Sabemos que pensar claramente e extrair todo o potencial de nossas mentes é uma tarefa extremamente árdua, somos constantemente mutilados por falsas informações e enganados até mesmo pelos nossos próprios olhos. Nossa própria natureza nos conduz a enganos dificilmente perceptíveis sem uma análise rigorosa. Entretanto, uma análise rigorosa exige de nós dedicação e determinação, o que frequentemente esbarra em outra tendência negativa da natureza humana, a saber, o comodismo.
Um dos maiores perigos da estrada pela busca por uma melhor capacidade de pensamento é a preguiça intelectual, porém por maior que seja essa sombra, nem sempre conseguimos identificá-la. De repente, eis que lá está ela nos abraçando carinhosamente sem que tomemos a decisão de afastá-la. Seu abraço é bom, cômodo, confortável. Não há motivos para abandoná-la. Entretanto, frequentemente nossas sensações nos enganam e, às vezes, o que é demasiadamente confortável pode representar um risco imenso para a nossa jornada.
Durante muito tempo a ciência sofreu não apenas com os problemas já referidos, próprios da nossa natureza, mas também com a escassez de ferramentas e com a constante opressão da igreja que temia perder seus dogmas para o saber racional e esclarecido, dificultando ao máximo a transição para a mentalidade científica moderna, perseguindo grandes pensadores, pioneiros da ciência moderna, a partir da Inquisição.
Essa ruptura na estrutura de pensamento vigente, fez com que se tornasse essencial encontrar um novo método para a ciência; regras seguras que pudessem nos conduzir a um conhecimento verdadeiro e necessário a respeito de tudo o que fosse possível.
Nesse cenário, e aqui começo me direcionar para o ponto central desse texto, conhecemos Francis Bacon, grande teórico considerado um dos maiores responsáveis pela criação do famoso método indutivo de investigação científica.
O motivo de trazer esse autor especificamente vem da minha imensa simpatia com a maneira com que Bacon concebia a ciência preocupando-se com a utilização dos conhecimentos científicos na vida prática, manifestando sempre interesse pelos avanços tecnológico de sua época.
Francis Bacon desenvolveu uma teoria, denominada “Teoria dos Ídolos”, que além de ser extremamente atraente, nos é muito útil. O que ele chamou de ídolo, pode ser chamado de “erro enraizado”, “falsa noção” ou “mau hábito mental”. Acredito que estes sejam mais coerentes com nosso tempo, portanto, optei pelo uso dos mesmos.
O filósofo destacou quatro tipos de erros enraizados que entorpecem nossa mente:
Ídolos da tribo: Esses se referem aos maus hábitos mentais provenientes de nossa própria natureza, de nossas próprias limitações enquanto seres humanos. De nossa incapacidade de conceber que nem sempre nossos sentidos podem ser a medida de todas as coisas.
Ídolos da caverna: Trata-se de erros provenientes de nossas particularidades, nossas próprias limitações. Dessa vez não enquanto espécie, mas enquanto um ser individual. Cada um possui uma caverna que intercepta e corrompe a luz que nos permitiria analisar as coisas mais claramente. Além disso, erros como esses também podem acontecer devido à educação ou conversação com determinados indivíduos que possamos admirar profundamente.
Ídolos do foro: Falsas noções advindas da linguagem, da comunicação, da associação recíproca dos indivíduos. Frequentemente podemos aceitar palavras impostas de maneira imprópria sem questionar, trazendo como consequência um imenso bloqueio ao nosso intelecto, arrastando-nos à inúmeras fantasias.
Um exemplo interessante que seria possível utilizar nesse caso é o do comércio, compramos coisas por impulso, por estarmos a mercê de nosso pensamento rápido e caímos frequentemente “no papo” de um vendedor. Se analisarmos bem, esse exemplo torna-se ainda mais rico, pois nele encontramos dois erros cometidos por nós, são eles; aqueles provindos de nossa natureza, ou seja, essa tendência do nosso cérebro em resolver determinadas situações com o pensamento rápido, de forma mais automática possível, de forma que consuma menos energia possível, e aqueles advindos de nossa comunicação, afinal é a partir da maneira como o vendedor se posiciona e fala diante de nós que somos conduzidos ou não a comprar determinado produto.
Ídolos do teatro: Erros decorrentes de princípios e axiomas problemáticos que possamos absorver. A partir do momento em que tomamos um sistema de pensamento como verdadeiro e nos fechamos para todo o resto, corremos o risco de cair em um obscurantismo mental preocupante.
O exame rigoroso e constante desses erros em nosso cotidiano pode fazer com que melhoremos nossa capacidade de pensamento e possamos usufruir muito mais de tudo que nos é apresentado.