A GRANDE BELEZA

A GRANDE BELEZA
A hiper valorização da beleza física e da juventude está criando uma sociedade infeliz.
Atualmente, a vaidade é altamente estimulada em todos os sentidos. Queremos ser bonitos e jovens para sempre e esquecemos que só fica jovem pra sempre quem morre jovem.
O nascimento, o envelhecimento e a morte são fatos, mas nos ensinam a lutar contra o processo natural da vida.
À medida que envelhecemos, nos preocupamos muito com o corpo e pouco com a maturidade emocional. Criamos uma sociedade fraca baseada em valores altamente superficiais e irreais. Criamos imagens adequadas de beleza ligadas à juventude muito difíceis de sustentar.
O corpo naturalmente se transforma, estamos em processo de transformação e envelhecemos desde o momento que nascemos, mas somos ensinados que para sermos felizes e bem sucedidos, precisamos nos manter jovens para sempre.
O que acontece é que vemos cada vez mais pessoas envelhecendo com raiva de si mesmas e dos outros por não conseguirem manter a missão impossível de serem jovens para sempre. Pior, tanto é investido na preservação da autoimagem que se esquecem de olhar para a realidade dos fatos e deixam de perceber a paz e o contentamento que surgem naturalmente de uma mente clara.
A manutenção da beleza e da juventude é uma projeção mental baseada nos valores sociais da nossa época. Nem sempre foi assim. Em outros tempos se valorizava muito a experiência de vida, o saber, o conhecimento, a capacidade de lidar com a vida de maneira mais madura e equilibrada. O que acontece agora é que à medida que envelhecemos, vamos ficando cada vez mais fracos emocionalmente, pois nosso valor está em algo impermanente como a beleza.
Cada vez mais se vê pessoas ficando mais velhas e mais infantilizadas. Pessoas que focaram toda a sua energia na imagem e pouco fizeram interiormente.
A mente está sempre projetando, imaginando que se for assim ou assado, será feliz, terá prazer, haverá garantia de preservação do elogio, do reconhecimento do autovalor. Projeta que quanto mais jovem e bonita seja a pessoa, maior a garantia do prazer, felicidade e reconhecimento. Porém é fácil constatar que essa ideia é falsa.
Quantas pessoas bonitas e jovens são infelizes?
Quando se vê o falso, se vê a verdade. E o que é ver o falso? É ver todas as mentiras que contamos pra nós mesmos. É ver todos os condicionamentos e padrões que seguimos.
Sem confrontar os fatos, os condicionamentos não terminam. Queremos realmente ver os fatos? Ou queremos encontrar desculpas para continuarmos repetindo os mesmos padrões?
Formamos imagens para nos proteger. Acreditamos que sendo de certo modo, estaremos protegidos. Fazemos isso por medo, para não sermos magoados, para vivermos uma vida não conflituosa, mas ao fazermos isso, criamos ainda mais confusão. Resistimos às mudanças naturais, justificamos o injustificável em nome do medo do desconhecido.
Deneli Rodriguez.
10.09.2017.
*Essa imagem foi tirada do filme “A Juventude” de Paolo Sorrentino. Recomendo fortemente que o assistam. O filme trata desse assunto (do meu texto) de uma maneira difícil de descrever e difícil de esquecer. Uma obra prima cinematográfica.


Deneli Rodriguez

Pensadora, escritora e artista. Menção honrosa Itaú Cultural com seu texto "A Menina Iluminada". Concorrente aos prêmios Oceanos e Kindle de literatura. Livros: A Menina Iluminada e A Buda. Filmes: Charlote SP, primeiro longa metragem brasileiro filmado com celular, dirigido por Frank Mora; e Deneli, curta metragem vencedor de prêmios internacionais dirigido por Dácio Pinheiro.

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