1- “A partir do momento que nos esforcemos em viver sinceramente, tudo irá bem, mesmo que tenhamos inevitavelmente que passar por aflições sinceras e verdadeiras desilusões; cometeremos provavelmente também pesados erros e cumpriremos más ações, mas é verdade que é preferível ter o espirito ardente, por mais que tenhamos que cometer mais erros, do que ser mesquinho e demasiado prudente. É bom amar tanto quanto possamos, pois nisso consiste a verdadeira força, e aquele que ama muito realiza grandes coisas e é capaz, e o que se faz por amor está bem feito. Se só pudéssemos dizer umas poucas palavras, mas que tivessem um sentido, seria melhor que pronunciar muitas que não fossem mais que sons vazios, e que poderiam ser pronunciadas com tanto mais facilidade, quanto menos utilidade tivessem. Se continuarmos a amar sinceramente o que na verdade é digno de amor, e não desperdiçarmos nosso amor em coisas insignificantes, nulas e insipidas, obteremos pouco a pouco mais luz e nos tornaremos mais fortes.”
Vincent Van Gogh, in: Cartas a Théo.
2 – Cada manhã era um alegre convite para viver minha vida com a mesma simplicidade e, diria eu, inocência da própria Natureza. (…) Dizem que a banheira do Tching-Thang trazia caracteres gravados a esse respeito: “Renova-te totalmente a cada dia; renova-te sempre”. Posso entender isso. A manhã traz de volta os tempos heroicos. (…)
O homem que não acredita que cada dia encerra uma hora mais matutina, mais sagrada e mais radiosa do que a que já profanou, este desesperou da vida e desce por uma senda cada vez mais escura. Após uma cessação parcial de sua vida sensorial, a alma ou, melhor, os órgãos do homem se revigoram a cada dia, e seu Gênio empreende novamente a nobreza de vida que lhe é possível. (…)
Os Vedas dizem: “Todas as inteligências despertam com a manhã”. A poesia e a arte, e as mais belas e memoráveis ações dos homens, provêm dessa hora. Todos os poetas e heróis, como Mêmnon, são filhos da Aurora, e emitem sua música ao nascer do sol. Para aquele cujo pensamento elástico e vigoroso acompanha o sol, o dia é uma perpétua manhã. Não importa o que dizem os relógios ou as altitudes e labores dos homens.
Manhã é quando estou desperto e há uma aurora em mim.
[Henry David Thoreau. In: Walden – Capítulo: Onde e para que vivi]
3- “Cada um de nós está só no mundo. Estamos presos numa torre de bronze e só conseguimos nos comunicar com o próximo por sinais, e os sinais não tem um valor comum, de forma que seu sentido é vago e incerto. Procuramos transmitir aos outros o tesouro do nosso coração, mas eles não têm o poder de aceitá-los, e assim seguimos solitários, lado a lado mas não juntos , incapazes de conhecer nossos semelhantes e sempre estranhos para eles. Somos como pessoas que vivem num país cuja língua conhecem tão pouco que, todas as maneiras para dizer coisas belas e profundas, ficam condenadas às banalidades da conversação por meio de gestos. Seus cérebros estão cheios de ideias, e só conseguem dizer que o guarda-chuva da tia do jardineiro está dentro de casa. “
W. Somersert Maugham. In: Um gosto e seis vinténs.
Pintura de Lesley Oldaker:
4- ” Grande, porém, é o poder da poesia para que aconteça, como juro que acontece, que esta pergunta simples aja como um tônico, um golpe de espora, e não seja, como poderia ser, tentação, o começo da interminável ladainha que é a piedade por nós próprios.”
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5- Os homens se parecem com crianças que adquirem maus hábitos quando mimadas; assim, não devemos ser muito indulgentes nem muito amáveis para com ninguém. Em regra, não perderemos um amigo por haver-lhe negado um empréstimo de dinheiro, mas isso poderia ocorrer facilmente caso o concedêssemos. Igualmente, não perderemos um amigo por uma postura orgulhosa e um pouco de negligência, mas não raro ocorre o oposto quando demonstramos um excesso de amabilidade e cortesia, pois isso o torna arrogante e insuportável, e a ruptura não tarde em produzir-se. O que os homens não podem suportar, sobretudo, é ideia de quem alguém necessite deles; segue-se inevitavelmente a arrogância e a insolência. Há algumas pessoas que de fato tornam-se rudes quando entramos em qualquer tipo de relação com elas; por exemplo, ao se conversar sobre assuntos confidenciais frequentemente. Logo imaginam que podem tomar certas liberdades, e tratarão de transgredir os limites da cortesia. Por isso há tão poucos indivíduos que podemos tratar com mais intimidade, e também por isso devemos nos guardar especialmente de qualquer familiaridade com naturezas vulgares. Se um indivíduo dessa classe imagina que tenho muito mais necessidade dele que ele tem necessidade de mim, então experimentará subitamente o sentimento de que lhe roubamos algo; tratará de vingar-se e de reaver sua propriedade. A superioridade em nossas relações com os homens resulta exclusivamente do fato de não necessitarmos deles e de deixarmos isso bem claro. Por tal motivo, é prudente que ocasionalmente façamos todos sentirem, homens e mulheres, que podemos muito bem prescindir deles. Isso fortalece a amizade; na verdade, não haverá problema se, por vezes, deixarmos que se introduza em nossa atitude para com a maioria deles uma partícula de desprezo. Com isso concederão mais valor à nossa amizade: chi non istima vien stimato [quem não estima se faz estimar], disse muito bem um provérbio italiano. Porém, se alguém realmente tem valor segundo nosso juízo, devemos esconder isso dele como se fosse um crime. Ainda que isso não seja exatamente gratificante, em todo caso é certo. Se nem os cães podem suportar demasiada gentileza, que dirão os homens.
— Arthur Schopenhauer, in Aforismos Para a Sabedoria de Vida