A vida é mesmo uma viagem maluca e cheia de surpresas pelo caminho. Nessa estrada de flores (e espinhos), onde somos pilotos e passageiros, algumas paradas são obrigatórias. Sem isso, e sem a manutenção necessária, nossa “máquina” enferruja, perde o equilíbrio e começa a andar mais devagar.
Ah, mas quem é que tem tempo pra perder nessa vida? Não sei você, mas no meu tempo tem tempo pra isso. É isso ou a única coisa que terei a oferecer aos meus é uma metade de mim. Sem chance, vivo de inteiros.
Minhas paradas podem durar dois dias ou seis meses, depende muito de quais peças estão precisando de conserto. Se for o coração, a chave mais importante do processo todo, pode levar ainda mais tempo.
O lado ruim disso? Ah, o fato de que nem todas as pessoas compreendem essa parada obrigatória. Aliás, quase ninguém entende que alguns precisam desse tempo pra trocar o óleo. De resto, pelo menos pra mim, o resultado é sempre positivo.
O início do processo é de aceitação, algo do tipo: “não estou legal, o que está havendo?”. Difícil nessa fase é compreender a hora certa de parar. Porém, não é a parte mais dolorosa. O que pode causar um grande incômodo é o meio disso, pois transformar é quase um parto de nós mesmos.
É a hora de recomeçar dentro do casulo, mudar as cores, a pele e o jeito de olhar o mundo. Isso dói, amigo. É apertado lá dentro e, às vezes, escuro. Você se remexe para quebrar as correntes e é aí que o jogo começa.
Como disse antes, impossível saber o tempo que isso vai demorar. O segredo é aceitar nossa necessidade de libertação, pois a resiliência é a sua maior companheira nessa jornada. Aceitar e agradecer pela oportunidade de viver esse momento, ainda que doa como uma ferida aberta.
Depois disso, e só depois disso, a sensação de conforto se aproxima. Você vai saindo aos pouco do buraco e vendo que o sol continua a esperar o seu sorriso. E como num passe de mágica, olha só, você se reencontra.
O parto de nós mesmos é uma dádiva, um presente da vida pra gente. Quando entendemos isso, e tanto faz se isso acontece aos 15 ou aos 80 anos, podemos recomeçar de onde paramos.
E voltamos inteiros para quem amamos. E voltamos melhores para receber quem está para cruzar nosso caminho. E voltamos fortes para dar adeus a quem precisa seguir outra estrada. E abrimos os braços para os novos desafios, certos de que somos capazes de sonhar outra vez.
A vida é mesmo uma (deliciosa) viagem maluca.