundo é como deveria ser.

Da mesma forma, as pessoas que se consideram fracassadas sairão do seu caminho para não ter sucesso, contribuindo ativamente para a sua própria ruína.

Eles vão perder as reuniões, negligenciar o trabalho designado e se desentender com o chefe.

A abordagem de Swann contradiz a teoria de superestimação de Dunning e Kruger. Mas ambos os campos provavelmente estão certos: egos hiperinflados são certamente comuns, mas autoimagens negativas não são incomuns.

7. Você se engana sem perceber.

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De acordo com uma teoria influente, nossa tendência para o autoengano vem do nosso desejo de impressionar os outros. Para parecer convincente, nós mesmos devemos estar convencidos de nossas capacidades e veracidade.

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Apoiando esta teoria está a observação de que os manipuladores de sucesso são muitas vezes cheios de si mesmos.

Bons vendedores, por exemplo, exalam um entusiasmo contagiante; por outro lado, aqueles que duvidam de si geralmente não são bons em falar docemente.

A pesquisa de laboratório também apoia a teoria.

Em um estudo, era oferecido dinheiro aos participantes se, em uma entrevista, eles pudessem alegar de forma convincente ter gabaritado um teste de QI.

Quanto mais esforço os candidatos colocaram em suas performances, mais eles passaram a acreditar que tinham um QI alto, apesar de suas pontuações reais serem mais ou menos médias.

Nossos autoenganos têm se mostrados bastante mutáveis. Muitas vezes os adaptamos de maneira flexível a novas situações. Essa adaptabilidade foi demonstrada por Steven A. Sloman, da Brown University e seus colegas.

Seus sujeitos foram convidados a mover um cursor para um ponto na tela do computador o mais rápido possível.

Se os participantes eram informados de que a habilidade acima da média nessa tarefa refletia alta inteligência, eles imediatamente se concentravam na tarefa e se saíam melhor.

Eles não pareciam realmente pensar que haviam exercido mais esforço – o que os pesquisadores interpretam como evidência de um autoengano bem-sucedido.

Por outro lado, se os participantes do teste estivessem convencidos de que apenas os idiotas tiveram bom desempenho em tarefas tão estúpidas, seu desempenho despencava rapidamente.

Mas o autoengano é mesmo possível? Podemos saber algo sobre nós mesmos em algum nível sem estarmos conscientes disso? Com certeza!

A evidência experimental envolve o seguinte desenho de pesquisa: fitas de áudio de vozes humanas são reproduzidas aos participantes, incluindo suas próprias vozes, e eles são solicitados a sinalizar se eles se ouvem.

A taxa de reconhecimento flutua, dependendo da clareza das fitas de áudio e do volume do ruído de fundo.

Se as ondas cerebrais são medidas ao mesmo tempo, sinais específicos na leitura indicam com certeza se os participantes ouviram sua própria voz.

A maioria das pessoas fica um tanto envergonhada de ouvir sua própria voz.

Em um estudo clássico, Ruben Gur, da Universidade da Pensilvânia, e Harold Sackeim, da Universidade de Columbia, fizeram uso dessa reticência, comparando as afirmações dos participantes com sua atividade cerebral.

E eis que, a atividade cerebral frequentemente sinalizou: “Esse sou eu!”, sem que os participantes tivessem identificado abertamente uma voz como sua.

Além disso, se os investigadores ameaçassem a autoimagem dos participantes – digamos, dizendo que tinham ido muito mal em outro teste (irrelevante) – eles eram ainda menos aptos a reconhecer sua voz.

De qualquer forma, suas ondas cerebrais contavam a história real.

Em um estudo mais recente, os pesquisadores avaliaram os desempenhos em um teste prático, destinado a ajudar os alunos a avaliar seus próprios conhecimentos para que eles pudessem preencher as lacunas.

Aqui, os sujeitos foram solicitados a completar o máximo de tarefas possível dentro de um limite de tempo definido.

Dado que o objetivo do teste prático era fornecer aos alunos as informações de que precisavam, fazia pouco sentido para eles trapacearem; ao contrário, as notas artificialmente elevadas poderiam prejudicá-los no estudo.

Aqueles que tentaram melhorar suas pontuações usando o tempo além do período de conclusão previsto, estariam apenas se machucando. Mas muitos dos voluntários fizeram exatamente isso.

Inconscientemente, eles simplesmente queriam parecer bem.

Assim, os trapaceiros explicaram sua “trapaça” alegando terem sido distraídos e querendo compensar os segundos perdidos. Ou eles disseram que seus resultados distorcidos estavam mais próximos de seu “verdadeiro potencial”.

Tais explicações, de acordo com os pesquisadores, confundem causa e efeito, com pessoas pensando incorretamente:

“Pessoas inteligentes geralmente se saem melhor em testes. Então, se eu manipular minha pontuação no teste simplesmente usando um pouco mais de tempo do que o permitido, também sou um dos espertos.”

Por outro lado, as pessoas se saíram pior quando dito que ir bem no teste indicava um risco maior de desenvolver esquizofrenia. Os pesquisadores chamam esse fenômeno de autoengano diagnóstico.

8. O “eu verdadeiro” é bom para você.

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A maioria das pessoas acredita ter um núcleo essencial sólido, um eu verdadeiro.

Quem eles são de verdade é evidenciado principalmente em seus valores morais e é relativamente estável; outras preferências podem mudar, mas o eu verdadeiro permanece o mesmo.

Rebecca Schlegel e Joshua Hicks, ambos da Universidade Texas A & M, e seus colegas examinaram como a visão das pessoas sobre o seu eu verdadeiro afeta sua satisfação consigo mesmas.

Os pesquisadores pediram aos participantes que mantivessem um diário sobre sua vida cotidiana.

Os participantes acabaram se sentindo mais alienados de si mesmos quando fizeram algo moralmente questionável: eles se sentiam especialmente inseguros sobre quem eles realmente eram quando eram desonestos ou egoístas.

Experimentos também confirmaram uma associação entre o eu e a moralidade. Quando os participantes são lembrados de irregularidades anteriores, sua garantia sobre si é muito afetada.

George Newman e Joshua Knobe, ambos da Universidade de Yale, descobriram que as pessoas normalmente acham que os humanos abrigam um eu verdadeiro que é virtuoso.

Eles apresentaram aos participantes estudos de caso de pessoas desonestas, racistas e afins.

Os participantes geralmente atribuíram o comportamento dos estudos de caso a fatores ambientais, como uma infância difícil – a verdadeira essência dessas pessoas certamente deve ter sido diferente.

Este trabalho mostra nossa tendência a pensar que, no fundo do coração, as pessoas tendem para o que é moral e bom.

Outro estudo de Newman e Knobe envolveu “Mark”, um cristão devoto que, no entanto, sentia atração por outros homens. Os pesquisadores procuraram entender como os participantes viram o dilema de Mark.

Para os participantes conservadores, o “eu verdadeiro” de Mark não era gay; eles recomendaram que ele resistisse a tais tentações. Aqueles com uma visão mais liberal achavam que ele deveria sair do armário.

No entanto, se Mark foi apresentado como um humanista secular que achava que não havia problema ser homossexual, mas tinha sentimentos negativos quando pensava em casais do mesmo sexo, os conservadores rapidamente identificaram essa relutância como evidência do eu verdadeiro de Mark; liberais viam isso como evidência de uma falta de percepção ou sofisticação.

Em outras palavras, o que afirmamos ser o núcleo da personalidade de outra pessoa está, de fato, enraizado nos valores que nós mesmos mais prezamos.

O “eu verdadeiro” acaba sendo um critério moral.

A crença de que o eu verdadeiro é moral provavelmente explica por que as pessoas conectam melhorias pessoais mais do que deficiências pessoais ao “eu verdadeiro”.

Aparentemente, nós o fazemos ativamente para melhorar as avaliações de nós mesmos.

Anne E. Wilson, da Universidade Wilfrid Laurier, em Ontário, e Michael Ross, da Universidade de Waterloo, em Ontário, demonstraram em vários estudos que tendemos a atribuir mais traços negativos à pessoa que éramos no passado – o que nos faz parecer melhores aqui e agora.

De acordo com Wilson e Ross, quanto mais as pessoas voltam ao passado, mais negativa se torna sua caracterização.

Embora a melhoria e a mudança façam parte do processo normal de amadurecimento, faz bem acreditar que, ao longo do tempo, alguém se tornou “quem realmente é”.

Assumir que temos uma identidade central sólida reduz a complexidade de um mundo que está constantemente em fluxo. As pessoas ao nosso redor desempenham muitos papéis diferentes, agindo de forma inconsistente e, ao mesmo tempo, continuando a se desenvolver.

É reconfortante pensar que nossos amigos Tom e Sarah serão exatamente os mesmos de hoje e que são basicamente pessoas boas – independentemente dessa percepção estar correta.

A vida sem a crença em um eu verdadeiro é mesmo imaginável? Pesquisadores examinaram essa questão comparando diferentes culturas.

A crença em um eu verdadeiro é generalizada na maior parte do mundo. Uma exceção é o budismo, que prega a inexistência de um eu estável.

Os monges budistas são ensinados a ver através do caráter ilusório do ego – está sempre em fluxo e completamente maleável.

Nina Strohminger, da Universidade da Pensilvânia, e seus colegas queriam saber como essa perspectiva afeta o medo da morte. Eles deram uma série de questionários e cenários para cerca de 200 tibetanos leigos e 60 monges budistas.

Eles compararam os resultados com os dos cristãos e não religiosos nos EUA, assim como com os hindus (que, assim como os cristãos, acreditam que um núcleo da alma, ou atman, dá aos seres humanos sua identidade).

A imagem comum dos budistas é que eles são pessoas profundamente relaxadas, completamente “altruístas”. No entanto, quanto menos os monges tibetanos acreditavam em uma essência interna estável, maior a probabilidade de eles temerem a morte.

Além disso, eles eram significativamente mais egoístas em um cenário hipotético em que renunciar a um medicamento em particular poderia prolongar a vida de outra pessoa.

Quase três a cada quatro monges decidiram contra essa opção fictícia, muito mais do que os americanos ou hindus.

Budistas egoístas e medrosos? Em outro artigo, Strohminger e seus colegas chamaram a ideia do eu verdadeiro de “fantasma esperançoso”, embora possivelmente útil.

É, em todo caso, um que é difícil de abalar.

Os budistas acreditam que o ego é uma ilusão. A pesquisa mostra, no entanto, que esta crença promove um maior medo da morte do que os acreditam em um eu verdadeiro.

9. Pessoas inseguras tendem a se comportar mais moralmente.

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A insegurança é geralmente considerada uma desvantagem, mas não é totalmente ruim. As pessoas que se sentem inseguras se possuem algum traço positivo tendem a tentar provar que o têm.

Aqueles que não têm certeza de sua generosidade, por exemplo, são mais propensos a doar dinheiro para uma boa causa.

Esse comportamento pode ser extraído experimentalmente, dando aos indivíduos feedback negativo – por exemplo, “de acordo com nossos testes, você é menos prestativo e cooperativo do que a média”.

As pessoas não gostam de ouvir tais julgamentos e acabam engordando a caixa de doações.

Drazen Prelec, um psicólogo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, explica essas descobertas com sua teoria da autosinalização: o que uma determinada ação diz sobre mim é muitas vezes mais importante do que o objetivo real da ação.

Várias pessoas aderiram a uma dieta porque não queriam parecer com pouca força de vontade.

Por outro lado, foi estabelecido empiricamente que aqueles que têm certeza de que são generosos, inteligentes ou sociáveis, fazem menos esforço para provar isso.

Muita autoconfiança torna as pessoas complacentes e aumenta o abismo entre o eu que elas imaginam e o eu que é real.

Portanto, aqueles que pensam que se conhecem bem estão particularmente aptos a se conhecerem menos bem do que pensam.

As pessoas que não têm certeza de sua própria generosidade costumam doar mais para boas causas.

10. Se você se considera flexível, se sairá muito melhor.

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As teorias das próprias pessoas sobre quem elas são influenciam como elas se comportam. A autoimagem da pessoa pode facilmente se tornar uma profecia autorrealizável.

Carol Dweck, da Universidade de Stanford, passou muito tempo pesquisando esses efeitos. Seu argumento: se vemos uma característica como mutável, estamos inclinados a trabalhar mais nela.

Por outro lado, se considerarmos um traço, como o QI ou a força de vontade, como largamente imutável e inerente, faremos pouco para melhorá-lo.

Nos estudos de Dweck com estudantes, homens e mulheres, pais e professores, ela aprendeu um princípio básico: as pessoas com um sentido rígido de autoconhecimento fracassam gravemente.

Elas veem isso como evidência de suas limitações e temem isso; o medo do fracasso, por sua vez, pode causar fracasso.

Em contraste, aquelas que entendem que um determinado talento pode ser desenvolvido, aceitam contratempos como um convite para fazer melhor da próxima vez.

Dweck, portanto, recomenda uma atitude voltada para o crescimento pessoal. Quando em dúvida, devemos assumir que temos algo mais para aprender e que podemos melhorar e desenvolver.

Mas mesmo as pessoas que têm um senso de identidade rígido não são fixadas em todos os aspectos de sua personalidade.

Segundo o psicólogo Andreas Steimer, da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, mesmo quando as pessoas descrevem seus pontos fortes como completamente estáveis, eles tendem a acreditar que vão superar suas fraquezas, mais cedo ou mais tarde.

Se tentarmos imaginar como nossa personalidade será em vários anos, nos inclinamos para visões como: “Nível mental e foco claro ainda serão parte integrante de quem eu sou, e eu provavelmente terei menos dúvidas.”

No geral, tendemos a ver nosso caráter como mais estático do que é, presumivelmente porque essa avaliação oferece segurança e direção. Queremos reconhecer nossos traços e preferências particulares para que possamos agir de acordo.

Em última análise, a imagem que criamos de nós mesmos é uma espécie de refúgio seguro em um mundo em constante mudança.

E a moral da história? Segundo os pesquisadores, o autoconhecimento é ainda mais difícil de alcançar do que se pensava.

A psicologia contemporânea questionou fundamentalmente a noção de que podemos nos conhecer objetivamente e com finalidade. Deixou claro que o “eu” não é uma “coisa”, mas sim um processo de adaptação contínua às circunstâncias em mudança.

E o fato de tantas vezes nos vermos mais competentes, morais e estáveis do que realmente somos serve à nossa capacidade de adaptação.

Fonte: AWEBIC


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