RG baixo ou chip bugado?

 

Se sentir-se jovem tem mais a ver com a mente do que com corpo, posso dizer que sou privilegiada por viver imersa na geração Y, dominante na empresa onde trabalho.  Acho que a convivência diária com pessoas mais jovens me ajuda a conectar alguns neurônios que estão louquinhos para se aposentar.  Na maioria do tempo sinto-me tão profundamente integrada que ignoro solenemente que um gap de quinze ou vinte anos possa trazer alguma diferença de perspectiva sobre qualquer assunto. Adoro as conversas, os almoços, os happy-hours. Sou millennial até que um maldito espelho me prove o contrário!  Mas por mais inserida que esteja, não tem jeito, algumas situações e conversas despretensiosas continuam a esfregar na cara meus arcaicos dados demográficos.

 

Conversas sobre criptomoedas, por exemplo.  Faço cara de conteúdo, afinal deveria ter mais a ver com finanças e tecnologia do que com idade, mas não consigo enganar por muito tempo.  Tenho amigos quarentões que são experts (ou pelo menos enganam melhor do que eu), então a questão não é o RG baixo, só me falta o tal chip mesmo.  A mesma coisa quando a conversa ramifica para  Blockchain. Já li e reli vários artigos a respeito – e concordo com os que dizem que é o futuro do mundo – só preciso urgentemente que me desenhem.

 

Abrir uma revista ou um site de celebridades e não reconhecer mais da metade das pessoas retratadas também não ajuda.   Já fui um dia letrada no mundo de Caras, mas hoje não domino mais o tema (e para ser sincera, acho que nem a própria revista domina).  Bruna Marquezine é linda de morrer, mas insisto em confundi-la com a Mariana Rios.  E como se não bastasse, às vezes também a confundo com a Isis Valverde.  Sei que uma pega o Neymar e a outra o Cauã, mas se resolvessem fazer um swing, eu nem me daria conta.  Isto falando apenas de atrizes globais!  Se fosse entrar na seara dos blogueiros e Youtubers, estaria completamente lascada.   Parei nos tempos da Pugliesi, uma figura considerada praticamente retrô.

 

Quando o assunto é diversidade, a dificuldade não está em respeitar, pois o apreço e afeição por qualquer ser-humano me vem naturalmente, mas sim em compreender (no sentido de curiosidade mesmo) quais seriam os cinquenta e seis gêneros que foram identificados dentro da antiga dicotomia “homem” e “mulher”, em um estudo realizado recentemente.  Consigo identificar cinco, talvez seis gêneros diferentes, mas para os outros cinquenta me falta repertório – ou talvez modernidade.

 

Mas o que me falta de modernidade, me sobra de consciência. Consciência plena e absoluta de que a vida é transformação!  E por isto sigo correndo atrás.  Não tenho obsessão de permanecer jovem (essa lição já aprendi), só almejo envelhecer bem, com saúde e o mais conectada possível ao mundo que me cerca.

 

Por Shelly Zaclis Bronstein – Autoterapia


Shelly Zaclis Bronstein

Shelly Zaclis Bronstein escreve crônicas e poemas, é autora do livro Autoterapia e trabalha como executiva de marketing de uma grande multinacional na área de tecnologia. Mora em São Paulo, é casada e mãe orgulhosa do Felipe e da Camila.

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