Leia esse texto, por favor

“Não sei como você fez isso, mas desisti de algo muito ruim depois de ler o seu texto”. Bati a tampa do notebook imediatamente e abri mais rápido ainda, pois precisava ler aquilo de novo. Entre o primeiro impulso de fechar e o próximo segundo, mais ou menos em dois segundos, eu fui ao céu e voltei.

Não consegui responder instantaneamente, agora me diz, quem conseguiria? Precisei de um tempo para compreender o que aquela menina estava me dizendo e a grandiosidade com o que isso me puxou para tão perto dela.

Não a conheço, nunca vi, nem sei se é loira, morena, se é alta, baixinha, se mora com a avó ou se tem os pais presentes. Nem mesmo sei se estuda, o que quer fazer da vida, se já amou, se já se apaixonou, se tem amigos, se vive sozinha.

Sei exatamente o que ela me contou – antes de me abraçar com essa frase. Confesso que nem precisaria saber como ela vive, pois já havia compreendido para onde ela ia. Esse algo “muito ruim” que ela disse pode ser tanta coisa, né?

Eu sei, mas isso também não interessa porque a emoção não pede exatamente o mapa a ser percorrido, mas sim o destino ao qual se quer chegar. Saber que a rota de uma menina de 19 anos estava em pane e meu texto conseguiu abrir um atalho para que ela percebesse a luz, saber disso é uma realização.

É uma realização muito maior do que qualquer dinheiro que um prêmio literário me dê, que a venda em massa de um livro proporcione ou que alguém me ofereça em troca de minhas rimas.

Não há dinheiro que compre o encontro, nem mérito que diminua a grandiosidade de fazer o bem, nem curtidas, nem compartilhamentos, nem nada disso. Quando me propus a expor minha arte, ainda que o medo de não chegar a ninguém existisse, tive certeza de que se tocasse uma única pessoa nesse mundo, independente de quem fosse, já teria sido importante.

Enquanto o filme passa na cabeça, e junto dele todas as vezes que decidi parar de escrever, minhas lágrimas não se seguram, meu corpo treme, meu coração agradece por ter persistido. Não é fácil dividir emoção com tanta gente e, às vezes, preciso me reencontrar sozinha.

No entanto, quando sento aqui nesse canto iluminado para escrever pra vocês, todas as vezes que faço isso, volto um pouco mais pra dentro de mim para que possa ser também de vocês. E divido as palavras que saem do meu coração com quem quiser tocar minha alma e me permitir tocar a sua.

À menina que me mandou essa mensagem, e obviamente respeitarei o anonimato que pediu, agradeço a chance que me deu de saber o que fiz por ela. E diante de lágrimas e sorrisos, de certezas e arrepios, e de um pouquinho de medo, eu peço a vocês que me contem sempre que isso acontecer.

Não é para que eu coloque em um mural, podem ter certeza. É só uma forma de Deus me mostrar que estou no caminho certo, que nasci pra fazer isso e que nenhum cansaço ou temporal vai redirecionar esse percurso que assumo com meus leitores, com meus amigos, com meus amores.


Ju Farias

Não nasci poeta, nasci amor e, por ser assim, virei poeta. Gosto quando alguém se apropria do meu texto como se fosse seu. É como se um pedaço que é meu por direito coubesse perfeitamente no outro. Divido e compartilho sem economia. Não estou muito preocupada com meus créditos, eu quero saber mesmo é do que me arrepia. Eu só quero saber o que realmente importa: toquei alguém? É isso que eu vim fazer no mundo.

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