Por que afinal damos tanta importância?
Somos bombardeados diariamente com a ideia de necessidade do prazer sexual. Dizem-nos que precisamos dele através dos filmes, livros, revistas, programas, conversas. É um assunto muito exposto e debatido, também em meios religiosos. Há versões que condenam o prazer, outras que o estimulam, mas a verdade é que em todas tentam nos convencer que existe uma forma ideal. Todas têm seus conceitos de como deveria ser e ensinam fórmulas para chegar a esse objetivo.
Não importa se é um psicólogo, um médico, um guru, um amigo, o que importa é que você, não se encaixando naquele modelo, precisa de ajuda, precisa resolver o problema.
Mais uma vez, estou escrevendo sobre padrões sociais. Se a pessoa tem 12, 13 anos e não tem um namorado, precisa ser estimulada a tê-lo. Se a pessoa não liga para o assunto ou não tem vontade de fazê-lo, tem algum problema, precisa ir à terapia, fazer exames, experimentar talvez outra forma de se relacionar sexualmente. Aprendemos que tem algo errado com nós se não nos encaixamos nas esferas de desejo do que nos é vendido como normal, adequado. A pergunta é: por que tem que ser tão importante?
A sexualidade é parte natural da vida, assim como andar, comer, dormir, mas, mais uma vez, nos é vendido um esquema de normalidade difícil de perceber, mas que nos movimenta a não estarmos satisfeitos sendo como somos.
A cada época existe um padrão sexual, isso é fácil de saber, é só estudar um pouco de história e psicologia. É-nos vendido um esquema de “liberdade” ou de contenção. Pessoas se machucam para sustentar tais modelos. A qualquer época, de qualquer forma, são criados padrões que muitas vezes são confundidos com liberdade. Se em determinada época ser livre é se relacionar com a maior quantidade possível de parceiros e você não tem essa vontade, tem algo de errado com você. Se em outra época, o ideal é monogâmico e você não se encaixa nisso, tem algo de errado com você. Se em outro momento, o ideal é experimentar o desejo sem gênero e você não tem essa vontade, tem algo de errado com você.
O ponto aqui é: sempre haverá algum modelo nos sendo imposto, quase sempre num nível inconsciente. É nossa roda de amigos que está vivenciando a sexualidade de uma determinada maneira, as personagens das novelas e dos filmes, as pautas de sexólogos e psicanalistas, somos “informados” o tempo todo na nossa rotina do que é o padrão do momento, quase sempre sem nos darmos conta disso.
Liberdade é ser quem você é.
É fluir no que te é natural e perceber os padrões de ação das construções mentais.
Qualquer esforço na direção do que nos dizem ser correto, cria um conflito interior. Se estivermos num meio em que nos é exigido o celibato, há um conflito. Se estivermos num meio em que nos é exigido nos relacionarmos o tempo todo com um par, há conflito também. A exigência por se adequar ao que se espera, cria sempre conflito, separação.
Ao sair de um padrão acaba-se entrando em outro sem perceber. A exigência dos outros ou a nossa em nos esforçamos para nos adequarmos às situações, criam conflito e onde há conflito não pode haver liberdade.
Enquanto estivermos tentando alcançar certo fim, estamos buscando o resultado. Se buscarmos um resultado, estamos funcionando através de alguma ideia, crença ou projeção. O que é feito pela mente, pode ser desmantelado a qualquer tempo. É isso o que acontece e é por isso que sofremos. Assim, pois, alguma teoria, ideia ou crença pode ser útil para o descobrimento da realidade?
Pode haver investigação quando a mente está presa a um motivo?
Permanecendo dentro do padrão nos perguntando o que acontecerá se sairmos dele é uma forma de fuga, uma falsa e inútil maneira de investigar. Quando a mente não está aprisionada, rendida na certeza, nem buscando a certeza, só então se encontra ela num estado de descobrimento.
Veja o fato, o que é, e deixai-o atuar, não atue sobre o fato, o “vós”, o mecanismo de repetição com suas opiniões, juízos e conhecimentos.
Repetição do que é bom ou mau, do que é nobre ou trivial, redunda em insensibilidade porque a mente só está se movendo nos domínios do conhecido. Assim, todo o esforço, correto ou incorreto, mantém o foco de realização no “eu” construído, na identidade. A manutenção da identidade cria sempre conflito e onde há conflito não pode haver liberdade.
Deneli Rodriguez.
14.08.2017.