Quando tinha 7 anos, me mudei para o interior do Rio Grande do Sul com meus pais. Para a cidade de origem deles, chamada Lajeado. Eu vinha da capital, Porto Alegre, com sua população acima de 1 milhão de habitantes, para os 70mil da “pequena” cidade de origem alemã.
O monstro que criamos (na nossa cabeça)
Eu não costumava ir ao parque brincar e jogar bola com outras crianças. Era perigoso demais. Mas em Lajeado, a história era outra. Todo dia meus pais iam trabalhar e falavam pra eu ir à pracinha jogar futebol com os outros meninos e meninas. Mas eles não tinham ideia de todos os imensos perigos que rondavam minha cabeça. “O que eles iriam pensar de mim?”, “será que iriam deixar eu jogar?”, “Eu não conheço nenhum deles”. Mas eu tinha um plano: eu iria esperar o dia ideal para me apresentar. Talvez quando eu conhecesse algum deles…
O ideal
Ah, e é exatamente sobre “o ideal” que eu queria conversar. Como ele aparece bem nas horas mais importantes. Vestibular, abrir um negócio, um canal no Youtube. Eu preciso me preparar melhor, ainda não estou pronto. Ou, ainda, a situação atual não é “a ideal”, melhor esperar.
Sorte a minha
Bem, sorte a minha, quando eu era criança nem sempre deixavam fazer o que queria. Um dia meus pais cansaram de esperar a minha proatividade em apresentar-me à galera na pracinha. De maneira gentil e nada sorrateira, a Dona Íria – senhora que ajudava na limpeza lá de casa de vez em quando – me chamou para dar uma volta. Disse que iríamos ao supermercado ou alguma desculpa parecida, não me recordo bem.
Mas aquele não era o caminho do supermercado. Puta merda, nós estávamos indo em direção à pracinha. Ficava uma quadra abaixo da minha casa, descendo o morro, não tinha como errar. Comecei a ficar nervoso, entendi o que estava prestes a acontecer. Antes que pudesse fugir, a dona Íria gritou para as crianças que estavam jogando bola “Hey, ele pode jogar junto?”.
O pior aconteceu
As crianças olharam para mim de cima a baixo. Começaram a me xingar, dizendo que eu não era amigo de ninguém. Falaram que eu iria estragar o jogo e que eu não poderia jogar com eles e me mandaram ir embora. Eu fiquei devastado.
Bem, isso não aconteceu. Era o que eu imaginava que poderia ter acontecido. Na realidade, eles disseram que sim, que eu iria jogar para o time “tal” e no fim do dia eu estava dividindo uma coca cola com trakinas (lanche saudável) com meu novo grupo de amigos.
Mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira…
Existe uma maneira incrível que nós nos sabotamos. Chama-se paralisia por análise. É a prática de pensar e ponderar a um ponto de congelar qualquer ação. Encobrimo-nos de possibilidades e medos para justificar a falta de ação. Não sabemos o suficiente para começar. Não é o momento ideal. Não tenho tempo.
Chega de masturbação mental
Existe no mundo das Startups um termo que se denomina produto mínimo viável. Ele é preconizado como sendo o produto que contém o mínimo de características necessárias para resolver o problema, tendo sido produzido pelo menor custo possível. Como estratégia de negócio, não é inteligente gastar milhões com o desenvolvimento de um produto para finalmente lançá-lo e então neste momento perceber que as pessoas não querem aquilo.
Na nossa vida não é diferente. Não é inteligente gastar nosso tempo esperando ou ponderando demais antes de tomar ação. Feito é, sim, melhor que perfeito. Obrigado Dona Íria.
“Perdemos 100% das chances em que não tentamos.”
Gabriel
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