Sou totalmente apaixonada por massagens. Ayurvédica, drenagem, sueca, biodinâmica, pedras quentes, quer inventar uma técnica nova? Pode me chamar para cobaia, com certeza darei cinco estrelinhas. Tudo o que sou econômica em um shopping-center, sou descontrolada em um spa. Três dígitos? Está razoável se é em prol do bem-estar. Ah, em Euros? Então são quase quatro, um disparate. Mas dois minutos depois resolvo que entra naquela nobre (e ampla) categoria das “experiências” em que vale a pena investir!
Se o objetivo é simplesmente uma hora vagueando pelo paraíso, escolho uma daquelas relaxantes, regadas a cremes, aromas, e um Enya style no pano de fundo. Mas se a intenção é aliviar alguma dor ou desconforto físico, daí vou certeira ao “shiatsu-porrada”, onde a japonesa não tem o menor pudor de pressionar sua costela até o pâncreas, se assim for necessário. Peno um pouquinho, mas saio renovada. Recentemente indiquei uma massagista para uma amiga, e ela quase terminou a amizade, dizendo que se estou com raiva dela, deveria chamá-la para discutir civilizadamente a relação ao invés de tentar agredi-la enviando uma psicopata disfarçada de massoterapeuta.
Mas exageros à parte, percebi que sou assim também com os desconfortos da alma. Se tem algo me incomodando, meu alívio é mais provável quando estou disposta a colocar o dedo na ferida. Sou daquelas que preciso tocar tecidos mais profundos se quero me sentir genuinamente mais leve. Vai doer um pouquinho, mas vai valer a pena. Se estou inquieta ou ansiosa sem razão aparente, por exemplo, preciso de algumas perguntas poderosas para entender qual o verdadeiro medo por trás da angústia. Toda vez que tento chegar ao cerne de alguma questão, seja ela qual for, a busca em si já ajuda a dissolver o incômodo – simples assim. Do lado de fora, nada mudou. Mas um olhar mais apurado para dentro acaba desenhando uma nova realidade. Claro que há momentos em que simplesmente não estou a fim de escarafunchar. Tapo o sol com a peneira, olho para o outro lado, invento uma desculpa para faltar na terapia, tomo uma tacinha de vinho, permito-me um brigadeiro (ou alguns) a mais, “maratono” uns episódios no Netflix e finjo que não é comigo. Mas se resolvo encarar, não há nada como um bom shiatsu mental para dissolver alguns dos nós acumulados.
Por Shelly Zaclis Bronstein – Autoterapia