Talvez um dos maiores catalisadores de conversas desinteressantes seja o que eu gosto de chamar “conversa com o ego”. São aquelas conversas que as duas pessoas aparentemente estão trocando experiências, estão compartilhando histórias. E como é de se esperar, o interesse genuíno na fala do outro, aquele que faz a gente parecer criança ouvindo, prestando atenção com sincera intenção. Mas é aí que está a parte ausente.
Quando dois egos conversam entre si, parece que as duas pessoas estão em monólogos contando suas próprias façanhas.
– Esta semana comecei a correr e já estou sentindo os benefícios, sabe?
– Bah nem fala, eu tou para começar na academia há meses, prometi para mim mesmo.
– Ontem mesmo corri 5km!!
– Mas tu sabe que eu acho academia um saco. E o pior é começar. Mas semana que vem eu começo.
– Tu tem que comprar esse tênis aqui, é sensacional. Parece que não estou usando nada.
– Pois é, que legal! Cara, muito bom te ver, vamos nos falando!
– Claro, vamos marcar alguma coisa!
É mais ou menos assim que conversam dois egos. Basicamente duas pessoas falando consigo mesmas até acabar o assunto e se despedirem. Não existe troca. Não existe interação. Acho que todos já tivemos conversas assim. Eu sei que já fiz isso. Mas que droga, não concorda? Vamos usar o exemplo ali em cima. O que cada um realmente acrescentou para o outro? Cadê a empatia? Esse tipo de conversa não acrescenta para o relacionamento e nós acabamos usando a outra pessoa como um mero espectador para as nossas próprias reflexões.
Mas não é de propósito
Esse comportamento não é intencional, mas isso não é exclusivamente positivo. Da mesma maneira que não temos o intuito de falar somente de nós mesmos, como consequência significa que não nos damos conta de quando isso acontece. O que torna mudar muito mais difícil. Dar-se conta que fazemos é, então, o primeiro passo. E essas situações são bem evidentes, pois dificilmente essas conversas fluem. Geralmente acabam com um silêncio levemente constrangedor em que nenhuma parte sabe exatamente como prosseguir ou o que acrescentar. Aquele momento que desviamos o olhar do outro e encaramos o nada, sabe?
Se não está bom, mude
Também pode acontecer de nós percebermos que simplesmente aquele assunto genuinamente não nos agrada. Aqui não cabe forçar interesse. Minha dica é ser honesto consigo mesmo e mudar o assunto de maneira tranquila para uma direção que agrade a ambos, para que os dois possam contribuir. Até porque, quando estamos entediados com o tópico as perguntas e questionamentos simplesmente não surgem. Já perdi a conta de quantas vezes a única frase que brotava era algo similar a “pois é, isso é complicado” ou “bah que legal”. Em outras palavras “Realmente não sei como posso acrescentar aqui, mas não quero magoar teus sentimentos, então o melhor que encontrei foi isso”.
Melhor Comunicação -> Melhor relacionamentos
Como eu escrevi em um artigo anterior, relacionamentos saudáveis são chaves para a felicidade (https://equilibrioemvida.com/2017/04/chave-felicidade/). E para construir bons relacionamentos é preciso um pouco de altruísmo, interesse na outra pessoa e às vezes inclusive abdicar do nosso em favor do outro. Da mesma maneira, então, se relacionamentos são chaves para felicidade, comunicação é chave para bons relacionamentos.
A reflexão que eu quis compartilhar é de não desperdiçar oportunidades de se conectar com outras pessoas. Cada momento conta, simples assim. Quando dividimos algo com alguém que nos é importante, é exatamente porque a opinião daquela pessoa nos é valiosa. Mesmo que não tenhamos exatamente o que falar para ajudar de maneira objetiva, o carinho que passamos quando demonstramos interesse já é o suficiente. Por isso, por mais conversas interessantes!
Gabriel
Vida de Titã
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