Desde muito cedo a vontade de ser mãe já aguçava meus instintos. Nem mesmo uma síndrome ovariana conseguiu atrapalhar esse meu desejo. Tomando conhecimento dessa minha intensa vontade, a “Dona Cegonha” resolveu antecipar a realização desse sonho e com quatro meses de gravidez estava eu ao pé do altar, jurando “amor eterno” e rezando para não enjoar e passar mal diante de todos que ali, se encontravam.
É claro, apesar de todo meu querer, uma gravidez sem planejamento nos causa uma certa insegurança. Porém, em momento algum, passou-me pela cabeça interrompê-la e devolver à” Dona Cegonha”, o presente fora de hora. Desempregada, tranquei a faculdade e fui viver meu sonho de amor já começando a dar frutos. Na época, somente meu marido ficou trabalhando, a situação financeira não era das melhores mas, permitia uma vida tranquila, sem exageros.
Contudo, não me sentia confortável com o fato de não estar contribuindo financeiramente, e para diminuir as despesas, assumi todas as tarefas domésticas sem qualquer tipo de ajuda extra. E, seguia feliz com minha primeira gravidez. Os quilos chegavam e iam sendo distribuídos por todo o corpo. Eu não me importava, pelo contrário, me achava linda à medida em que crescia a barriga. Procurava usar roupas que evidenciassem a gravidez para poder mostrar a todos o meu estado de graça. Era uma vida gerando outra vida. Isso me encantava. As primeiras batidas do coração do bebe soaram aos meus ouvidos como uma “suíte de Bach”, enaltecendo minha alma.
Tenho muita admiração pelas mulheres fortes, corajosas, batalhadoras que conseguiram conciliar a maternidade à vida profissional. Não sou uma delas. Tudo que eu queria era estar perto do meu filho por tempo integral. Graças à ascensão profissional do meu marido, eu pude ir em frente com os planos de cuidar da criança mas mantive a decisão de continuar com todas as tarefas domésticas.
Passados oito meses, o mundo começou a ficar pequeno para aquele ser em formação que já sinalizava a vontade de conhecer o “Admirável Mundo Novo”. Sim, nasceu de oito meses. Não tive depressão pós parto. Tive, sim, um contentamento sem fim. Adorava cuidar, segurar, sentir o cheirinho, dar banho, cantar cantigas de ninar e alimentar, muito embora só tenha conseguido amamentar até os quatro meses. Meu bebe tinha boa saúde, porém era muito alérgico. Aos três meses nos deu um susto sem tamanho. Teve broncopneumonia e precisou ficar internado. Eram muitas idas e vindas à hospitais. E quando eu o via, tão pequenino, entubado e com agulhas espetadas em suas mãozinhas delicadas, tudo que eu pensava em ter, naquele momento, era uma varinha de condão para poder fazer passar a dor e o sofrimento do meu bebezinho.
E a vida seguia. Quando meu menino completou nove meses, novamente, “Dona Cegonha”, sem ser convidada, veio me visitar. Dessa vez, trazendo uma princesinha. Linda, tranquila e calada. E agradeci ao “Universo” por ter realizado meu sonho em dobro. Ainda me mantinha firme no propósito de seguir sem qualquer ajuda nos cuidados com a casa e as crianças. E, confesso, foram dias difíceis. Muitas vezes, batia firme o cansaço. A pouca diferença de idade entre os dois exigia muita atenção. Ambos usavam fraldas, tomavam mamadeiras e ficavam doentes ao mesmo tempo. Na época, o pai viajava muito a trabalho e eu assumia todo o comando e me multiplicava por duas.
Quando os dois já estavam um pouco mais crescidos, resolvi voltar à ativa e voltei a trabalhar. Trabalhei por alguns anos durante meio período em uma agência bancária. E, mesmo trabalhando meio período e deixando as crianças com uma tia de minha inteira confiança, o coração apertava por não estar ao lado deles. No começo dos anos noventa, por motivos profissionais nos mudamos para Brasília.
Pois bem, os ares candangos, apesar da secura, nos fizeram bem. E pela terceira vez, engravidei…Dessa terceira e última vez, ganhei mais um menino lindo e saudável.
Tive problemas com a amamentação dos três. Infelizmente, conseguia amamentar, somente, até os quatro meses de cada um. No último filho ainda tentei um pouco mais, porém o leite era pouco e a criança começou a perder peso. Precisei complementar com leite em pó. Na primeira mamadeira, enquanto minhas lágrimas rolavam por não conseguir amamentar por mais tempo, ele se deliciava com a fartura de leite que jorrava do “peito artificial”, rs.
A dedicação e o tempo vivido com meus filhos foram o maior e melhor investimento que eu poderia fazer na vida. Dinheiro nenhum paga.
De lá, para cá, algumas coisas mudaram e outras continuam como sempre foram. Hoje, os filhos seguem a vida e seguem bem encaminhados. Meu menino que foi tão doentinho, pegou gosto por hospitais e hoje, veste jaleco branco; virou doutor. Minha menina que pouco falava, resolveu colocar a boca no mundo e tornou-se repórter. Meu caçula tranquilo, amoroso e candango, tornou-se publicitário, baterista e fotógrafo. E o mais importante: são todos de um caráter impecável. E se eu tivesse que escolher novamente, outra vez, seria essa a minha escolha.
Elenice Bastos.