Só é livre quem é consciente. O que é ser consciente? É ver as coisas como elas são.
Livres do filtro de opiniões, livres dos impulsos, livres das reações, livres, portanto, das memórias, ideias, pensamentos, julgamentos e projeções. É ver claramente.
É abandonar o padrão de ação, deixar de repetir os mesmos hábitos, livrar-se do automático.
A pessoa quer mudar, mas continua fazendo sempre as mesmas coisas. É preciso estar atento às todas as programações mentais! São programas que vão se atualizando somente para corrigir pequenas falhas, para melhorar suas funções, mas para jamais mudar de programação. Um programa de computador deve manter sua programação. Um novo programa pode até ter novas funções, ser mais fácil de usar, mas é ainda um programa.
O que é um programa? É algo criado pela mente (sua ou de alguém) que mantém um conjunto de funções funcionando, ainda que inadequadamente, para termos algum tipo de caminho, mapa e assim algum tipo de segurança para funcionarmos. É preciso deixar de ter as programações para mudar, deixar de fazer as atualizações automáticas de segurança, é preciso não usar nenhum programa, sair do sistema para começar a conhecê-lo. Ter vontade de explorar, entender seu funcionamento, ver a necessidade de seu uso, o resultado; poder chegar à origem da criação, ver de onde tudo partiu e dali funcionar. Sem criar nenhum outro programa. A pessoa não quer chegar até aí, mas também já viu que usando os mesmos programas, ela não consegue estar satisfeita. O contentamento e a paz nunca chegam. Ela pensa: como vou funcionar sem programação?
Ela precisa ter visto que está na programação, precisa estar cansada de ver tudo sempre se repetindo: os conflitos, as dores, a ansiedade, o descontrole, a felicidade passageira, o medo, a insatisfação que sempre volta. Perceber que não há saída funcionando na programação. E precisa querer sair. A saída é justamente o entendimento de estar vivendo na programação.
Ter um jeito de funcionar só seu, sem programação, sem download, vivendo o novo, o único, a cada instante. Livre da programação do resto do mundo, das suas programações anteriores. Para mudar é preciso estar cansado de viver os ciclos de repetições da própria vida. É preciso querer viver de outra forma, largar as ideias preferidas, os planejamentos, as expectativas, tudo aquilo que já colocamos em prática muitas vezes e que não nos trouxeram a felicidade que esperávamos. Desconstruir as ideias pessoais e sociais. Observar os padrões que nos impomos e nos são impostos.
E o inconsciente? É a primeira programação instalada. São os impulsos, as dores, as memórias, o não realizado, a memória interpretada. O acúmulo de experiências e as interpretações que fizemos delas nos momentos que as vivemos. É usar o passado para interpretar o presente e tentar saber o futuro. É o desejo de não repetir os mesmos erros, mas que se repetem porque usamos a mesma programação. É ver as coisas de acordo com o nosso filtro e não como elas são.
No momento em que não tornamos consciente o que fazemos e somos, estamos acumulando mais material no inconsciente. Desse modo, não somos donos da nossa própria vida, mas dizemos que estamos nas mãos do destino. O destino só existe para quem funciona na mesma programação.
O inconsciente é aquele que nos faz dizer: sou assim mesmo, ou a nos justificarmos dizendo que fazemos isso ou aquilo por causa de situações do passado. É aquele que tem sempre uma justificativa para nossas ações, mas que não quer mudar. Quer continuar repetindo as mesmas situações para continuar confirmando sua identidade.
Não é matéria fácil tornar o que é inconsciente, consciente, mas para todo aquele que deseja mudar, é o único caminho.
O inconsciente é o desconhecido. O consciente não.
Deneli Rodriguez.
08.08.2017.